Joinville está sendo representada na Copa do Mundo de Xadrez 2021. Alexandr Fier, de 33 anos, está em Sochi, na Rússia, disputando sua sexta copa, que começou nesta segunda-feira (12). Ele é um dos três Grandes Mestres de Xadrez do Brasil participando do torneio.
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Fier joga xadrez desde os quatro anos e, desde então, compete em torneios ao redor do mundo. Ele recebeu o título de Grande Mestre em 2007, sendo um dos enxadristas mais jovens a fazê-lo. Atualmente, o joinvilense é o terceiro melhor jogador do Brasil, e 349° no mundo.
Na Copa do Mundo, Fier estreou nesta segunda-feira contra o eslovaco Jergus Pechac. A primeira partida terminou em empate, e mais duas serão disputadas nos próximos dias. Se vencer o duelo, o catarinense terá um grande desafio: o indiano Santosh Gujrathi Vidit, número 22 do mundo.
Em entrevista exclusiva ao AN, Fier conta como começou a carreira no xadrez, suas estratégias e os momentos mais importantes na trajetória até hoje. Confira:
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Como a sua história com o xadrez começou? Como você conheceu o jogo e ganhou interesse?
Eu sempre fui uma criança muito curiosa, que nem toda criança, e meus pais gostavam de brincar em casa, eles jogavam por diversão. Sempre tinha um tabuleiro por perto e eu sempre tentava pegar as peças pra brincar. Então com 3, 4 anos, eles me ensinaram a jogar, e eu peguei gosto pela coisa. Depois eu comecei a jogar torneios no clube, meu pai me levava, mas no começo eu jogava mais em casa. Os torneios eu comecei com 5, 6 anos.
Quando o xadrez deixou de ser um hobby e passou a ser algo profissional? Como foi o processo de ingressar em campeonatos e aprender as técnicas do xadrez competitivo?
Eu acho que xadrez nunca foi um hobby. Desde quando eu era pequeno, desde quando eu tinha 7, 8 anos, eu sempre quis ser um jogador de xadrez mesmo, eu nunca quis ser outra coisa da vida. Então eu não era profissional na época mas já tinha aquela vontade. Comecei a jogar campeonatos oficiais com 7 anos, joguei no brasileiro até os 10, e no pan-americano também. Com 8 anos eu já ganhei o brasileiro de até 10 anos e o pan-americano, então desde cedo eu já jogava um xadrez um pouco mais sério. Mas quando eu terminei o ensino médio que realmente eu pude me dedicar a só o xadrez, só os campeonatos, porque antes eu tinha que ir pro colégio então não era tão fácil. Mas eu diria que mais ou menos quando eu joguei minha primeira olimpíada que foi a mudança de um jogador de clube pra um jogador profisisonal, na olimpíada da Espanha, que aconteceu em 2004.
Até hoje, qual você diria que foi o momento mais importante da sua carreira como jogador de xadrez?
Pode ter sido essa olimpíada de fato, mas um dos pontos que mais me marcou realmente foi quando eu ganhei meu primeiro pan-americano, quando eu tinha 8 anos. Foi um dos momentos de maior felicidade. E essa olimpíada foi um torneio sensacional, quando eu consegui meu título de Mestre Internacional. Outra coisa que eu sempre lembro é quando eu consegui passar do primeiro match na minha segunda Copa do Mundo, na Rússia. Eu estava jogando contra um jogador que tinha um ranking muito maior que o meu, então ele era teoricamenteo favorito no match, mas eu consegui ganhar um match muito bom.
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Hoje em dia, como você se prepara para uma partida de xadrez? Na véspera do jogo você fica praticando ou prefere relaxar?
Eu normalmente vejo as partidas dos meus adversários. Tento entender como ele pensa, as fraquezas dele, tipos de jogos que ele gosta e não gosta, pra tentar criar esse perfil e a partir daí criar minha estratégia de jogo na partida. Então boa parte da minha preparação de jogo é decidir qual vai ser a minha estratéga de jogo, como eu vou começar a partida e tentar entender como meu adversário funciona. Então eu busco em uma base de dados, olho todas as partidas disponíveis, ou pelo menos as últimas, e trabalho a partir disso. Mas é importante também nao gastar tanta energia com isso, nessas 3, 4 horas de partida.Por isso eu tento não me preparar mais do que 2, 3 horas. No caso desta Copa do Mundo, como eu tenho dias e dias de antecedencia e já sei com quem eu vou jogar faz tempo, eu consigo fazer uma preparação muito mais detalhada. E também eu gosto muito de logo antes da partida tentar dar uma relaxada, escutar um pouco de música, dar uma desestressada pra chegar com a “cabeça inteira” na partida.
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Quais suas expectativas para a Copa do Mundo? Está otimista?
Eu sei que é o campeonato mais difícil que eu jogo. Esta é a minha sexta copa, então eu tenho uma ideia de como esses matchs funcionam. Sempre tenho expectativa de partidas difíceis e bem lotadas e sempre com vontade muito grande de ganhar, eu sempre quero passar pra próxima fase, que é o maior orgulho possível. Nunca é fácil mas nunca é impossível.
Atualmente, como você estuda a estratégia de jogo dos seus oponentes? Tendo isso em mente, quais suas expectativas para a partida de estreia com o eslovaco Jergus Pechac?
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Na estréia contra o Pechac eu entendo que ele é um jogador novo, que tá subindo bastante, então ele tá bem animado, mas por outro lado não é um jogador tão experiente. Eu vejo que ele tem um estilo de jogo que ele gosta muito, que são partidas mais lentas, mais de manobras, um pouco mais devagar. Então a minha tática no match vai ser entrar em uma partida mais dinâmica, mais complicada, criar uma bagunça no tabuleiro pra conseguir tirar ele da zona de conforto. É muito importante conseguir entrar em um tipo de jogo que eu jogo melhor que ele, que são essas posições de ataque e defesa.
Você possui uma estratégia de jogo padrão? Ou seu modo de jogo varia de acordo com o oponente?
Eu tento variar muito o jeito que eu começo as partidas porque como eu jogo muitos torneios, por volta de 20 torneios por ano, eu preciso variar muito. Porque assim como eu me preparo para os meus adversários, eles se preparam para mim. Então para não ser um alvo muito fácil de preparações eu preciso ter um repertório de aberturas bem flexível. Mas, no geral, eu sou um jogador bastante agressivo, eu gosto de ir pra cima.
Quais as jogadas que você usa com mais frequência? Por que elas são sua principal escolha?
Teoricamente eu gosto de começar com o peão do rei avançando duas casas mas, como eu disse, preciso variar bastante. Minhas escolhas normalmente são baseadas no repertório do meu adversário.
*Sob supervisão de Lucas Paraizo