Aini vive com a cabeça no espaço — mas isso não significa que ela seja distraída. A mente da adolescente de 17 anos está focada no universo fora do planeta Terra, afinal, ela é a primeira Astronauta Análoga catarinense, formada por uma startup de incentivo à ciência. Atualmente, ela mora num sítio em Urupema, na Serra catarinense, com a família, e estuda em Lages.
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Astronautas análogos recebem treinamento para missões semelhantes ao que é feito no espaço, porém, sem sair da Terra. O objetivo é para o aprendizado, principalmente de jovens como Aini.
No futuro, Aini do Rio Apa Vincenzi quer ser astrofísica ou engenheira aeroespacial. A curiosidade da adolescente surgiu pelas histórias que o avô contava sobre o universo.
— Ele me fazia viajar por entre as galáxias e me perguntar sobre o que estaria escondido lá — conta a adolescente. Livros e filmes também ajudaram a fortalecer este interesse: a saga Star Wars e o livro Cosmos, são algumas inspirações.
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— Astronomia é uma paixão antiga e eu honestamente não me lembro de algum momento que eu não fosse interessada por ela.
Os pais de Aini, Hatsi Corrêa Galvão do Rio Apa e Vladimir Marques Vincenzi, contam que Aini desde cedo foi uma menina muito estudiosa, curiosa, criativa e interessada em ciências, natureza e música, e já tinha um espírito cientista desde pequena. A família sempre a incentivou a ler, a pensar “fora da caixa” e a descobrir mais sobre o mundo.
O interesse pela engenharia aeroespacial
A engenharia aeroespacial, no entanto, é um interesse mais recente. Ao começar o ensino médio, percebeu o interesse por assuntos da física e da robótica. Ganhou um telescópio do tio, e passou a olhar para o céu com outros olhos. O interesse foi quase instantâneo, e logo Aini se viu misturando a curiosidade sobre o universo com os novos conhecimentos.
— O auge foi quando eu visitei o Nasa Goddard Space Flight Center durante meu intercâmbio com o TechGirls em 2023. Eu e as outras participantes tivemos palestras voltadas para STEM [sigla em inglês que significa ciência, tecnologia, engenharia e matemática] e engenharia aeroespacial; naquele momento, me apaixonei pela área e comecei a pensar em seguir carreira nela — conta a adolescente.
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Este ano, Aini fez um intercâmbio com o International Astronomical Youth Camp (acampamento astronômico internacional para jovens, em português) para aprender mais sobre a construção de foguetes. Além disso, junto com outros jovens, pôde construir e lançar foguetes.
— Hoje, eu tenho certeza que quero cursar engenharia aeroespacial na Universidade e trabalhar com isso no futuro. É o meu sonho.
A experiência na Alemanha foi, além de uma virada de chave na vida de Aini, uma oportunidade onde a adolescente se sentiu acolhida, ao lado de outros jovens com os mesmos interesses. Ela conta que o grupo se ajudava nas diversas funções, colaborando para resolver os problemas. Os desafios a serem superados iam, no entanto, muito além da engenharia.
— Você é testado em muitos sentidos: falar inglês o tempo inteiro, interagir com pessoas e criar laços, desenvolver seu projeto; e com isso, você se torna mais forte, preparado e percebe o quanto vai sentir falta dessa comunidade.
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A família foi um motor importante para o avanço de Aini na ciência. Mesmo com dificuldades ao longo do percurso, investiram como puderam em livros, cursos, kits científicos para a filha.
Veja fotos de Aini
Mudanças, adaptações e desafios
A jornada de Aini para se tornar astronauta análoga não foi suave: nos últimos quatro anos, ela e a família mudaram de Florianópolis para um sítio em Urupema, onde até o acesso à internet é difícil; a adolescente mudou de escola e precisou fazer novas amizades, “e de certa forma me assumir de verdade como sou”, conta.
A família enfrentou dificuldades econômicas e encarou enchentes nos últimos anos. Além disso, Aini chegou a ficar hospitalizada com um problema no rim.
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— Acordei muito cedo, dormi tarde estudando, tive que me virar sozinha em países diferentes com línguas diferentes e aprendi a não desistir de meu sonhos quando recebia um não, das várias oportunidades que tentei. Mesmo me dedicando muito e tendo o apoio da minha família e amigos, muitas coisas não deram certo, mas olhando para trás, vejo o quanto a nossa luta valeu à pena, embora tudo isso seja só o começo de um sonho. Quando fiz o pedido de bolsa no programa da Wogel eu torci muito para que me aceitassem, então foi incrível quando recebi a notícia! — conta.
