A Praia da Península foi pensada para abrigar edificações de alta padrão e ser um atrativo para investidores em Barra Velha, no Litoral Norte de Santa Catarina. Os registros públicos mostram que a região é habitada há muitos anos e já tinha moradores quando a cidade foi emancipada em 1961. Nos últimos anos, a praia tem sido alvo constante de erosões costeiras que avançam pela faixa de areia, invadem a rua e atingem até mesmo os imóveis.

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Como é a Praia da Península

A região é ligada a Barra Velha apenas por uma faixa de terra. A Praia da Península inicia na Rua Armando Petrelli, que começa logo no final da Avenida Beira Mar, próximo ao Trapiche Candeias.

O local foi parcelado de forma urbana pelo Loteamento Balneário Barra Velha em meados da década de 60, de acordo com o secretário de Planejamento do município, Marcelo Cunha.

— O loteamento foi devidamente aprovado e registrado. O parcelamento em lotes vai até a Boca da Barra, foz do Rio Itapocu. A maior parte dos moradores e infraestrutura está no primeiro 1,5 Km, mas temos moradores que construíram regularmente suas residências ao longo de quase toda a península — afirma.

Veja fotos da Praia da Península

Erosões costeiras na praia

A secretaria de Planejamento de Barra Velha afirma que não há um programa oficial do município que monitore o avanço do mar na Praia da Península. No entanto, fotos de satélite e registros históricos mostram que o mar vem, ano após anos, erodindo a faixa de areia e se aproxima da rua e residências.

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— O município já possui projeto em licenciamento de seis molhes na Praia da Península com objetivo de mitigar a erosão dessa região, ampliando a praia central em direção ao norte. Além de oferecer aos turistas e moradores mais 1,5 Km de praia nessa região que é servida por toda sorte de infraestrutura urbana — explica Cunha.

Também há projetos, em fase de licenciamento ambiental, para obras nas praias do Grant e Sol, que estão na lista de locais mais atingidos por erosões costeiras. Nas regiões, devem ser instalados guias de corrente, estrutura de direcionamento do fluxo da água, para a fixação da foz do Rio Itajuba, o que irá reduzir o fenômeno.

O que causa a erosão costeira

A erosão costeira é o processo de perda da terra ou a remoção de areia, sedimentos e rochas da linha costeira, de acordo com o professor Paulo Horta, dos programas de pós-graduação em Ecologia e Oceanografia, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Conforme o professor, esse fenômeno é causado pela força das ondas, das correntes, do vento e das marés. A situação, no entanto, é agravada pela ação humana e pelos impactos das mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar e o aumento da intensidade e frequência de eventos extremos.

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Avanço do mar

O município não tem estudos sobre como o avanço do mar, causado principalmente pelas mudanças climáticas, pode afetar a península. O secretário de Planejamento do município, Marcelo Cunha, ainda diz que a administração espera que “isso jamais aconteça.”

No entanto, estudos e projetos internacionais mostram que o avanço do mar não é só uma expectativa, como também uma realidade. Pesquisadores já constataram que, em relação ao que era no começo dos anos 1990, o mar já avançou 20 centímetros.

Em entrevista ao NSC Total, em 2024, o professor Paulo Horta já havia alertado sobre a situação. Segundo o especialista, se nada for feito, a estimativa é de que em menos de 80 anos o oceano esteja, em média, 1,2 metro mais “alto”.

— Um metro é a média mundial, em alguns lugares vai subir muito mais e em outros muito menos. Dependendo do local, do momento e da circulação (dos ventos), pode elevar a maré em dois, três metros — explica.

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Baseado em diferentes dados científicos já publicados e revisados, o mapa da Climate Central mostra todos os locais que estarão abaixo do nível da água no futuro. O NSC Total separou imagens que mostram como deve estar a Praia da Península nos anos de 2030, 2040 e 2050, segundo o banco de dados.

Veja projeções da Climate Central para a Praia da Península

Como frear o avanço do mar

O professor Paulo Horta afirma que medidas de intervenção, como o alargamento das faixas de areia, têm efeito apenas temporário.

— Precisamos atuar de forma a restaurar o balanço de sedimento e construir adaptação e mitigação da emergência climática para termos, de fato, efetivas soluções de médio e longo prazo — diz.

Segundo Horta, as melhores práticas para conter a erosão costeira incluem gestão preventiva, que potencializam soluções baseadas na natureza, como, por exemplo, o plantio de Florestas Marinhas (mangues, marismas, pradarias marinhas, linhas costeiras vivas, recifes de ostras, costerais, entre outras florestas marinhas).

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— Esses métodos visam reduzir a energia das ondas, reter sedimentos ou construir defesas naturais. Além disso, devemos fomentar práticas responsáveis ​​de uso do território, como evitar construções em áreas de dunas e restingas e gerenciar o escoamento superficial, medidas que são cruciais para manter o balanço de sedimento com prevenção da erosão a longo prazo — finaliza.

Veja imagens da Praia da Península

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