O começo da carreira de médico de Hattos Soares, 23 anos, foi totalmente diferente do que ele imaginava. Há dois meses o mineiro que vivia em Florianópolis chegou a Blumenau para reforçar a equipe que trabalha na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Ele é um dos mais de 40 ex-estudantes de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que tiveram a formatura antecipada para poder ajudar na força-tarefa contra a Covid-19.
Continua depois da publicidade
> Quer receber notícias de Blumenau e do Vale por WhatsApp? Clique aqui e entre no grupo do Santa
Cansaço, avaliação e orientação resumem um dia do jovem profissional, que se divide entre atendimentos no ambulatório montado no Parque Vila Germânica e o Ambulatório Geral do bairro Fortaleza. Soares diariamente recebe os pacientes com sintomas gripais e segue o protocolo estabelecido desde o início da pandemia: se percebe que há necessidade, faz encaminhamento a hospitais ou apenas orienta a pessoa sobre o que fazer e autoriza (ou não) a realização do teste.
“O segredo é o cuidado”, diz prefeita da única cidade do Vale do Itajaí sem casos de coronavírus
No consultório montado sob uma tenda, ouve de tudo, desde quem garante não ter saído de casa em momento algum até quem passou a apresentar sinais da doença após festejar com os amigos em churrascos. O descaso com o problema, enfatiza o médico, é uma das maiores frustrações para os trabalhadores da saúde. 
— Para muitas pessoas é só uma gripezinha, mas para outras não. É uma vida que pode acabar, um pulmão que pode ficar fibrosado para sempre. Estamos trabalhando para conscientizar a população, para que cuide da própria saúde e da saúde dos outros. Não vamos conseguir resultados se tivermos atos individuais — lamenta.
Continua depois da publicidade

O desânimo é momentâneo. O médico tenta se manter otimista e fixa na mente o lembrete de que “vai passar, vai melhorar”. O cansaço, porém, é inevitável. Para cobrir colegas que são afastados por se contaminarem ou por pertencerem ao grupo de risco, Soares chega a fazer muito mais do que as 40 horas contratuais semanais exigem. Nesta semana, em um intervalo de quatro dias, fez mais de 15 horas extras. Na cidade nova, sem ver os pais desde o começo do ano, Soares vive para o trabalho, literalmente.
—Vou levar essa experiência para a vida. Nesta sexta-feira (17) seria a minha formatura, que planejamos desde 2015. Eu estaria junto com a minha família para festejar, bem aglomerados. Tudo mudou completamente e é muito marcante. Mas é para isso que nos tornamos médicos, temos esse compromisso social — destaca.
O contrato da prefeitura com os chamados médicos itinerantes dura seis meses, mas pode haver prorrogação de até dois anos. Enquanto a pandemia não acaba, Soares continuará auxiliando os blumenauenses a identificar e tratar a doença.
 
				 
                                    