O curso para se tornar astronauta análogo é um intensivo de três dias, onde assuntos relacionados à astronomia são explorados em diversas aulas, como astrobiologia, engenharia elétrica, pilotagem profissional e primeiros socorros. Os inscritos também participam de simulações de missões, treinamento para operação com mini rovers (robôs exploradores como os usados pela NASA no espaço).
— Você fica totalmente imerso no programa se sente quase como um astronauta, e eu acredito que essa visão é o que deixa tudo mais incrível no momento. O intensivo também é uma oportunidade de fazer novas amizades e conexões com outras pessoas inspiradoras do Brasil inteiro. É uma experiência realmente fantástica — conta a adolescente.
— A Aini é muito dedicada, e acho que as dificuldades que encontramos no caminho a tornaram cada vez mais resiliente, perseverante e confiante. E focada em realizar seus sonhos — diz a mãe de Aini, Hatsi.
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Além do treinamento na Wogel Enterprise (a startup de fomento à ciência que oferece o treinamento de astronautas análogos) e o acampamento astronômico, a jovem participou do intercâmbio internacional TechGirls 2023, programa internacional para garotas cientistas, na Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, nos Estados Unidos; e o AFS Global STEM Academies 2022, um intercâmbio social voltado para ciência.
A adolescente está envolvida ainda no projeto Rise Up de protagonismo jovem e o Projeto Faldum Viva de monitoramento e educação ambiental, além de já ter participado de olimpíadas científicas e programas de cientista cidadão, e diversas atividades extracurriculares.
Com uma agenda cheia, dividida entre todas estas atividades, a escola, família e amigos, Aini não desanima.
— Se eu, com todas as dificuldades que enfrentei, consegui chegar até aqui, com foco e dedicação e, claro, o apoio da minha família e amigos, acredito que muitos outros jovens podem também conseguir se tiverem acesso a conhecimento, apoio e a força de vontade necessários. Não importa tanto onde você mora mas sim onde você quer chegar e se esforçar para isso. O importante é descobrir o que você ama, seus talentos e ir em frente, pois há muitas e muitas oportunidades de programas e possibilidades incríveis de desenvolvimento em todas as áreas que você pode imaginar para jovens como eu e você — diz.
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Rotina intensa
A rotina de Aini, aos 17 anos, deixaria muitos adultos exaustos. Ela estuda em tempo integral em uma escola de Lages, e por isso, de segunda a sexta, mora em um quarto alugado na cidade. A semana começa na segunda-feira, às 5h30min, quando a adolescente sai de Urupema com destino a Lages. Ela só volta para a casa da família na tarde de sexta.
Durante a semana, divide o tempo entre a escola e reuniões de mentoria, estudos paralelos de cálculo, matemática e física, e atividades físicas (às vezes antes mesmo da aula). E ainda sobra tempo para festas com os amigos.
Na volta para casa, mais estudos, reuniões e atividades extracurriculares. Depois do intercâmbio na Alemanha, ela decidiu também que aprenderia a tocar violão, por isso dedica tempo para aprender o instrumento.
Se engana quem pensa que, depois desta rotina intensa, a adolescente tira os finais de semana para descansar. Pelo contrário: aos sábados, simulado do SAT (uma espécie de Enem americano), mais exercícios físicos, estudos e projetos extras. Tudo isso em meio ao convívio com a família e ajudando os pais no dia a dia no sítio.
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— Por morar longe, às vezes é difícil marcar “rolês” com meus amigos, o que me faz querer aproveitar ao máximo o tempo que estamos na escola, e com isso, minha diversão é muitas vezes algo mais solitário, como aprender uma música nova no violão, fazer exercícios, ler livros ou assistir algum filme/documentário — conta.
Próximos passos
Os próximos objetivos de Aini incluem se candidatar para para uma universidade nos Estados Unidos.
— Atualmente, ser aceita em uma dessas universidades é um dos meus maiores sonhos e estou trabalhando duro para alcançar isso — conta. Os olhos da adolescente brilham com a possibilidade de integrar o mercado aeroespacial e participar de pesquisas na área.
— Nós nos sentimos muito orgulhosos por cada conquista da Aini, pois sabemos o quanto ela se dedicou e está determinada a se aprimorar. Nós sabemos a pessoa incrível que ela é e o quanto ela quer contribuir para a ciência e para transformar o mundo. Isso nos deixa otimistas e com a esperança de que ela faça parte de uma geração que realmente vai fazer a diferença para melhor, que vai ter mais empatia pela vida como um todo e ajudar a encontrar soluções para os desafios que vivemos como sociedade, com ética e responsabilidade — conta Hatsi.
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