O caso de difamação sofrido pela professora natural de Tubarão, Barbara Zandomênico Perito, segue repercutindo internacionalmente. Ela foi acusada por um empresário italiano de fazer parte de uma seita de mulheres que engravidam para extorquir homens estrangeiros e receber pensões alimentícias. O fato foi divulgado pelo Fantástico no último domingo (12), e o processo judicial segue sob sigilo de Justiça.

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O advogado e empresário italiano, com negócios no Brasil, Nunzio Bevilacqua, é o ex-namorado de Barbara. Ele declarou à mídia italiana que a gravidez da brasileira faria parte de “orgias e ritos satânicos”. No entanto, a brasileira afirma que os dois tiveram apenas um relacionamento, de onde nasceu uma criança, a filha do ex-casal.

De acordo com Vitor Poeta, advogado de defesa da vítima, os recursos que foram apresentados pelo pai da criança à Justiça não foram aceitos. Além disso, os embargos foram rejeitados. A expectativa da professora é de que o julgamento esclareça toda a situação.

— Tenho a expectativa de que, a partir de agora, a outra parte não se manifeste mais. Não continue, não perpetue essa narrativa mentirosa — ressalta Barbara.

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Bárbara conta que após a divulgação do caso, a percepção da população sobre os fatos mudou. Segundo ela, com o alcance das informações, uma rede de apoio nacional em meio a todo o processo surgiu nos últimos dias.

— Eu fiquei feliz com a repercussão no Brasil todo. Eu recebi muitas mensagens de mulheres que passam pela mesma situação, pedindo ajuda. Inclusive saiu matéria até na mídia espanhola — relata.

Veja vídeo de Barbara

Relembre o caso

Barbara é descendente de italianos e mora em Tubarão, no Sul catarinense, onde dá aulas sobre a língua para brasileiros, além de ensinar português para estrangeiros. Ela é cidadã italiana, tendo conhecido a Itália em viagem realizada.

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Conforme relato, em 2021, Nunzio se matriculou para aprender português com ela. Após aulas, os dois se aproximaram e engataram em um relacionamento, que de forma “acelerada”, segundo a professora, virou um namoro.

No entanto, após um certo tempo, a tubaronense notou diferenças entre o casal, pensando em terminar o namoro, porém, depois de uma viagem com Nunzio pelo Brasil, descobriu estar grávida. Inicialmente ele teria apresentado estar feliz com a situação, mas tudo mudou repentinamente.

Nunzio voltou para Roma e insistiu para que a catarinense se juntasse a ele na Itália. Segundo ela, o italiano tinha um plano de vida para os dois no país europeu. O nome do bebê já estava escolhido, assim como os padrinhos, que eram conhecidos apenas por ele, além do quarto da criança, que já estava em andamento na casa dele.

Em meio a pressão do relacionamento, Barbara preferiu ficar no Brasil, junto à família, já que era a primeira gravidez dela. Mas a decisão não foi bem recebida pelo ex-companheiro.

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— Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: “Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar a convivência, acertar a pensão” — conta Barbara.

Difamação

O fim do relacionamento marcou o início da onda de difamação, que chegaria à RAI, a maior rede de TV da Itália. Repórteres da emissora chegaram a vir para o Brasil, abordando Barbara e a filha na rua.

O italiano alegava à imprensa que havia uma organização criminosa no Brasil que enganava homens europeus, principalmente italianos, para extorquir dinheiro deles. O empresário deu entrevistas afirmando ter recebido uma denúncia anônima: “A gravidez de Barbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias”.

— Eu não faço parte de seita nenhuma. Não existiu golpe de nenhum tipo. Existia um relacionamento que não deu certo e, desse relacionamento, existe uma criança, que é saudável, minha filha, filha dele, que vive e está aí. É isso que existe nessa história — afirma a professora.

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O nascimento da criança foi em julho de 2022. Logo nos meses seguintes, Nunzio pediu um exame de DNA, feito em um laboratório escolhido por ele, em São Paulo, segundo o ex-advogado dele no Brasil, Matheus Livramento. Apesar do resultado positivo para paternidade, o empresário alegou que o teste teria sido manipulado pela suposta “seita”. Um segundo teste foi solicitado, mas o pedido foi negado pela Justiça.

A suposta “seita” brasileira

A narrativa envolve Barbara, o Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até familiares da vítima. Segundo o advogado Vitor Poeta, agora a solicitação é para que Nunzio seja responsabilizado pelo crime. Há um processo criminal instaurado na Justiça Federal que apura os supostos crimes de calúnia, difamação e perseguição.

— Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível — contou Barbara. — Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas.

Barbara teve concedida pela Justiça medidas protetivas que impedem o italiano de se aproximar dela e de familiares, mantendo uma distância de ao menos três quilômetros entre eles. Nunzio também não pode contatar nem ela, nem os familiares dela, por qualquer meio.

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Nunzio Bevilacqua não tem advogado constituído no processo criminal brasileiro. O Fantástico foi atrás dele onde ele mora, em Roma, mas ele não quis falar sobre o caso. Roberta Rei, jornalista do canal Itália 1, reconheceu a situação, e disse que um novo teste de DNA poderia encerrar o assunto. A emissora não se manifestou.

A filha de Barbara tem três anos atualmente. Barbara segue dando aulas, e nunca recebeu ajuda financeira de Nunzio, que ainda não reconhece a paternidade.

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