Vencedora do prêmio Jabuti e com mais de 20 livros publicados, Socorro Acioli é a grande atração da Feira do Livro de Joinville nesta segunda-feira (2). Em entrevista exclusiva, a escritora revelou detalhes da sua trajetória de sucesso e os planos para sua carreira nos próximos anos, incluindo projetos audiovisuais. A 21ª edição do maior evento literário de Santa Catarina acontece até o próximo domingo (8) no Centreventos Cau Hansen.
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Socorro nasceu em Fortaleza, no Ceará. É jornalista e professora, Mestre em Literatura Brasileira e com Doutorado em Estudos de Literatura. A autora escreve para crianças, jovens e adultos. A escritora de sucesso foi a única brasileira aluna de Gabriel García Márquez na oficina “Como contar um conto”, em 2006. O livro iniciado na oficina, “A cabeça do santo”, é um de seus trabalhos mais reconhecidos, com publicações no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, França, México e Itália.
Veja fotos de Socorro Acioli na Feira do Livro de Joinville
A escrita surgiu na vida de Socorro Acioli ainda na infância, quando rascunhava seus primeiros livros na escola e se tornou uma ferramenta de transformação. Quando ainda era criança, a autora enfrentou momentos familiares difíceis, mas que não a limitaram. Mesmo ouvindo que “ser escritora não é profissão de verdade”, Acioli insistiu no sonho e superou seus limites. Em 2013, foi premiada com o prêmio Jabuti com seu livro infantil “Ela tem olhos de céu”.
Confira abaixo a entrevista completa com a escritora
Você compartilhou durante sua palestra sobre o poder da literatura e como isso pode mudar a vida das pessoas. Qual é a sensação de saber que as suas palavras e histórias conseguem mudar e modificar a vida de tantas pessoas no Brasil?
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É uma felicidade muito grande saber que os livros estão se espalhando pelo Brasil inteiro. É cumprir o que é a natureza do meu trabalho de escrever. A escrita só existe se alguém estiver lendo. E são muitas pessoas lendo e discutindo histórias que são histórias brasileiras, histórias com a alma brasileira que se passam no Brasil e que trazem e que discutem várias questões que formam a nossa identidade como nação. Várias questões de sincretismo religioso, as nossas relações com outros países, com países africanos, latino-americanos e histórias de fé e de pessoas. Em geral, os meus protagonistas são pessoas que vêm de situações desprovidas de tudo e que conseguem realizar transformações nas próprias vidas. É muito gratificante para mim.
Você falou sobre a importância da literatura na vida das pessoas, mas como o ato de escrever se tornou ferramenta de transformação na sua própria vida?
É curioso, porque é uma coisa que eu quis fazer desde cedo e eu passei muito tempo acreditando que não seria possível, porque as profissões artísticas no Brasil ainda têm uma certa dificuldade de acontecer para a maioria das pessoas. O trabalho do artista ainda é um pouco, um pouco não, bastante incompreendido. Mas eu sempre acreditei que, para além de tudo o que as pessoas veem, a fama, visibilidade, número de livros vendidos, existe uma missão de um processo de escrita íntimo e solitário e que chega nas pessoas também de forma íntima e solitária, porque a leitura é um ato de silêncio. Se lê em silêncio, eu escrevo em silêncio, as pessoas leem em silêncio. Então, eu me sinto constantemente chegando muito perto das pessoas e podendo levar essas coisas que eu acredito, sobretudo o amor pelo Brasil.
Sobre o seu processo de criação, uma matéria que você leu em um jornal acabou se tornando um dos seus livros mais famosos, “A cabeça do Santo”. Como é o seu processo antes de escrever uma história, antes de entregar um livro, de se sentar e transformar seu pensamento em palavras?
