A Polícia Civil investigava há uma semana os motivos que levaram Alessandra Abdalla, de 45 anos, a pedir uma medida protetiva contra o ex-companheiro. Ela foi assassinada a tiros pelo homem na manhã desta quinta-feira (24), quando chegava para trabalhar em uma escola no bairro Tapera, em Florianópolis. O suspeito pelo crime ainda não foi localizado.
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De acordo com a polícia, a medida foi solicitada em 15 de novembro. No dia anterior, Alessandra teria sido sequestrada e ameaçada pelo suspeito após pedir a separação. Em depoimento, ela disse que era a primeira vez que sofria algum tipo de violência por parte do suspeito.
Andrea Fernandes, diretora da escola onde Alessandra trabalhava, conta que a colega havia comunicado na terça-feira sobre o boletim de ocorrência que registrou contra o homem.
— Eu disse Alessandra se cuida, qualquer coisa me comunica e não fica em casa […]. Depois ela me disse que não tinha condições emocionais para trabalhar. Eu sou muito acolhedora e eu disse: fica tranquila — explica.
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Quem era a professora assassinada a tiros em Florianópolis: “Mulher feliz e de atitude”
A vítima voltou ao trabalho apenas na segunda-feira (21), quando a diretora conversou com a Alessandra. Ela contou que tinha sido ameaçada durante toda a noite pelo suspeito e que ele tinha colocado a arma no peito dela. A professora, no entanto, conseguiu fugir, momento em que fez o boletim de ocorrência contra o suspeito.
Conforme a polícia, a investigação contra as ameaças estava na etapa final. Na quarta-feira (23), um mandado de busca e apreensão foi feito, a fim de procurar a arma do suspeito, porém ele não foi localizado. Ainda de acordo com a investigação, após a medida, o ex-companheiro não teria mais procurado Alessandra.
O suspeito é policial militar e atuava no 4° BPM. Ele já tinha respondido um processo disciplinar por conta de uma conduta agressiva durante uma ocorrência e, por isso, atualmente trabalhava em funções administrativas.
Sobre a medida protetiva e a suspeita de sequestro, a PM alegou que não tinha conhecimento da situação. (confira a nota na íntegra)
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O que é a medida protetiva?
A medida protetiva, prevista em lei, tem como objetivo proteger mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, tendo como base a Lei Maria da Penha. Ela prevê que o agressor mantenha uma distância mínima entre a mulher e os filhos, e é emitida após a denúncia em uma delegacia.
Em caso de risco de morte, a lei prevê, ainda, que o juiz pode determinar que a mulher seja acolhida por um abrigo institucional ou lugar protegido.
Segundo a advogada e especialista em direito da mulher, Tammy Fortunato, as medidas protetivas são eficazes. Porém, é preciso levar em conta o período crítico da separação, que é onde ocorre a maioria dos crimes de feminicídio.
— A medida protetiva é só um papel. Quem estava investigando o crime que teria acontecido, o motivo pelo qual ela solicitou, é a Polícia Civil. O que pode ter acontecido, essa mulher que foi morta, ela entrou no perfil de quatro e seis meses onde acontece o feminicídio, e ela foi mais uma vítima, infelizmente. Existiu a medida protetiva, mas esse homem quebrou a medida, não deu bola para esse papel, e se achou superior e no direito de tirar a vida dela — diz.
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Entenda o caso
O crime ocorreu por volta das 7h30min no bairro Tapera, em Florianópolis. A mulher chegava para trabalhar quando foi surpreendida pelo homem. Depois de uma discussão, o suspeito disparou contra Alessandra, que não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
A vítima foi identificada como Alessandra Abdalla, de 45 anos. Ela atuava como servidora da prefeitura desde fevereiro de 2014. Em nota, o município disse que a comunidade está em “choque’.
O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) também lamentou a morte da servidora. Nas redes sociais, o sindicato disse que “trata-se de um crime cruel e estúpido que causa dor em todos nós”.
Veja a nota da PM na íntegra:
“A Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) através do comando do 4º BPM, de Florianópolis, atendeu nesta quinta-feira, 24, por volta das 7h30 da manhã, uma ocorrência em que uma mulher teria sido alvo de vários disparos de fogo próximo a uma creche, localizada no bairro da Tapera. Chegando ao local foi confirmado que a situação se tratava de um Feminicídio.
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A mulher foi atingida com vários disparos de arma de fogo e, ao que tudo indicava, teriam sidos disparados pelo ex-companheiro. Imagens do local o identificaram. Depois de uma discussão ele disparou contra a mulher e fugiu para um destino ignorado.
Com as imagens, foi possível a identificação do homem, um policial militar da ativa, lotado no 4º BPM, que estava com restrição do serviço operacional, realizando trabalhos administrativos.
O comando do 4º BPM esclarece que não tinha conhecimento que a mulher havia pedido uma medida protetiva contra o ex-companheiro.
As buscas pelo foragido seguem, com apoio do Batalhão de Operação Especiais (BOPE) para que o mesmo seja preso e levado à Justiça.
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Esta tragédia e seu desfecho segue como prioridade do 4º BPM, e assim que houver novos encaminhamentos a PMSC divulgará nova nota.
Nossos consternados sentimentos à família da vítima e à sociedade, diante deste episódio de profundo pesar.
Centro de Comunicação Social – PMSC
Comando do 4º BPM – Florianópolis“.
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