O padrasto do menino de quatro anos que morreu em Florianópolis vítima de maus tratos, no dia 17 de agosto, confessou pela primeira vez que agrediu a criança com socos e tapas, durante uma audiência na última terça-feira (3). Até então, o suspeito tinha negado o crime. Ele está preso desde agosto.
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O homem de 23 anos é réu por homicídio qualificado e tortura. No interrogatório obtido pelo jornalista Leonardo Thomé, da NSC, ele disse que teve um ataque de fúria por problemas pessoais antes das agressões. Além disso, negou que tivesse intenção de matar o menino e se referiu a ele como “um filho”.
Padrasto diz que teve ataque de fúria
No relato, o padrasto afirmou que ficou com a criança após a esposa sair para trabalhar, por volta das 7h. Por volta das 13h30min, os dois saíram para visitar familiares, mas em seguida voltaram para casa para buscar um remédio, segundo o padrasto.
Ao retornarem, o homem afirma que recebeu uma ligação da cunhada, dizendo que passaria ali para levá-los até a familiar. Nesse período de espera, ele disse ter sentado na cama e começado a pensar em problemas financeiros e nas “dificuldades” com a esposa.
— Fiquei com uma extrema raiva, ódio de tudo que estava acontecendo, e me coloquei numa extrema frustração, extrema dor — disse, no interrogatório.
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O homem disse, ainda, que, em seguida, agrediu a criança com socos e tapas na perna, além de socos na barriga.
— E com isso eu peguei ele, não pelo fato de eu querer sufocar, até mesmo enforcar ele, eu peguei ele com a mão e joguei ele na cama — afirmou.
Em seguida, o homem afirma que saiu do quarto chutando armários e se trancou no banheiro por cerca de cinco minutos. Na sequência, se arrependeu e voltou ao quarto, onde encontrou a criança na cama e deitou-se com ela.
Perguntas à IA
Nesse momento, ainda segundo o padrasto, ele notou que o menino estava “estranho” e começou a ficar “mole”. O homem, então, afirma que fez pesquisas usando um aplicativo de inteligência artificial — como consta no inquérito policial, que encontrou a seguinte pergunta feita por ele: “O que acontece se ficar enforcando muito uma criança?”.
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Em seguida, o homem afirma ter acionado vizinhos para levar a criança ao Multihospital. O menino chegou ao local desacordado, por volta das 15h30min, e foi declarado morto no local.
O laudo necroscópico, incluído no inquérito, aponta que o menino morreu por choque hemorrágico decorrente de traumatismo abdominal, causado por instrumento contundente.
Casal foi preso em flagrante
Por conta dos indícios de agressão, o casal foi preso em flagrante e encaminhado à delegacia. A mãe do menino, de 24 anos, foi solta na audiência de custódia, já que estava grávida. O homem, no entanto, seguiu detido.
Em 28 de agosto, o homem e a mulher foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio qualificado pelo emprego de meio cruel e contra pessoa menor de 14 anos. O processo corre em segredo de justiça.
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Com o término da oitiva de testemunhas e do interrogatório do réu, a Justiça abriu vista para o Ministério Público (MP) apresentar suas alegações finais. Nesta fase, o órgão ministerial apresentará por escrito seus pedidos à Justiça.
Caso paralelo da mãe
Enquanto o processo contra o padrasto avança, o destino processual da mãe da criança, segue em aberto no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC). O MP recorreu após a Justiça de primeira instância ter rejeitado a denúncia contra ela pelos mesmos crimes do padrasto.
Na terça-feira (2), três desembargadores começaram a analisar o recurso. O primeiro votou a favor de acolher o pedido do MP, o que permitiria que a mulher também fosse denunciada. O segundo, no entanto, pediu vista para examinar o processo. Ela responde atualmente em liberdade.
O que dizem as defesas
O NSC Total entrou em contato com a defesa do padrasto, mas não obteve retorno até o fechamento esta reportagem.
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Já os advogados da mãe, Eduardo Dalmedico Ribeiro e Rosimeire da Silva Meira, informaram que, em relação a confissão do acusado, não irão se pronunciar, pois não tiveram acesso ao documento, em razão do desmembramento dos processos. Sobre o recurso do MP que tramita no TJ, a defesa informou que “confia que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina irá manter a decisão de primeiro grau, pois a decisão é extremamente bem fundamentada, constatou a inépcia da denúncia e ausência de justa causa”.
“Não existem mínimos indícios na prova colhida pela investigação (seja os inúmeros depoimentos, os documentos e tudo o que foi extraído dos celulares apreendidos) revelando que ela, intencionalmente, se omitiu de proteger seu filho”, finaliza a defesa.

