A rodovia tem bom asfalto, conta com acostamento largo e boa sinalização. Divisórias de concreto e canteiros centrais passam segurança contra o risco de batidas frontais. A pista é duplicada. Em alguns trechos de subida, chega a ter uma terceira faixa, o que facilita a ultrapassagem de caminhões que rodam à direita. Os veículos de carga, aliás, passam por balanças paralelas ao trecho. Há ainda pistas auxiliares que dão acesso da via principal às cidades no entorno, que oferecem serviços aos motoristas.

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A sensação de quem roda por grande parte da BR-101 em Santa Catarina é de que a viagem rende. Ela foi considerada justamente a melhor rodovia do Estado em ranking da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de novembro deste ano, elaborado após a entidade ter rodado 110 mil quilômetros de estradas pavimentadas no país. Na régua geral, foi a 22ª de 510 trechos ranqueados.

A reportagem do NSC Total percorreu em uma viagem de 2.339 quilômetros a BR-101 e as outras 15 rodovias catarinenses ranqueadas pela pesquisa, para conferir in loco a situação de todas elas. A jornada que atravessou o Estado do litoral à fronteira com a Argentina, tocando as divisas com o Paraná e o Rio Grande do Sul e passando por 96 municípios, durou oito dias, entre o fim do mês passado e o início de dezembro. Ao final, foram visitadas 19 rodovias, incluindo três não elencadas pela CNT.

Piores rodovias de SC têm péssimo asfalto, abandono, insegurança e sinalização ruim

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O trecho da BR-101 em Santa Catarina, que atravessa o litoral de Garuva a Passo de Torres, é concessionado. Da divisa com o Paraná até Palhoça, ele é gerido pela Autopista Litoral Sul, controlada pela Arteris. De lá ao Rio Grande do Sul, a pista fica a cargo da CCR Via Costeira.

A segunda melhor rodovia de Santa Catarina na avaliação da CNT, a BR-116, é outra sob concessão no Estado, da Autopista Planalto Sul. Ela também corta verticalmente Santa Catarina, mas na região serrana.

SC tem duplicações lentas de BR’s e licitações desertas nas estradas estaduais

Em seu estudo, a CNT identifica que, historicamente, trechos sob concessão têm melhores condições do que os que estão sob gestão pública. Em 2022, 69% dos concessionados no país foram considerados ótimos ou bons, índice que cai a 24,7% no caso dos públicos — o especial KM por KM identificou que a regra se mantém em Santa Catarina ao circular também pelos piores trechos do Estado.

A entidade atribui isso aos investimentos serem maiores nas rodovias pedagiadas. Em 2021, ano com dados consolidados mais recentes, cada quilômetro concessionado recebeu R$ 404,15 mil em investimentos, valor que despencou para R$ 113,73 mil nas estradas públicas federais.

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Rodovias de SC mobilizam orçamento incerto, novos modais e concessões

A título de comparação, a BR-282, a maior rodovia de Santa Catarina, com 653 quilômetros e gerida pelo poder público, recebeu cerca de R$ 696 milhões em investimentos de 2012 ao ano passado, uma média anual de R$ 106,6 mil por quilômetro no período, segundo dados do Dnit.

Já a Autopista Litoral Sul colocou R$ 5 bilhões nos 405 quilômetros sob sua concessão, que incluem também parte das BR’s 116 e 376 no Paraná, em quase 15 anos (média anual de R$ 823 mil/km); a Autopista Planalto Sul, que se estende por 413 quilômetros e também tem trecho paranaense, investiu R$ 1,8 bilhão no mesmo período (média anual de R$ 290 mil/km); e a CCR Via Costeira aplicou R$ 300 milhões em 220 quilômetros com dois anos e meio de concessão (média anual de R$ 545 mil/km).

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Em Santa Catarina, mesmo os trechos concessionados, no entanto, têm gargalos. Na BR-101, a viagem a bordo do carro do NSC Total rendia desde Itajaí ainda que debaixo de chuva fina, mas parou em um congestionamento na Grande Florianópolis. O motivo da vez era um acidente na altura do Km 201, em São José, entre uma moto e um carro de passeio. Não houve feridos.

A cena é comum a outros perímetros urbanos da BR-101, que, além de funcionar como corredor logístico, absorve o fluxo de turistas do litoral catarinense e o trânsito urbano de seis das 10 cidades mais populosas do Estado — Joinville, Itajaí, São José, Florianópolis, Palhoça e Criciúma. Por conta disso, o trecho tem sob discussão alternativas que possam aumentar a sua capacidade, como o recente plano de construir uma rodovia estadual que seguiria paralela à via federal do Norte Catarinense à Biguaçu.

