As recentes declarações de “química” entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Lula (PT), do Brasil, na Assembleia-Geral da ONU, foram precedidas por uma articulação de empresários brasileiros com o governo americano. Entre os mais ativos estão os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos do grupo J&F, controlador da gigante de carnes JBS. As informações são do colunista Valdo Cruz, do g1, e da Folha de S.Paulo.
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Há cerca de três semanas, conforme a Folha, Joesley Batista foi recebido em audiência pelo presidente Trump na Casa Branca. De acordo com pessoas com conhecimento direto do assunto, o empresário discutiu com o republicano o impacto do tarifaço de 50% imposto pelos EUA a produtos brasileiros, que afeta diretamente o setor de carnes da JBS. Outro tema tratado foi a importação de celulose. Durante o encontro, Joesley defendeu que as diferenças comerciais poderiam ser resolvidas via diálogo, incentivando uma aproximação entre os governos.
Segundo o g1, a dimensão do grupo J&F nos Estados Unidos deu força ao lobby: são 75 mil funcionários no país e 180 mil no Brasil, atuando em frango, carne bovina, suína e alimentos processados, como hambúrguer, recheio de taco e almôndegas, produtos consumidos especialmente pelas classes de menor renda. Essa presença abriria portas mesmo sem o tarifaço, conforme fontes citadas pela coluna.
Na semana de 11 de setembro, uma comitiva de empresários brasileiros esteve em Washington para uma série de reuniões. Participaram Joesley Batista, João Camargo (presidente do conselho da Esfera Brasil) e Carlos Sanchez (EMS), além de representantes de outras companhias, como a Embraer. Eles se reuniram com parlamentares republicanos próximos a Trump, como a deputada Maria Elvira Salazar, e também com Susie Wiles, chefe de gabinete do presidente e uma de suas principais assessoras. Paralelamente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) teve encontros no Departamento de Comércio e no USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA).
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O lobby já trouxe resultados concretos. Em 5 de setembro, Trump assinou uma ordem executiva retirando a tarifa de 10% sobre a importação de celulose — no ano passado, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas do produto para os EUA. Interlocutores manifestam otimismo quanto à possível inclusão da carne bovina na lista de isenções no futuro.
A atuação de gigantes como a JBS e a Embraer fortaleceu, dentro do governo Trump, o grupo que defende uma abordagem comercial, e não política, na relação com o Brasil. O histórico de contribuições também chama a atenção: a Pilgrim’s Pride, controlada pela JBS nos EUA, doou US$ 5 milhões para a cerimônia de posse de Trump em 2017 — a maior doação individual de uma empresa, segundo a Comissão Eleitoral Federal (FEC).
Aproximação de Trump e Lula
Donald Trump afirmou durante discurso na Assembleia Geral da ONU que se encontrou rapidamente com o presidente Lula (PT), e que os dois concordaram em conversar na próxima semana. O presidente norte-americano citou ainda uma “excelente química” no contato com o brasileiro.
— Estivemos ali 39 segundos, foi uma coisa muito rápida, mas foi uma química excelente. Isso foi um bom sinal — afirmou.
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O gesto de Trump representa um sinal de possível diálogo para revisão das tarifas. Desde o início de agosto os Estados Unidos aplicaram sobretaxa sobre produtos brasileiros de diversos setores.
Em coletiva de imprensa na quarta-feira (24), Lula declarou que “aquilo que parecia impossível deixou de ser e aconteceu”. Ele também disse que deixou claro a Trump que os dois “têm muito a conversar”:
— Fiz questão de dizer ao presidente Trump que temos muito a conversar. Tem muitos interesses dos dois países em jogo, muitas coisas a discutir sobre a necessidade de mantermos a paz no planeta Terra. E fiquei satisfeito quando ele disse que podemos conversar e, quem sabe, dentro de alguns dias, a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva entre Brasil e EUA e entre EUA e Brasil. É isso que eu quero e acho que é isso que ele deve querer.
Veja imagens da Assembleia da ONU
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