O assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, 53 anos, na quarta-feira (7), mexeu com os nervos dos haitianos que vivem em Florianópolis.
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O atentado foi dentro da residência oficial e também feriu a primeira-dama Martine Moïse, que foi levada para um hospital de Miami. A instabilidade política do país mais pobre das Américas aumentou a preocupação com os familiares que residem, em especial, na capital Porto Príncipe.
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É o caso de Jean Samuel Rosier, 37, que tem pais e irmãos na principal cidade haitiana. Rosier tem feito contato diário com os parentes, e diz que estão bem. Mas revela receio:
— Tenho preocupação sobre o futuro do país. O Haiti não tem condições e instituições sólidas para resolver os seus problemas. Conta-se com ajuda internacional, mas que normalmente sempre mantém ou agrava a condição — diz.
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Rosier trabalha na Cáritas Brasileira em um projeto voltado para imigrantes. Ele lembra que o haitiano é um povo resiliente e, por isso, tem esperança de que um dia ache uma saída, como aconteceu depois de mais de três séculos de escravidão, libertando-se do colonialismo europeu e elaborando a própria Constituição.
“O que pensar das famílias que não têm proteção das polícias?”
Para Prisca Saul, estudante de Engenharia Ambiental e Sanitárias, na Unisul, em Palhoça, a solução passa necessariamente pela união dos haitianos:
— Entendo que ajuda externa, ocorrido em outros momentos como epidemias e terremoto, seja importante. Mas chega um momento que as forças desses países vão embora, e a situação continua: a população, junto com os políticos e elite econômica, precisa definir que país deseja — diz Prisca.
Com os pais e irmãos morando numa cidade no Norte do Haiti, Prisca tem conversado por telefone com o pai:
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— O momento é de muita tristeza, de consternação mesmo. O assassinato de um presidente não é uma coisa simples, e gera insegurança em todos sobre os dias seguintes da nação — conta.
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Rose Athaina, 20, que veio ainda adolescente com a mãe para o Brasil, também preocupa-se com a falta segurança no país de origem:
— Se o presidente foi morto dentro da própria casa, o que pensar das famílias que não têm proteção das polícias?
Rose conta que elas têm conversado com os familiares, e que a situação é muito grave. Gangues dominam bairros na região de Porto Príncipe. Estradas foram bloqueadas e mercados fechados. A comida, que já falta, se tornou mais escassa ainda.
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Rose é auxiliar de atendimento em uma loja que comercializa produtos veterinários. Explica que gosta do que faz e acha importante a pessoa ter um trabalho para o sustento. Mas sugere que a vida do imigrante possa ser melhor.
Acredita que por ser negra e estrangeira sofra preconceito nem sempre expressado com palavras:
– A gente percebe no olhar – diz a moça que se empenha para terminar o Ensino Médio.
Escravidão, pobreza, terremoto
O assassinato do presidente Jovenel Moïse foi mais um golpe para um povo que sofre com a fome e que sequer recebeu uma dose de vacina contra o coronavírus.
Esta é a quarta vez que um presidente é assassinado no Haiti. No caso de Moïse, conforme a esposa dele relatou às polícias, um bando chegou atirando, sem chance de defesa.
O político foi morto com 12 tiros.
Para o Fundo das Nações Unidas (Unicef), o Haiti está imerso na “pior crise humanitária dos últimos anos”. A economia depende em 75% da cooperação internacional, sendo o Haiti o 170º país entre os 187 avaliados pela ONU com o índice de desenvolvimento humano.
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Saques, violência, mortes
A instabilidade política fez com que em 35 anos o país tenha tido 20 governos. O terremoto de 12 de janeiro de 2010 matou mais de 300 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados. Também acentuou a crise migratória.
A polícia haitiana afirmou que um esquadrão estrangeiro assassinou o presidente do país. Esta é a quarta vez que um presidente é assassinado no Haiti. Pelo menos 28 homens foram identificados e 17 presos até a noite de sábado.
A situação de Moïse vinha grave desde 2018, quando surgiram alegações de corrupção no governo. Nos últimos meses houve manifestações que muitas vezes resultaram em saques, violências e mortes.
O governo interino pediu ajuda internacional, mas há resistência interna para que tropas estrangeiras ocupem novamente o país. Parte da população não aceitou pacificamente a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), a partir de 2004, comandada pelo Brasil, e se queixa de violências dos militares da ONU.
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