Um mapeamento inédito irá estudar as áreas em que mais acontecem atropelamentos de animais silvestres em Blumenau e o projeto até conta com a ajuda dos moradores para isso. Ao identificar os pontos críticos destes acidentes pela cidade, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) afirma que será possível orientar ações preventivas mais precisas no futuro.

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As informações coletadas irão compor uma base de dados para entender os detalhes dos acidentes e identificar as áreas em que mais acontecem o atropelamento dos animais silvestres. Com a análise estatística, a Semmas afirma que será possível propor ações como a instalação de passa-faunas, que são pontos exclusivos para a travessia dos animais, além de placas de sinalização, redutores de velocidade e campanhas educativas para motoristas.

— Temos estudos realizados em Santa Catarina que apontam para uma média de três a cinco atropelamentos de animais silvestres por dia em rodovias de 70 a 100 quilômetros de extensão. Em horários de pico, esse número pode aumentar para 10 animais por dia — afirma o biólogo Jerriane Gomes, que é responsável pelo mapeamento da Semmas.

Placa com “Atenção, capivaras” que ficava próximo ao Museu Fritz Müller, na Rua Itajaí (Foto: Lauro Bacca, Arquivo Pessoal)

Trechos com mais ocorrências

Anualmente, o projeto irá divulgar os resultados dos estudos, incluindo a identificação de trechos com maior número de ocorrências. Os pontos mais críticos serão definidos a partir de aspectos como status de conservação, endemismo regional ou nacional, importância ecológica da espécie, tamanho e grupo taxonômico do animal, proximidade com fragmentos florestais e corredores ecológicos, assim como o histórico de acidentes com a fauna ou humanos.

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— Nos pontos classificados como críticos, serão propostas ações de mitigação específicas, como implantação de sinalização viária para fauna silvestre, estudos de viabilidade de passagens de fauna (aéreas ou subterrâneas), instalação de redutores de velocidade, e, de forma integrada, ações de educação ambiental voltadas à população local, com foco em motoristas, moradores próximos às áreas identificadas e escolas do entorno — conclui.

Os moradores de Blumenau também podem contribuir com o levantamento ao enviar informações sobre as ocorrências, como fotos e dados como localização, data e horário de acidentes para o número de WhatsApp do projeto: (47) 99756-0821.

— Se um animal silvestre for encontrado, vivo ou morto, a orientação é não tentar resgatá-lo por conta própria. O registro pode ser enviado à Semmas e, se o animal ainda estiver vivo, a Polícia Militar Ambiental deve ser acionada. Caso já esteja em óbito, acionaremos a Secretaria de Manutenção e Conservação Urbana para fazer o recolhimento — esclarece o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Robson Tomasoni, em nota.

Entenda o que o atropelamento de animais silvestres indica

— Os atropelamentos de fauna indicam, principalmente, o deslocamento de animais entre fragmentos de vegetação nativa separados por rodovias ou vias urbanas. Isso ocorre porque a paisagem está cada vez mais fragmentada, forçando os animais a atravessarem áreas de risco para buscar alimento, abrigo ou parceiros — esclarece o biólogo.

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Entre os animais que mais costumam ser vítimas de atropelamento na região estão os graxains, mais conhecidos como cachorros-do-mato, gambás e as aves de rapina, conforme a secretaria. Esses tipos de acidentes também revelam uma falta de conectividade entre as áreas verdes, presença de fauna nativa em regiões urbanizadas, desmatamento ou alteração de habitat, trechos com alto volume de tráfego e velocidade, além da falta de sinalização adequada para a fauna da região, conforme explica Jerriane.

— Portanto, não se trata apenas da presença da fauna, mas de um indicador de desequilíbrio ecológico e risco à biodiversidade local — reflete Jerriane.

Atualmente, Blumenau tem alguns passa-faunas espalhados pela cidade. Em 2019, seis passa-faunas suspensos foram instalados nos bairros Salto do Norte, Badenfurt, Itoupava Central e Velha. Eles foram frutos de uma parceria entre a Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), a Universidade Regional de Blumenau, o Projeto Bugio e a Celesc para reduzir choques elétricos em primatas da região, como o bugio-ruivo.

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