Depois da turbulência provocada na segunda década do século 20 pela Primeira Guerra Mundial, quando houve perseguições e restrições comerciais impostas aos alemães, a indústria têxtil de Blumenau começou a experimentar um novo ciclo de crescimento. Na década de 1940, com um polo já consolidado do setor, casas de comércio instaladas na Rua XV de Novembro reconhecidas e que ditavam moda, como a Borba, a Buerger e a Peiter, anunciavam em jornais ofertas de retalhos, tecidos, bordados e artigos de cama e mesa. Até mesmo indústrias, como Cia. Hering e Empresa Industrial Garcia, montaram seus próprios escritórios de venda.
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Aos poucos esse movimento foi consolidando a Rua XV como uma grande vitrine da indústria local, que não exibia apenas os artigos têxteis. Também tinham espaço garantido nas lojas outros produtos que viriam a projetar o nome da cidade em todo o Brasil, como os cristais e os brinquedos. Eram tempos em que as relações comerciais tinham outra característica. A procedência do balconista representava um selo de qualidade que muitas vezes valia mais do que a apresentação da mercadoria.
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— A gente vê relatos de comerciantes da Rua XV que atendiam o pai, o filho e o neto. Eles faziam questão de fidelizar essa clientela. Era uma relação pessoal — conta a historiadora Ana Maria Ludwig Moraes.
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Na década de 1960, empresários articularam com a prefeitura a criação de um conselho municipal de turismo. O objetivo era oficializar políticas públicas para repaginar a cidade, reforçar as origens germânicas e atrair mais compradores. Algum tempo depois, já na década de 1970, a economia local começava viver o que muitos chamam de anos dourados do turismo de compras. Gente de todo o Brasil e até do exterior chegavam atraídos pela qualidade dos produtos made in Blumenau.
— Tinham pessoas que vinham do Rio, São Paulo e outros centros fazer o seu enxoval, comprar os produtos que estavam expostos na XV de Novembro, de produção das nossas indústrias. Cristais, cama, mesa e banho, tudo isso estava exposto. Nos anos 1970, lembro do grande apogeu da vinda dos argentinos. Eles passavam o verão em Camboriú e vinham fazer as compras aqui — recorda a historiadora Sueli Petry.
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Nesta época Blumenau já respirava ares mais modernos. A Rua XV começava a ser verticalizada com a aparecimento de grandes edifícios, como o Blumenau, o Mauá, o Brasília e o Impala, além do Catarinense, tratado como o maior prédio do Estado quando começou a ser construído. No Centro Histórico, surgia o Grande Hotel, um marco para o segmento.

Mudança de rumo
O brilho da Rua XV, no entanto, começou a ser ofuscado a partir dos anos 1980. Como muitas empresas da cidade tinham expandido a atuação pelo país, filiais e pontos de venda abertos em outros estados dispensavam a necessidade de compradores virem até Blumenau em busca de produtos típicos.
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— Hoje a toalha que você compraria aqui, encontra em Manaus, em Porto Velho. Porque a nossa indústria aumentou a distribuição, não só no país. Eu já encontrei toalha nossa em Barcelona — contra o empresário Emilio Schramm, presidente do Sindilojas.
Naquele período, lojas de departamentos oriundas dos grandes centros do Brasil já disputavam mercado com as casas locais de comércio e apostavam em novas estratégias de marketing e de vendas. As novidades trazidas pela televisão ajudavam a furar o conservadorismo do blumenauense que até então prezava sobretudo pela origem daquilo que comprava.
A crise econômica que o Brasil enfrentava na época provocou outras consequências drásticas: a indústria foi atingida, a era da hiperinflação derretia o poder de compra e muitas lojas tradicionais que não acompanharam a evolução dos tempos começavam a fechar as portas. Não bastasse tudo isso, a Rua XV de Novembro sofreu com duas grandes enchentes, em 1983 e 1984, que atiraram o comércio contra as cordas.

Além da economia
A XV de Novembro geralmente é associada ao comércio e à economia, mas ao longo da história foi palco de acontecimentos diversos, incluindo mobilizações políticas e manifestações culturais e sociais. Em 1934 (foto acima), por exemplo, moradores se mobilizaram contra um decreto que desmembrava o território blumenauense, o que abriu caminho para a criação dos municípios de Indaial, Gaspar, Timbó e Dalbérgia (que viraria Ibirama).
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Em 1940, o então presidente Getúlio Vargas, em visita à cidade, transformou o Teatro Carlos Gomes em palanque. A XV também serviu de passarela para a miss Vera Fischer, sem contar os inúmeros desfiles da Oktoberfest e de datas comemorativas. Diversas categorias profissionais, como ferroviários, eletricitários, bancários e professores, ganharam nela visibilidade para suas reivindicações ao longo da história.