“Vai atender o cliente sim”. Era assim que o grupo criminoso suspeito de tráfico de mulheres para exploração sexual na Irlanda, alvo de uma operação da Polícia Federal deflagrada na quarta-feira (3), ordenava as vítimas em relação aos programas de prostituição com jornadas exaustivas. Um documento do Ministério Público Federal, que a NSC TV teve acesso, mostra que a organização comparava as mulheres para estimular a competitividade entre elas.
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Em uma troca de mensagens, registrada no dia 2 de novembro de 2024, uma das vítimas diz que está cansada e pergunta “em quanto tempo esse cara vai chegar”, se referindo ao próximo cliente que o suspeito de liderar o esquema agendava para as vítimas. O homem, então, parece irritado na conversa, e diz que quando a mulher “não tinha cliente, reclamava” e que “agora não quer atender”.
Além disso, ele diz que “enquanto você quer dormir, suas amigas ao seu lado querem trabalhar”, comparando as mulheres. A vítima, então, responde que quer fazer o programa e não está reclamando, mas que é “normal um ser humano cansar”.
Ela insinua, ainda, que outras mulheres utilizam drogas e substâncias ilícitas para ficarem acordadas durante mais tempo, e que ela não fazia isso. O suspeito faz chantagens emocionais e diz que uma das vítimas “atendeu 13 [clientes] hoje”, afirmando que a mulher com quem ele estava conversando no aplicativo de mensagens “foi a que menos atendeu hoje”.
Segundo o documento, os programas eram agendados exclusivamente pelos integrantes da organização, que controlam aparelhos celulares atribuídos às vítimas, usados para intermediar os atendimentos. As mulheres não tinham poder de decisão sobre o número de atendimentos, horários ou clientes.
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O perfil das vítimas
De acordo com o documento, as mulheres escolhidas e abordadas pelo grupo criminoso são jovens e em condição de vulnerabilidade, fator esse agravado, muitas vezes, porque muitas deixam filhos menores de idade e familiares sob sua responsabilidade, principalmente financeira, no Brasil.
De acordo com o delegado Farnei Franco Siqueira, os criminosos abordavam as garotas pelo “perfil da menina, pelas características físicas e por uma série de circunstâncias”.
— Mas era toda uma organização que tinha pessoas dedicadas a isso e que faziam, principalmente em clubes, essa busca — explicou o delegado.
As mulheres iam para os países europeus já sabendo qual seria o trabalho a ser realizado, com ajuda do principal suspeito na logística, obtenção de passaportes, informações sobre como se vestir e o que dizer. Mas, quando elas chegavam ao país, ele exigia a devolução imediata dos valores enviados, começando um ciclo de controle financeiro.
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Antes das viagens, as vítimas produziam material fotográfico e audiovisual, usado em anúncios de plataformas online. Em uma das conversas, com outra vítima, o homem especifica a maneira que as fotos devem ser enviadas, podendo até ser “nuas, mas não muito vulgar”.
Operação
A Operação, denominada como Cassandra, cumpriu quatro prisões no Brasil e outras quatro em Dublin, capital da Irlanda. As vítimas eram aliciadas em baladas e clubes de Santa Catarina, segundo a Polícia Federal.
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