Impotência e revolta. Esses são os principais sentimentos dos pais das crianças matriculadas em uma creche particular de Florianópolis, investigada por suspeita de maus-tratos. A polícia começou a ouvir as famílias das vítimas nesta terça-feira (5). A unidade de ensino, no entanto, nega as acusações. 

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— Me senti impotente [depois de saber dos maus-tratos]. São crianças, seres indefesos — conta a mãe de uma das vítimas, Adriana Martins Pereira. 

Ela conta que as primeiras reclamações da filha, de quatro anos, ocorreram devido à alimentação. Isto porque a menina dizia à mãe que estava com fome, mesmo tendo jantado na escola. 

— Às 16h30min, ela recebia a jantar. Porém, quando eu pegava a minha filha [na creche], ela me pedia comida, [dizia] que não tinha jantado, e aquilo me causava uma estranheza. Quando eu chegava em casa, ela comia um pratão, sempre me acompanhava — explica Adriana. 

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Dias depois, outros sinais começaram a surgir. Ela conta que a filha começou a apresentar nervosismo e chorava toda a vez que se falava na escola. Ao questionar as professoras sobre as crises, Adriana diz que elas diziam que “tudo era inventado” pela menina. 

Porém, há 15 dias, um fato acendeu um alerta para a contadora. A filha chegou em casa com braço machucado e, ao ser questionada, disse que a professora teria “esbarrado” nela. 

— Depois uma ex-funcionária me contou que, na verdade, uma das professoras teria empurrado ela — relembra. 

O estopim foi na quarta-feira passada. Ao buscar a filha na escola, uma das professoras informou que trocou a calça da menina porque ela teve um “escapa” de urina. Mas, ao abrir a mochila e ver a roupa, a mãea percebeu que a história não era essa. 

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— Ela me disse “mãe, a ‘profe’ me deixou trancada dentro da sala, eu gritei e pedi socorro, mas não abria a porta”. Depois, eu soube por uma ex-funcionária que ela ficou mais de uma hora lá trancada e o motivo foi porque ela dizia que minha filha era fofoqueira — conta. 

 Por conta dos traumas, inclusive, ela tem procurado um psicólogo para a filha. 

Famílias esperam por justiça

Outra mãe, que não quis se identificar, descreve que a descoberta a respeito dos maus-tratos foi “horrível”. Ela soube por meio de uma ex-funcionária, que mostrou imagens das supostas agressões. 

— Ela me disse que me procurou porque tinha muito medo de que um dia me ligassem dizendo que minha filha estava morta por sufocamento — diz a mulher que prestou depoimento nesta terça-feira. 

Ela alega, ainda, que o que espera é justiça pelo o que aconteceu não só a filha dela, mas também com as outras crianças. 

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— Não vou ser hipócrita que não quero ela presa. Mas o meu sentimento é de que ela nunca mais encoste em uma criança — finaliza.

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Denúncias de maus-tratos ocorreram em dezembro

O Conselho Tutelar informou que esteve na creche mais de uma vez, sendo a última em maio deste ano, mas não flagrou situações de maus-tratos nem crianças machucadas.

Ainda assim, o órgão disse ter advertido a proprietária em dezembro do ano passado para que não houvessem episódios de violência contra as crianças após ter recebido denúncia de uma outra ex-funcionária.

A Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis disse, em nota, que recebeu as denúncias e que faria uma visita protocolar ao local, ainda que já esteja fechado.

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O Conselho Municipal de Educação disse ter enviado ofício à pasta de educação no município para que haja o devido acompanhamento do caso. Ele pode ainda criar uma comissão própria para apurar as denúncias.

Um inquérito também foi aberto na Polícia Civil, que já iniciou as investigações. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também acompanha o caso. 

O que diz a direção da creche

As primeiras denúncias sobre a creche, que vieram a público na segunda (4), foram acompanhadas de vídeos em que uma mulher aparece tentando abafar o choro de uma bebê com uma coberta. Sem conseguir acalmá-la, ela xinga a criança.

Já na ocasião, a defesa da creche negou a veracidade do vídeo, o que voltou a reforçar em novo posicionamento nesta terça (5).

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No comunicado, diz ainda que não houve qualquer ato ilícito nas dependências da escola, que o local esteve em funcionamento desde 2016 sem receber reclamações e que a direção está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.

Afirmou também que a creche sempre contou com cozinheira própria e acompanhamento nutricional para atender os alunos.

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