Entre 2020 e junho de 2025, Santa Catarina registrou 1.016 casos de tentativas de feminicídio, segundo dados divulgados à NSC pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) através da Lei de Acesso à Informação (LAI). Somente neste ano, o Estado registrou 87 crimes deste tipo, com cerca de quatro vítimas por semana. A maioria das ocorrências (53%) aconteceu nos finais de semana ou feriados.
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Amanda* é uma das mulheres que fazem parte das estatísticas de tentativa de feminicídio em Santa Catarina. Ela sofreu violência física e psicológica por anos, chegando a denunciar algumas vezes. Até, que um dia, após um episódio de agressão, ficou internada em um hospital por uma semana.
— Eu fiquei um pouco debilitada. Não levo uma minha vida normal devido a minha perna. Porque eu tenho placa, eu tenho parafusos também, então me debilitou um pouco […] Ele não saía, eu chamava a polícia, a polícia vinha, ele saía correndo, a polícia ia embora, ele voltava de novo — relata.
Além de Amanda, centenas de mulheres sofreram tentativas de assassinato nos últimos anos em Santa Catarina. Segundo dados da SSP, foram 145 casos em 2020, saltando para 232 em 2023. Em 2024, o Estado registrou 209 casos.
Até junho de 2025, 87 mulheres quase perderam a vida em razão de gênero, sendo que 53% dos casos foram registrados durante os finais de semana e feriados.
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De acordo com Patrícia Zimmermann, delegada e coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami) de Santa Catarina, o maior número de ocorrências durante o período pode estar ligado ao aumento do consumo de álcool e do convívio entre as pessoas.
— A gente tem visto que muitos desses crimes ocorrem quando as pessoas têm a ingestão de bebida alcoólica e quando as pessoas assistem esses momentos de discussão. É muito relacionado. O que é nesses momentos que os casais estão junto é que ocorre essa explosão, a tensão. Então, são situações de violência que já vem acontecendo há algum tempo e que, no momento em que há esse desentendimento, há essa tentativa de feminicídio — explica a delegada.
Tentativas de feminicídio em SC entre 2020 e 2025
- Até junho 2025: 87 ocorrências
- 2024: 209
- 2023: 232
- 2022: 182
- 2021: 161
- 2020: 145
Mais de 15 mil medidas protetivas pedidas em 2025
Flagrantes dessas tentativas de assassinato não faltam em Santa Catarina. Em julho deste ano, uma mulher andava de bicicleta quando foi atropelada pelo ex-namorado, em Três Barras, no Norte do Estado. Em abril, outra mulher teve o rosto desfigurado e precisou se fingir de morta para escapar das agressões no Vale do Itajaí.
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Entre os mecanismos para proteger as vítimas estão as medidas protetivas. De acordo com o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), entre janeiro a junho deste ano, foram quase 15.908 pedidos. Em 2024, foram 30.234 durante todo o ano.
— As medidas protetivas, elas devem ser solicitadas pela mulher sempre que ela se encontrar diante de uma situação de violência. É bom frisar que essa violência não precisa ser apenas a violência física. Ela pode ser uma violência psicológica ou até violência patrimonial — diz Raphael Barbosa, juiz-corregedor do TJSC.
Além de solicitar medidas protetivas, às mulheres vítimas de violência também podem buscar ajuda em abrigos e grupos de apoio instruídos pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (CEVID), como orienta a coordenadora do núcleo Chimelly Marcon:
— Havendo risco de vida nós sempre recomendamos que toda a mulher busque um local de segurança. Se não houver uma rede de apoio familiar ou de amigos próxima, que busque na sua comarca identificar qual o local que hoje compreende o abrigo para o acolhimento emergencial. É importante que as vítimas saibam que existe um serviço de atendimento e acompanhamento psicossocial.
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Reportagem especial fala sobre as marcas do feminicídio em SC
Em março, o NSC Total lançou a reportagem especial “Cicatrizes” que, dividida em quatro partes, mostra detalhes dos números de Santa Catarina e conta histórias de famílias que foram massacradas pela violência doméstica. A reportagem também detalha como a legislação avançou nos últimos anos e o que ainda falta para que as mulheres se sintam protegidas, sem medo de morrerem por simplesmente serem mulheres, provocando uma reflexão sobre o crime e apontando que, sem educação e mudança de comportamentos, a sociedade vai continuar matando mulheres.
A produção durou cinco meses e foi feita a 12 mãos de mulheres, sendo cinco jornalistas e uma designer. Além do relato de parentes de vítimas, a reportagem também mostra a história de mulheres que se reergueram após episódios violentos e hoje ajudam outras mulheres. Especialistas e o poder público também foram ouvidos com o objetivo de trazer possíveis soluções para diminuir os índices.
O leitor pode conferir a reportagem completa através do link.
Conheça os tipos de violência e como pedir ajuda
Antonietas
Antonietas é um movimento da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

*Nome fictício para preservar a identidade da vítima.
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