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Eu sou jornalista. Minha formação inicial é como jornalista e eu tenho muito orgulho disso. Apesar de não ter trabalhado em redação por muito tempo, eu continuo jornalista na minha forma de olhar o mundo e de apurar os fatos. Quando eu encontro uma situação real que eu acho que vai render um livro, eu primeiro trabalho nessa situação como uma jornalista trabalharia para escrever uma matéria: apurando os fatos, visitando, entrevistando e depois eu deixo que a imaginação complete as lacunas. O meu método começa assim, primeiro com pesquisa, porque em geral tudo que eu tenho escrito até agora parte de histórias verdadeiras. Depois, uma organização muito metódica da estrutura do que eu vou escrever. Quantos capítulos eu vou escrever, qual o tamanho de cada capítulo em um primeiro momento. Depois vem o momento de trabalhar com a linguagem. Como é que esses personagens falam, que tipo de palavras eles usam, qual é o universo dessas palavras. Eu tenho uma relação muito íntima com a música também, então acaba que a música faz muito parte do processo e eu demoro muito a escrever. Demoro a escrever, demoro revisando, mas basicamente o processo é esse, pesquisa, estrutura e depois o trato com o texto.
Você teve a honra de participar de um curso de escrita com o autor colombiano Gabriel Garcia Márquez em 2006. Qual foi a principal lição que esta oportunidade trouxe para a sua carreira como escritora?
São muitas lições. A primeira lição que ele deu, sendo já um escritor com prêmio Nobel, com quase 80 anos de idade, que todos os anos, durante 20 anos, parava uma semana da vida dele para estar com jovens criadores, roteiristas e escritores, para ensinar o que ele podia ensinar, o que ele sabia. Então essa lição de sempre entender que o mundo precisa desse movimento, que as pessoas precisam estar dispostas a ouvir os outros. Porque eles, sobretudo, ouviam as histórias das pessoas que tinham escutado dele. Essa foi a primeira lição. E a segunda é a perseverança, porque ele também passou por muitos, muitos “perrengues” para se tornar o escritor que ele se tornou. Primeiro a família não aceitava, ele iria fazer uma carreira no direito, mas não fez. Enfim, ele precisa de fato perseverar para escrever o livro dele. São muitas coisas, mas essas duas, a perseverança e esse senso de comunidade, são as mais fortes.
Durante sua fala aqui na apresentação, você comentou que dois livros estão para se tornar filme. Pode falar sobre esse processo e da sensação de saber que agora as suas obras podem sair do papel e atingir ainda maior um público também no audiovisual?
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É um processo muito demorado, muito lento, mas é possível que nos próximos anos, a gente tenha esses dois filmes, “O Cabeça do Santo” e “Oração para desaparecer”. Os filmes vão trazer mudanças em relação ao livro, porque são duas linguagens muito diferentes. As adaptações precisam passar por mudanças que têm coisas que o texto literário comporta e que o audiovisual não comporta. Mas eu tenho uma extrema confiança nas diretoras. Eu estou muito ansiosa para ver esses filmes nas telas.
Por fim, quais são os planos para os próximos livros?
Tem um livro que já está pronto, vai sair em breve, o “Ópera do Medo”, continuação da “Bailarina Fantasma”, que é um livro para jovens. Mas eu estou escrevendo um livro chamado “Delírio de São Pedro”, que é um próximo romance que ele vai seguir essa fila dos meus romances, depois de “Oração para desaparecer”. Mas é uma história muito maluca, é sobre um menino que é enganado, porque dizem a ele que se ele juntar um dinheiro, ele consegue comprar uma mãe, porque existe uma loja que vende pai, mãe, irmão e ele junta o dinheiro e ele é enganado, obviamente. E o livro é sobre ele.
Socorro Acioli sobe ao palco às 19h desta segunda-feira para um encontro com os leitores. A 21ª Feira do Livro de Joinville segue até 8 de junho com diversas atrações e presença de outros escritores renomados. Confira a programação no site oficial.
Antonietas
Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.
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