Imagens de uma confusão entre moradores do Trentino, localizado na zona Sul de Joinville, e a Polícia Militar (PM) circularam nas redes sociais desde o domingo (22). Nos registros, é possível ouvir gritos, xingamentos e ver agressões de policiais contra duas mulheres.
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Ao NSC Total, uma moradora contou sobre a prisão que antecedeu a briga generalizada e como foi a abordagem da corporação. Em contrapartida, a PM afirmou que houve desobediência, resistência e “injustas agressões”.
O que aconteceu
Durante uma ronda no bairro Boehmerwald, zona Sul da cidade, policiais militares avistaram um homem suspeito andando em frente ao Trentino, na rua Juliano Busarello. Ao perceber a presença dos policiais, o homem teria ficado nervoso e acelerado os passos. Os policiais rapidamente confirmaram que havia um mandado de prisão em aberto contra este homem.
Ao abordá-lo, o homem resistiu à prisão e entrou em luta corporal com um dos policiais. De acordo com a PM, o suspeito teria batido a cabeça do policial contra um muro e desferido socos no rosto do mesmo policial.
Mas moradores ficaram indignados com a abordagem dos policiais. Em um dos registros é possível ouvir uma mulher gritando para que as supostas agressões contra o suspeito parassem.
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— Para de bater nele […] Tão batendo no guri ali […] A polícia tá batendo — diz.
O que dizem os moradores do Trentino
Letícia Gabriela Vieira dos Reis, de 21 anos, é uma das moradoras que presenciou os fatos. Ela contou ao NSC Total sobre os momentos de tensão que resultaram em hematomas e uma costela quebrada em sua mãe, uma mulher de 41 anos.
Ela relatou que, devido à abordagem, alguns moradores do condomínio começaram a atacar pedras contra o carro da polícia. Enquanto isso, outros moradores foram até a rua para gravar a confusão.
Devido ao tumulto, o homem com mandado de prisão conseguiu fugir dos policiais. Os policiais pediram reforço. Quando outras equipes chegaram ao local, entraram no condomínio. A confusão amentou, afirmou Letícia.
— Nisso eu já estava no meu apartamento, porque eu já não queria mais estar ali, porque eu sei como eles [os policiais] são. E nisso o meu irmãozinho de 10 anos apareceu na janela gritando, dizendo que queriam bater na minha mãe. Eles estavam ali tacando spray de pimenta, tratando todo mundo muito mal e queriam bater na minha mãe. Pegaram a minha mãe, machucaram o braço. A minha mãe não fez nada. Nem sequer a gente “relou” uma palavra de desrespeito contra eles — contou.
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Letícia ainda disse que os policiais também derrubaram sua irmã, de apenas 16 anos, no chão. Outra irmã, de 18 anos, também foi alvo dos policiais. A moradora conta que, no momento da abordagem, sua irmã estava colocando um casaco e que teria sido confundida com as pessoas que teriam atirado pedras contra o carro. A jovem foi presa e levada até uma delegacia, onde permaneceu até esta segunda-feira (23).
Indignada com a situação, Letícia desceu até a área comum do prédio para perguntar sobre a irmã. Ela conta que os policiais passaram a agredi-la. Ela chegou a entrar novamente no prédio, mas insistiu em ver como estava sua irmã.
— Uma policial feminina pegou e falou que se eu não entrasse pra dentro do bloco ela ia “relar” a mão na minha cara. Eu falei bem assim: “eu só quero saber se a minha irmã tá bem”. Quando eu falei isso, ela pegou e foi me dar dois tapas. Um pegou de raspão no meu rosto. E [a policial] grudou no meu cabelo. Nisso eu grudei na farda dela e nós duas acabamos caindo no chão. Depois ela levantou e três policias homens começaram a me agredir. Eu, mulher indefesa no chão, começam a me agredir — relembra.
Letícia relata ainda que sua mãe se jogou em cima dela para protegê-la das agressões. Nesse momento, um policial desferiu socos na mulher de 41 anos. Ela precisou ser levada de ambulância até um hospital da cidade, onde, segundo a família, foi constatado uma fratura na costela.
