A dona da clínica que causou necrose em uma modelo após procedimento estético, em Jaraguá do Sul, foi denunciada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) nesta quinta-feira (4). A profissional responderá por seis crimes: estelionato, lesão corporal gravíssima, exercício ilegal da medicina, desobediência a ordem legal, perigo para a vida ou saúde de outrem e infração ao Código de Defesa do Consumidor. O caso ocorreu em maio deste ano.
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Conforme a denúncia, a modelo Karim Kamada, de 51 anos, sofreu complicações graves após a aplicação de “enzimas Smart Booster” por meio de uma caneta pressurizada, equipamento que exige habilitação médica. O possível uso inadequado do produto provocou necrose extensa nos glúteos, deformidade permanente e incapacidade para o trabalho.
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— Estamos diante de práticas que não apenas violaram normas sanitárias e consumeristas, mas também causaram danos irreversíveis à integridade física de uma pessoa. É imprescindível que haja responsabilização para prevenir novos casos e proteger a saúde pública — afirmou o promotor de Justiça Felipe de Oliveira Neiva.
Segundo o MPSC, a denunciada teria se apresentado falsamente como técnica em estética avançada, induzindo consumidores a contratar serviços que incluíam aplicações intradérmicas de substâncias lipolíticas, um procedimento restrito a profissionais da saúde.
A 9ª Promotoria de Justiça também solicitou a indenização mínima de R$ 50 mil para reparação dos danos morais e estéticos sofridos pela vítima, além da continuidade do processo criminal.
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Relembre o caso
O que era para ser um procedimento estético simples, com o objetivo de reduzir celulite e gordura localizada nos glúteos e pernas, acabou sendo um pesadelo para a modelo Karim Kamada, de 51 anos. A moradora de Jaraguá do Sul teve parte do corpo necrosado após o procedimento que, supostamente, era feito com caneta pressurizada com enzima.
Karim fez a intervenção estética em maio deste ano e, desde então, sofre com diversos sintomas, entre eles dores intensas, vermelhidão, inflamação, nódulos, febre alta, celulite infecciosa e até necrose. Após denúncia, a clínica foi fiscalizada e interditada.
— Optei por um procedimento estético com caneta pressurizada com enzimas, vendido como seguro e sem riscos — contou Karim ao g1.
A modelo conta que encontrou a clínica de Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, por meio de um anúncio na internet.
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— Após algumas sessões, começaram a surgir dores intensas, vermelhidão e febre local. Mesmo relatando os sintomas, a profissional afirmava que era normal — relatou a modelo.
Este teria sido, inclusive, o motivo para Karim ter demorado a procurar ajuda médica. Com o passar do tempo, entretanto, os sintomas evoluíram, chegando a se formar um abscesso necrosado. A modelo chegou a passar por duas cirurgias e ainda faz acompanhamento médico para verificar a evolução das sequelas.
— São três meses que a minha vida parou. E tem todo o fator psicológico — desabafou a modelo.
Clínica foi interditada após denúncia da modelo
A clínica em que Karim fez o procedimento estético com caneta pressurizada com enzimas foi denunciada por ela à Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul.
O local foi vistoriado pela primeira vez no fim de julho, quando o órgão constatou irregularidades como ausência de documentação obrigatória para o funcionamento da atividade de estética. Entre essas infrações estava a falta de alvará sanitário. Na época, a clínica foi interditada.
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Ainda assim, em setembro, uma nova denúncia indicava que o estabelecimento ainda estaria funcionando. A Vigilância Sanitária voltou ao local, desta vez com a Polícia Militar, e aplicou um auto de infração.
A reportagem tenta contato com a defesa de Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, responsável pela clínica, desde a denúncia da modelo, mas ainda não obteve retorno.
O que é o procedimento estético com caneta pressurizada
Mariana Sens, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, detalhou ao portal g1 que a caneta pressurizada com enzimas empurra substâncias pela pele a partir da pressão, sem agulha.
— Ela não permite controle preciso de dose, profundidade ou local de depósito, requisitos essenciais em procedimentos injetáveis — comentou.
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Além disso, explicou que o termo “enzimas” costuma englobar coquetéis para gordura localizada, muitas vezes incluindo ácido deoxicólico e até outras misturas manipuladas.
— Esses agentes devem ser aplicados por médico, em plano subcutâneo, com técnica padronizada, produto regularizado e ambiente com suporte a complicações. O uso superficial ou em plano inadequado pode causar ulcerações e necrose — afirmou.
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), na intradermoterapia é feita a aplicação de “substância com efeitos medicinais diretamente na derme ou hipoderme”, informou o g1.
A técnica exige aplicação de medicamento, conhecimento técnico e responsabilidade civil, legal, penal e ética sobre o procedimento e, portanto, só deveria ser realizado por médicos. Além disso, informou que a aplicação pode ser considerada exercício ilegal da medicina e também representa riscos.
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