A luta do médico Renaud Pimentel Frazão Filho contra as consequências do coronavírus completou seis meses nesta semana. Internado desde 13 de abril na UTI de um hospital de Blumenau, no Vale do Itajaí, o homem de 79 anos é a pessoa que tem o maior tempo de internação em Santa Catarina devido à doença, segundo dados do governo do Estado. E ainda não há previsão de alta.
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A única filha do médico reumatologista, Monica Frazão, 55, conta que o pai já teve dias piores no leito do Hospital Santa Catarina. Agora, ele só não pode ir para um quarto porque depende do aparelho de oxigênio para respirar em boa parte do dia. A Covid-19 comprometeu os pulmões do idoso e os rins. Frazão precisa de respirador e fazer hemodiálise. Uma trombose resultou na amputação de parte dos pés.
— Ele já teve tantas infecções que perdi as contas. Agora está sem nenhuma, mas não consegue dormir sem o respirador e por isso não pode deixar a UTI. Eu não sei como vai ser daqui pra frente, mas se ele vencer tudo isso algum propósito tem, não é possível. O problema é o sofrimento que vem depois — lamenta Monica.
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Frazão faz sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, mas a recuperação depois de todo esse tempo de internação somado a medidas como a traqueostomia, medicações e as amputações será um novo e lento desafio. Porém, antes disso acontecer, Frazão precisa sair da UTI, algo que ainda não tem data para acontecer. Nesses mais de 180 dias internado, o médico atingiu a marca de maior tempo de internação por Covid-19 em Santa Catarina. Depois dele está um homem de Chapecó, que ficou 116 dias, mas morreu em setembro.
Monica, que é muito ligada ao pai, conseguiu visitá-lo apenas duas vezes, uma delas quando ele completou 79 anos, em julho. Com exceção desses dois dias, os encontros são por videochamada. Em uma delas, a filha notou uma tristeza profunda no olhar do pai e alertou a equipe médica, que chamou um psiquiatra para acompanhá-lo.
— Quem pensa em ficar passeando por aí deveria visitar uma UTI antes para ver o horror que é. Eu vi tantas pessoas morrerem por causa do coronavírus, inclusive vários donos de clínicas médicas… eu fico revoltada porque as pessoas não levam a sério. Não só pelo meu pai, mas por todos os outros. Isso não é brincadeira — desabafa.
Frazão nasceu no Piauí, mas morou a maior parte da vida no Rio de Janeiro. Médico reumatologista, veio morar com a filha e a família dela em Florianópolis em 2017, após a esposa falecer por causa de um câncer. No Norte da Ilha, abriu uma clínica nos Ingleses e seguiu atendendo.
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Quando contraiu o vírus ele estava em Gaspar, no Vale do Itajaí. Sentiu primeiro um cansaço no dia 12 de abril, e no dia seguinte já teve que ser levado ao hospital. Dois dias depois mesmo pediu aos médicos para que fizessem a intubação.