A Geração Z, formada por pessoas nascidas entre meados da década de 1990 e 2010, apresenta uma queda significativa na frequência de relações sexuais em comparação com gerações anteriores. Segundo pesquisa do Instituto Karolinska (Suécia) em parceria com a Universidade de Indiana (EUA), 31% dos homens e 19% das mulheres, entre 18 e 24 anos, afirmaram não ter tido relações sexuais em um período de 12 meses. Em 2002, os índices eram de 18,9% e 15,1%, respectivamente.
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No Dia do Sexo, que acontece neste sábado (6), especialistas em saúde sexual, psiquiatria e comportamento, além de jovens da Geração Z, apontam múltiplos fatores para esse fenômeno, que vão desde mudanças tecnológicas até questões de saúde mental e econômicas.
Relações digitais
A hiperconexão digital é um dos principais fatores citados. A sexóloga Fabi Ernande afirma que, embora os aplicativos tenham facilitado o acesso a encontros, eles também reduziram a profundidade das relações.
— Essa geração prefere o celular ao presencial — diz.
Segundo ela, muitos jovens substituíram as primeiras experiências sexuais por interações online, como sexting — troca de mensagens e fotos com teor sexual — e sexo virtual.
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Júlia**, de 23 anos, relata que o flerte se tornou superficial:
— Hoje, demonstrar interesse virou curtir um story. As relações ficaram rasas.
Já Bruna*, de 25 anos, também observa que o uso excessivo de tecnologia pode atrapalhar a relação:
— Se a pessoa prefere ficar vidrada no celular, mesmo com o parceiro, isso afeta a conexão.
Pressão por desempenho e pornografia
A influência da pornografia é recorrente nas falas dos especialistas e dos jovens. A sexóloga Fabi Ernande aponta que a comparação com padrões irreais gera insegurança corporal e ansiedade de performance. Já Bruna* afirma que “as pessoas esperam que o sexo seja como nos filmes, mas tudo ali é encenado”.
O médico, psiquiatra e comunicador Jairo Bouer destaca, ainda, que essa pressão afeta a espontaneidade.
— Os jovens sentem que precisam performar bem, como se estivessem sendo avaliados — afirma.
Saúde mental e prioridades
Ansiedade, depressão e baixa autoestima também são fatores que impactam diretamente o desejo sexual. Júlia**, diagnosticada com depressão, relata que, em alguns momentos, não tinha disposição física para manter relações. Já Letícia**, estudante universitária de 22 anos, afirma que “a rotina centrada em trabalho e estudo reduz o tempo e a energia disponíveis para o sexo”.
O graduando em Engenharia de Computação em Araranguá, Fábio**, de 22 anos, concorda e considera que o sexo é prazeroso, mas secundário diante das exigências da vida adulta. A jovem Bruna* complementa:
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— Quando sobra tempo, as pessoas usam para descansar.
Conservadorismo e falta de privacidade
A permanência prolongada na casa dos pais é outro fator que influencia a vida sexual da Geração Z. Fabi Ernande aponta que a independência tardia, aliada ao alto custo de vida, dificulta a privacidade necessária para relações íntimas. Bruna* observa que, em famílias religiosas, especialmente no caso de mulheres, ainda há restrições quanto à sexualidade antes do casamento.
Já Júlia** destaca que, para pessoas LGBTQIA+, a falta de aceitação familiar pode limitar a vivência afetiva.
Redefinição da sexualidade
Apesar da queda nos números, especialistas afirmam que não há rejeição ao sexo, mas sim uma mudança na forma como ele é vivido. A sexóloga Fabi Ernande explica que a Geração Z valoriza experiências mais fluidas e menos centradas em rituais tradicionais — se conhecer, namorar, casar, ter filhos. O médico, psiquiatra e comunicador Jairo Bouer reforça que os jovens buscam equilíbrio entre desejo, saúde mental e outras prioridades.
A estudante universitária Letícia** resume: “Vida sexual saudável não depende de frequência, mas de experiências que fazem sentido para cada pessoa”.
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*Nomes alterados para preservar privacidade dos entrevistados
**Entrevistados preferiram se identificar apenas pelo primeiro nome
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