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Há ainda outro projeto bem mais antigo para desafogar a BR-101, que deveria ter sido entregue em 2012, mas segue até hoje em obras. Trata-se do contorno viário da Grande Florianópolis, uma pista alternativa de 50 quilômetros para veículos de carga que parte de um desvio na BR-101 em Governador Celso Ramos, por onde a reportagem passou, atravessa Biguaçu e São José, e volta à rodovia federal em Palhoça. A Arteris prevê o término hoje para dezembro de 2023.

Já na BR-116, que tem bom asfalto, acostamento amplo e boa sinalização, o gargalo fica por conta da pista simples na maior parte do trecho. Na ocasião em que rodou pela rodovia, a reportagem cruzou por uma fila gigantesca de caminhões que se estendiam da subida à Serra, na altura do km 100, ao km 76.

Veja imagens das histórias das melhores estradas de SC

Trânsito chega a ficar paralisado na BR-101 em gargalos urbanos, como na Grande Florianópolis (Foto: Tiago Ghizoni/DC)
BR-116 tem boas condições de pista, mas tem filas de caminhões em pista simples (Foto: Tiago Ghizoni/DC)
Reportagem encontrou congestionamento de cerca de 25 quilômetros na BR-116 (Foto: Tiago Ghizoni/DC)
Caminhão na boa SC-157 derramou diesel na pista sem ter onde parar após ter quebrado (Foto: Tiago Ghizoni/DC)
Caminhoneiro Luiz Wilson LeitE aguardava socorro sem sinal de celular nem serviços à beira da SC-157 (Foto: Tiago Ghizoni/DC)

No meio do congestionamento com veículos já parados, Cezar Cembalista, que levaria pneus em uma van até Timbó Grande, relatou ter demorado uma hora e meia para chegar de Papanduva até ali — no sentido contrário, livre de filas, o carro do NSC Total levou 25 minutos.

— É uma rodovia bem boa, é pedagiada. É só a questão do trânsito que está bem parado, mas vale à pena pagar pela pista — ponderou o motorista, que circula diariamente pelo trecho.

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Ele atribuiu a fila às chuvas que, na ocasião, também deixaram interdições na BR-101 na altura do Morro dos Cavalos, em Palhoça, e na BR-376 em Guaratuba, na subida de Santa Catarina para Curitiba, onde um deslizamento de terra matou duas pessoas — ambos os trechos são também geridos pela Arteris.

A reportagem também passou pela BR-116 no dia seguinte, desta vez na direção oposta, a que tinha a procissão de caminhões na manhã anterior. O trecho seguia com fluxo intenso, mas fluindo melhor. A lentidão maior se deu na subida à Serra, quando veículos de carga circulavam a 20 km/h na pista simples.

O carro do NSC Total ainda rodou por trechos em boas condições de rodovias estaduais. O melhor deles foi o da SC-486 entre Itajaí e Brusque. A pista que dá acesso à BR-101 é, assim como a federal, duplicada. Ela ainda conta com bom asfalto, sinalização adequada e divisória entre os dois sentidos, além de ciclovia e redutores de velocidade nos perímetros urbanos.

No Meio-Oeste, o trecho da SC-355 entre Videira e Lebon Régis, por onde circulam caminhões carregados de toras de pinus, que compõem a paisagem com plantações de milho e trigo, também apresenta bom asfalto e sinalização adequada. A pista, contudo, é simples e tem muitas curvas.

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Mais ao Oeste, a SC-157, que se estende de São Lourenço do Oeste, na divisa com o Paraná, a Chapecó, tem bom asfalto e, apesar de ser simples, conta com terceira faixa nas subidas.

Ainda assim, a estrada tem pontos a melhorar: os principais deles são o acostamento reduzido e a falta de serviços. Na altura de Quilombo, quando a rodovia chega à ponte que cruza o rio Chapecó, a reportagem encontrou Luiz Wilson Leite parado com seu caminhão na lateral direita, tomando parte da primeira faixa da descida. Uma mangueira de diesel se rompeu no motor, e o caminhoneiro derramou o óleo na descida até encontrar um lugar minimamente seguro para parar, mas não ideal para isso.

— De cima da serra até aqui, o único lugar que achei foi esse, porque não tinha onde parar. A rodovia está boa, pode ser que o meu caso aconteceu onde não tinha um ponto de parada — lamentou.

Leite ainda não havia conseguido chamar socorro do local, sem sinal de celular e isolado entre plantações e áreas de mata. O caminhoneiro esperava por um agricultor que havia passado antes por ali para que lhe trouxesse ao menos água. De volta à estrada, a reportagem voltou a ter rede só nove quilômetros depois e, a 16 dali, encontrou um posto de combustíveis, já dentro da pequena cidade de Coronel Freitas. Foi esta a melhor rodovia pela qual o carro do NSC Total circulou na região.

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Veja vídeo sobre como foi a viagem