“Dormiu bem”, “tomou café da manhã”, “conversou”. São o que dizem os boletins médicos sobre a saúde do Papa Francisco, emitidos ao menos duas vezes por dia e repercutidos pela imprensa do mundo inteiro. A internação do pontífice, de 88 anos, está sendo lidada com uma transparência nunca antes vista quanto às atualizações de saúde do líder da Igreja Católica. Mas por quê? As informações são do O Globo.

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A Igreja Católica, historicamente, sempre manteve privada a saúde do papa. Um exemplo foi o boletim médico em 25 de fevereiro de 2005, que trazia um alívio aos católicos: o papa respirava bem e havia se alimentado, comendo 10 biscoitos no café da manhã. Isso, no entanto, não era possível. João Paulo II, Pontífice da Igreja Católica na ocasião, tinha passado por uma traqueostomia no dia anterior.

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Papa Francisco está internado há três semanas no Hospital Gemelli, o mesmo onde João Paulo II ficou internado e veio a falecer um mês após a cirurgia mencionada.

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Nesta quinta-feira (6), a Santa Sé divulgou uma mensagem em áudio de Francisco, onde, com a voz cansada, ele agradecia “de todo coração” as preces pela saúde do pontífice.

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Mesmo que os boletins divulgados diariamente transmitam frases curtas, como “pontífice realizou algumas atividades de trabalho, intercalando com momento de descanso e de oração”, analistas especializados em temas religiosos dizem que o nível de detalhamento por parte da Igreja Católica é sem precedentes.

As atualizações médicas revelam detalhes que, em outros papados, o Vaticano preferia ocultar. Até mesmo as crises na saúde de Francisco foram divulgadas, como o quadro de insuficiência renal inicial, que retrocedeu dias depois, ou quando ele precisou de transfusões de sangue e até mesmo quando o Pontífice inalou o próprio vômito em meio a uma crise de broncoespasmos.

Linha do tempo da internação do papa

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— Esses são detalhes muito específicos que nunca teríamos no passado. Fiquei surpreso com o nível de franqueza e o nível de detalhes — disse David Perlich, analista sobre temas ligados ao Vaticano da rede CBC.

A falta de transparência com a saúde do papa ao longo da história gerou até mesmo um chavão, que é repetido entre vaticanistas de diversos veículos de comunicação ao redor do mundo: “O Papa nunca fica doente até morrer”. Mas, com o papa Francisco, o ditado ganhou um prazo de validade.

—  A Santa Sé herdou de sua forma monárquica a ideia de que a saúde do soberano é um assunto de Estado e não um assunto público. Então sempre houve esse instinto quando se trata de encobrir o estado de saúde do Papa — afirmou Alberto Melloni, historiador da Igreja e diretor da Fundação João XXIII para Ciências Religiosas de Bolonha, em entrevista ao New York Times.

Outro exemplo da discrição por parte da igreja é a negação da Igreja Católica, por meses, do diagnóstico de câncer do Papa João XXIII, confirmando oficialmente apenas após a morte do pontífice, em 1963.

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Afinal, por que o estado de saúde de Francisco é tão público?

A mudança na maneira de tratar a saúde do líder da Igreja Católica pode ter dois motivos. De um lado, parece que o próprio papa Francisco exigiu que as informações corretas fossem oferecidas. No dia 21 de fevereiro, oitavo dia de internação, dois médicos que tratam o Bispo de Roma disseram que as instruções de Francisco foram de “não esconder nada”, e atualizar o público diariamente.

Alguns analistas dizem que isso conversa com a comunicação mais aberta do papa argentino.

De outro lado, a atualização constante de saúde do pontífice parece atender a pressão externa, principalmente porque o papa Francisco já ficou internado outras vezes, ocasiões onde manteve uma comunicação discreta, inclusive na pandemia da Covid-19. Seguindo essa lógica, o fator de mudança pode ser o volume de desinformação que é potencializado pelas redes sociais desde as primeiras horas da internação de Francisco.

Na internet, surgiram informações falsas de que o papa havia morrido, além de imagens geradas por Inteligência Artificial (IA), onde ele aparecia usando máscaras de oxigênio. Por isso, a transparência do Vaticano pode ser, na verdade, uma resposta.

Ainda assim, há quem diga que mesmo que a Santa Sé fosse ainda mais transparente, isso não seria suficiente para abafar rumores.

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— Mesmo que eles publiquem dois boletins oficiais por dia, com informações claras, ainda haveria pessoas dizendo: “Não, olha, o que o Vaticano está dizendo é mentira. A verdade é que ele já morreu” — afirmou Fabio Marchese Ragona, correspondente do Vaticano para o telejornal TG5 da Mediaset.

*Sob supervisão de Raquel Vieira

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