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O momento da agressão foi flagrado por moradores e compartilhado com a reportagem do NSC Total. A Polícia Militar enviou nota sobre o caso, mas não comentou a agressão contra as mulheres.
Veja momento da agressão
PM alega que houve resistência, quebra de ordem e agressões injustas
Em nota enviada à reportagem, a Polícia Militar afirmou que agiu de acordo com as técnicas de defesa pessoal previstas nos manuais institucionais da corporação. Em certo momento, foi preciso efetuar dois disparos de elastômero com a arma cal.12 em direção aos moradores para cessar a “injusta agressão”, afirma a PM.
De acordo com a corporação, duas mulheres foram identificadas como as autoras dos atos contra os policiais e, inclusive, teriam jogado uma pedra de cerca de três a quatro quilos contra o carro.
“Com a chegada de apoio, as guarnições ingressaram no condomínio para prendê-la, sendo totalmente cercados por centenas de moradores insurgentes e possivelmente criminosos, todos hostilizando e arremessando pedregulhos nos policiais. Não obstante, através de uma ação estratégica a envolvida foi localizada e, durante as diligências de sua prisão, uma parente sua agrediu uma policial militar, sendo também conduzida” afirma a PM na nota.
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A corporação ainda diz, na nota, que foi preciso cinco guarnições e três equipes especializadas para conter a confusão no local. A PM também afirmou que um procedimento interno será instaurado para apuração dos fatos.
Letícia foi levada à delegacia e liberada no mesmo dia. Sua irmã foi solta após audiência de custódia nesta segunda. Já o homem que fugiu em direção às instalações do condomínio não foi localizado durante a após as diligências.
Leia a nota da Polícia Militar na íntegra
A Polícia Militar de Santa Catarina, por meio do 17º Batalhão de Polícia Militar, informa à população de Joinville e meios de comunicação que na tarde de 22/06/2025, atendeu uma ocorrência no condomínio Trentino 1, bairro Boehmerwald, envolvendo dano contra patrimônio público, lesão corporal dolosa, desacato, desobediência, e resistência, além de quebra de ordem generalizada, devido à insurgência de muitos apoiadores e possivelmente envolvidos com práticas delituosas que moram no local.
A ação foi desencadeada pela após a abordagem de um indivíduo suspeito na rua adjacente, quando após ser confirmado que contra si pendia um mandado de prisão em aberto, insurgiu-se quanto a prisão e condução, entrando em luta corporal com um dos policiais da primeira equipa que chegara, batendo com sua cabeça contra um muro e desferindo um murro em seu rosto (nariz), atordoando-o (o policial), enquanto de dentro do Trentino, indivíduos ligados ao sujeito, passaram a apedrejar a guarnição, que se viu obrigada a cessar as manobras de imobilização para poder responder aos atos violentos, resultando na fuga do indivíduo citado e em chamado de apoio prioritário.
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Nesse contexto, a viatura foi atingida por uma pedra de 3/4kg, sendo identificada a autora do dano. Por essa razão, com a chegada de apoio, as guarnições ingressaram no condomínio para prendê-la, sendo totalmente cercados por centenas de moradores insurgentes e possivelmente criminosos, todos hostilizando e arremessando pedregulhos nos policiais. Não obstante, através de uma ação estratégica a envolvida foi localizada e, durante as diligências de sua prisão, uma parente sua agrediu uma policial militar, sendo também conduzida.
Cumpre ressaltar que foram utilizadas apenas técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo suficientes para vencer as injustas agressões perpetradas pelos criminosos presentes, que atentaram gravemente contra o Estado, por meio de seu representante, a Polícia Militar, que se viu necessariamente presente no local, com 05 guarnições e 03 equipes especializadas.
Ao cabo, as femininas foram conduzidas à central de polícia, onde foram tomadas as providências legais, além da realização de exame de corpo de delito nos policiais militares atingidos.
Joinville, 23 de junho de 2025.
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