O ciclista Gabriel de Faria Dietrich, de apenas 21 anos, morreu atropelado enquanto transitava na SC-415, entre Araquari e Balneário Barra do Sul, a caminho do trabalho. O caso, que aconteceu em 26 de junho, é uma entre as 1.066 ocorrências de trânsito envolvendo ciclistas, atendidas pelos bombeiros militares, nos primeiros seis meses de 2025. No Brasil, somente na última década, 13 mil ciclistas morreram em acidentes de trânsito.
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O número expressivo levanta questionamentos sobre a infraestrutura adequada para bicicletas em todo o país. Em Santa Catarina, 5,2% das vias possuem sinalização para bicicletas. O número está acima da média nacional, que é de 1,9%.
Acidentes com ciclistas em SC
O Estado registrou 1.066 ocorrências de trânsito envolvendo ciclistas nos primeiros seis meses de 2025, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC). O número é ainda maior em relação às vítimas de acidentes envolvendo ciclistas, com 1.120 pessoas, 13 a mais do que no mesmo período de 2024.
Já as ocorrências atendidas pela Associação dos Bombeiros Voluntários no Estado de Santa Catarina (ABVESC) mostram um número menor, mas ainda expressivo. De janeiro a junho de 2025 foram 692 acidente envolvendo ciclistas, em todas as 52 cidades atendidas pela associação. O total não alcançou o número de 2024, quando foram registrados 707 ocorrências no mesmo período.
O número total de ocorrências no Estado não pode ser somado, entre atendimento dos militares e voluntários, porque ambas as corporações podem atuar simultaneamente na mesma ocorrência.
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Jovem ciclista morto na SC-415
O acidente que vitimou Gabriel também é contabilizado na estatística. O ciclista, que era natural de Joinville, no Norte de Santa Catarina, havia se mudado há poucos dias para Balneário Barra do Sul com a esposa Amanda Bernardes.
No dia 26 de junho, porém, ao pedalar a caminho do trabalho Gabriel foi atropelado por um caminhão na rodovia. O Corpo de Bombeiros Militar foi acionado por volta das 06h50min, mas, ao chegar no local, a guarnição encontrou o ciclista caído na pista e sem vida.
Após o acidente, Amanda revelou à reportagem do NSC Total que o casal sonhava em criar uma família e ter filhos. Ela ainda contou sobre a falta que Gabriel faria em sua vida. A esposa também se mostrou preocupada com a situação da SC-415.
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— Preciso que eles deem um jeito nessa via onde meu marido foi atropelado. Porque não tem nem onde andar de bicicleta e não tem nem uma luz de poste — disse Amanda.
Como está SC-415
A SC-415 é uma rodovia de pista simples e sem acostamento. Quando está escuro, o trecho ligado à BR-280 mostra a precariedade da iluminação. A maior parte das luzes são de casas ou comércios à beira da estrada.
Em relação à iluminação, a Secretaria de Estado da Infraestrutura e Mobilidade (SIE) afirma que essa é uma responsabilidade do município, que deve fazer o investimento por meio da receita do imposto da Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip).
Já a administração de Barra do Sul informa que não tem recurso suficiente para isso e que prioriza entroncamentos principais como rotatórias e acessos a bairros, como o Conquista, onde Gabriel morava.
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— Sendo uma rodovia estadual, a gente tem que cobrar do estado. Como a cidade é pequena, não tem como municipalizar essa rodovia por inteiro e fazer as melhorias. O município não tem arrecadação suficiente. Então, a gente depende do estado para que essa rodovia de acesso ao município seja mantida — alegou a administração municipal de Balneário Barra do Sul.
Já com relação ao acostamento, o estado afirma que a execução é extremamente complexa. A implementação de acostamentos tem, praticamente, o mesmo custo de pavimentar uma rodovia — ou seja, a construção dessa via quase dobra o valor de uma obra, segundo o governo.
“Na SC-415, a questão de acostamento, que envolve, entre inúmeros aspectos, a desapropriação de longa extensão de terras, está sob análise, das áreas técnicas, de viabilidade técnica e econômica. Não se trata apenas de passar uma máquina para fazer o acostamento”, afirmou a SIE em nota.
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O governo do estado ainda lamentou a morte de Gabriel e afirma que aguarda o laudo pericial das autoridades competentes para se saber a real causa da fatalidade.
“Infelizmente o cenário é esse”
Para Márcia Pontes, especialista em segurança do trânsito, as cidades que crescem de forma não sustentável têm vias estreitas demais para colocar em prática o exigido por lei, ou seja, ruas onde se consegue manter uma distância mínima de um metro e meio entre veículos e bicicletas. A pesquisadora ainda afirma que a maior parte dos municípios não possui nem 5%, ou 10% de malha cicloviária.
A especialista relata ainda que a bicicleta já foi vista como um brinquedo. Mas o meio de transporte deve ser tratado de forma séria, já que é um veículo de propulsão humana que está sujeito às regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
— O ciclista, infelizmente, é a parte mais frágil no trânsito. E pedalar em rodovia, Deus me livre, só se for absolutamente necessário. [Tem que] usar refletivo, não passar muito perto de ônibus e caminhão, porque a força de empuxo vai jogar esse ciclista para debaixo do veículo. Aquele ventão de uma carreta passando desestabiliza o ciclista. Então é muito perigoso, jamais se deve pedalar em rodovia. E infelizmente o cenário é esse — relata a especialista.
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A pesquisadora afirma que muitos acostamentos são menores do que os recomendados, o que também traz riscos aos ciclistas. Márcia lembra ainda que os ciclistas devem andar apenas no sentido da via, de preferência com roupas claras e refletivas.
Sinalização dentro das cidades
De acordo com o levantamento de Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2025, Santa Catarina tem 5,2% das vias com sinalização para bicicletas.
A pesquisa levou em consideração ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas, incluindo temporárias, para lazer. Também foram consideradas sinalização vertical ou horizontal na pista de rolamento ou em calçadas compartilhadas nas áreas urbanas.
Além da porcentagem estadual, o levantamento trouxe dados das cidades com maiores e menores percentuais de vias sinalizadas para bicicletas. Santa Catarina se destaca com sete cidades entre o ranking de maiores percentuais, liderando a lista:
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- Joinville – com 11,2% de vias sinalizadas para bicicletas;
- Jaraguá do Sul – com 9,8%;
- Itajaí e Balneário Camboriú – com 7,2%;
- Florianópolis – com 7,1%;
- Blumenau – com 6,8%;
- Brusque – com 4,3%.
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