No dia 13 de abril, quando Renaud Pimentel Frazão Filho chegou ao hospital em Blumenau com falta de ar e outros sintomas de Covid-19, a pandemia no Brasil ainda estava em outro estágio. Em Santa Catarina eram menos de mil pessoas contaminadas e apenas 31 mortes confirmadas. Passados mais de 100 dias, Renaud ainda trava uma das mais longas batalhas contra o coronavírus no Brasil.
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Da Covid-19 propriamente dita o médico de 79 anos já se curou, mas segue internado na UTI do Hospital Santa Catarina, em Blumenau, lidando com todas as complicações que o coronavírus trouxe. Desde a entrada no hospital em abril, Renaud passou por uma série de momentos difíceis e recuperações. Primeiro foram 26 dias sedado, intubado, com paralisia nos rins e trombose nas pernas, até acordar e começar a melhorar.
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Passados alguns dias em um estado melhor, dando risada e respondendo às pessoas, voltou a piorar. Teve pneumonia, infecções, precisou fazer hemodiálise por causa do rim parado e conseguiu voltar novamente. Por causa da trombose, duas semanas atrás a amputação de parte dos pés foi necessária.
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– Outros pacientes que estavam no hospital com ele morreram, e o meu pai continuou. É uma situação horrorosa. Meu pai que salvava vidas em UTIs estar ali naquela situação. É uma doença horrível, e tem gente fazendo festa, baile – lamenta a filha, Monica Frazão.
Renaud nasceu no Piauí, mas morou a maior parte da vida no Rio de Janeiro. Médico reumatologista, veio morar com a filha e a família dela em Florianópolis em 2017, após a esposa falecer por causa de um câncer. No Norte da Ilha, abriu uma clínica nos Ingleses e seguiu atendendo. Quando contraiu o vírus ele estava em Gaspar, no Vale do Itajaí. Sentiu primeiro um cansaço no dia 12 de abril, e no dia seguinte já teve que ser levado ao hospital. Dois dias depois mesmo pediu aos médicos para que fizessem a intubação.
Depois de 110 dias internado, Renaud até brinca com os médicos e as enfermeiras, que o chamam de “mascote” do hospital. Apaixonado por música, ele pede à equipe da UTI o que quer ouvir. No dia 10 de julho ele fez aniversário, e como não havia mais risco de contaminação pelo coronavírus a filha e a neta puderam entrar no quarto e interagir com ele.
Durante todo o período na UTI, apenas duas vezes o contato foi possível, mas o carinho fez diferença na recuperação até agora.
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– Ele estava bem ruim quando autorizaram a primeira vez para eu ir à UTI. No dia seguinte à visita o doutor me ligou e disse que deu um pico de melhora extraordinário. E foi assim também na segunda vez, no aniversário dele. É a importância de um familiar estar junto. É uma doença da solidão, ninguém pode estar junto no isolamento – conta Monica.
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