Três instituições de Joinville, Blumenau e Brusque foram prejudicadas devido ao esquema criminoso que desviou R$ 4 milhões em doações. Em dois anos e meio, apenas R$ 800 mil foram doados aos hospitais Bethesda, Azambuja e Misericórdia Vila Itoupava. Três pessoas foram presas, nesta sexta-feira (5), suspeitas de participarem do golpe.

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Instituições afetadas

Hospital Bethesda

Em Joinville, o Hospital Bethesda foi o alvo do grupo criminoso. Em nota, a instituição afirmou que identificou irregularidades em repasses realizados em seu nome, cerca de seis meses atrás, e reuniu informações e provas para repassar às autoridades. Desde então, a unidade confirma que tem colaborado com as investigações.

“Reforçamos que o Hospital Bethesda foi vítima dessa prática criminosa, assim como outras entidades de saúde de Santa Catarina. Lamentamos profundamente que recursos voltados ao cuidado da população tenham sido alvo de fraudes. Faz-se importante ressaltar que as doações, desde então, são feitas de maneira segura e sendo fiscalizadas pela Instituição Bethesda”, revela o médico e diretor executivo do Hospital Bethesda, Lúcio Slovinski.

Veja fotos da operação

Hospital Azambuja

Em Brusque, cidade do Vale do Itajaí, o hospital vítima da fraude é o Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux, conhecido como Hospital Azambuja. De acordo com a instituição, toda a gestão das doações era de responsabilidade exclusiva da empresa contratada, cabendo a ela arrecadar e repassar os valores ao hospital.

“O hospital forneceu integralmente à Polícia Civil toda a documentação solicitada e segue colaborando de forma transparente com as autoridades. O Hospital Azambuja lamenta profundamente que seu nome tenha sido utilizado em práticas ilícitas e que recursos destinados à saúde tenham sido alvo desse tipo de ação”, afirmou a instituição em nota.

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O gestor da instituição, Gilberto Bastiani, ainda destacou que o apoio da comunidade sempre foi fundamental para a manutenção do hospital e sua história na cidade. “Cada contribuição direta recebida pelo hospital é cuidada com responsabilidade e transforma-se em melhorias concretas para quem precisa de atendimento”, afirma.

Hospital Misericórdia Vila Itoupava

Já em Blumenau, cidade do Vale do Itajaí, o Hospital Misericórdia Vila Itoupava também foi vítima do esquema. De acordo com a administração, a unidade foi surpreendida com a operação no início da manhã desta sexta-feira (5).

— Foram entregues todos os documentos que a polícia pediu. Os policiais falaram um pouco a respeito do que se tratava, o que nos surpreendeu bastante. A situação surpreende e entristece, porque, além de prejudicar as pessoas envolvidas, também [afeta] o próprio hospital que está vinculado com o nome nessa situação. A partir disso, o nosso jurídico foi comunicado do ocorrido e, agora, vamos aguardar os desdobramentos — afirmou o hospital ao NSC Total.

Como funcionava esquema criminoso

operação Falso Samaritano prendeu o empresário Slaviero Mario Bunn, responsável pela Slaviero Benefits, empresa contratada pelas instituições. A empresa joinvilense, alvo da operação, se define como especialista em captação de recursos para Instituições Filantrópicas e contratou o serviço oferecido pela Celesc para receber as doações por meio das faturas de energia elétrica.

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Em 2016, a Slaviero estabeleceu o primeiro contrato com Hospital Bethesda de Joinville, prejudicado pelo esquema de estelionato. Segundo a Polícia Civil, a empresa funcionava como uma terceirizada, que ligava para potenciais doadores que aceitam fazer doações à instituições por meio de cobranças em fatura.

O mesmo modelo de convênio é adotado com diversas entidades, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, APAEs, Rede Feminina de Combate ao Câncer, hospitais filantrópicos, Fundação Pró-Rim, Legião da Boa Vontade, entre outras.

Segundo o Hospital Bethesda, uma das vítimas do esquema, o fluxo do repasse dos recursos acontece diretamente da Celesc para a instituição a receber o pagamento das doações arrecadadas. Para que aconteça esse repasse, cada empresa é identificada por códigos, para organização interna pela companhia de energia.

No entanto, a terceirizada contratada pelo Bethesda repassava códigos diferentes daqueles correspondentes às instituições que deveriam receber as doações. Ou seja, a empresa intermediadora fazia o contato com os doadores, recebia os dados em nome do Bethesda, mas ao enviar a lista para a arrecadação na fatura da energia elétrica, o código correspondia a outra instituição, que recebia valores de maneira indevida.

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Assim, uma outra instituição de Joinville, recebia de forma fraudulenta as doações que deveriam ser destinadas às instituições filantrópicas. Além disso, a empresa também burlou o sistema da Celesc para inserir cobranças não autorizadas pelos consumidores.

— Tiveram pessoas que sofreram desconto duplicado, teve pessoa que autorizou um e recebeu outro [desconto]. Teve pessoas que, efetivamente, tiveram descontados [doações] para o hospital Bethesda e, de repente, tinha desconto de outras instituições que elas desconheciam. Mas às vezes, no dia a dia da conta de luz, R$ 10, R$ 15 não faz tanta diferença. Aí não foi percebido — revela o delegado Vinicius Ferreira, da Delegacia de Combate a Estelionatos de Joinville.

O que diz a Celesc

Por meio de nota, a Celesc afirmou que não participa da gestão nem da destinação dos recursos arrecadados. Além disso, também diz se considerar vítima do esquema, já que seu serviço foi utilizado de forma indevida. Confira abaixo a nota na íntegra:

A Celesc esclarece que atua apenas como meio de arrecadação em doações via fatura de energia, repassando integralmente os valores autorizados pelos consumidores às entidades conveniadas, como bombeiros voluntários, APAEs e outras instituições que prestam serviços essenciais à sociedade.

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A companhia não participa da gestão nem da destinação dos recursos arrecadados.

No caso investigado pela Polícia Civil, foram identificadas empresas que, de má-fé, ligavam para consumidores solicitando doações, mas não repassavam integralmente os valores às instituições.

A Celesc também se considera vítima, já que seu serviço foi utilizado de forma indevida, estando essas empresas atualmente sob investigação das autoridades competentes.

Importante ressaltar que, antes mesmo da operação policial, a companhia já havia adotado medidas preventivas, como reforço na fiscalização dos convênios, implementação de novos controles e envio de aviso ao consumidor sempre que há inclusão de débitos de doação nas faturas — ações que ampliam a transparência e permitem identificar eventuais irregularidades.

A Celesc vem colaborando com a Polícia Civil desde o início das investigações e reforça que o consumidor pode cancelar ou rever sua autorização de doação a qualquer momento pelos canais oficiais da companhia.

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A Celesc reafirma seu compromisso com a ética, a transparência e a confiança da sociedade.

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