Construído no coração da Ilha de Santa Catarina quando ela ainda se chamava Desterro, o Teatro Álvaro de Carvalho chega aos seus 150 anos, neste domingo (7), com muitas histórias para contar. Fundado em 1875 sob o nome de Theatro Santa Izabel, em homenagem à princesa filha de Dom Pedro II, o teatro foi o primeiro a ter um projeto em Santa Catarina, em 1854, mas ganhou forma apenas 21 anos depois – sendo, assim, o segundo inaugurado no Estado, depois do teatro Theatro Adolpho Mello, em São José, de 1856.
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O TAC (como ficou conhecido) surgiu por iniciativa de um grupo de jovens que queriam construir um teatro para a cidade, em uma época em que várias construções do tipo nasciam em outras províncias do Brasil, como o Theatro São Pedro, em Porto Alegre, e o Teatro de Santa Isabel, em Recife. Mas a trajetória catarinense começou marcada por dificuldades: a construção levou duas décadas, em meio a desistências de acionistas, períodos de abandono e apresentações improvisadas no espaço inacabado.
Finalmente, em 7 de setembro de 1875, o então Theatro Santa Izabel foi inaugurado com a peça Amor e Infância, da Sociedade Dramática Particular Recreio Catarinense. Na época, o público se deparava com um palco modesto, sem iluminação própria ou assentos fixos.
— Era como se fosse um salão comunitário, com um pequeno palco e a plateia plana — descreve o servidor do Centro de Artes, Design e Moda (Ceart/Udesc) Ivo Godois, que pesquisou a história do TAC em seu mestrado.
O nome atual, Teatro Álvaro de Carvalho, foi trocado em 1894, como forma de romper referências à extinta monarquia. O título homenageou o tenente e comandante da Marinha morto em 1865, na Guerra do Paraguai, considerado o primeiro dramaturgo catarinense: Álvaro Augusto de Carvalho, nascido em Desterro.
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Veja fotos do TAC atualmente
Do cinema ao glamour
O TAC também fez história ao sediar a primeira exibição de cinema em Florianópolis. Em 1º de novembro de 1901, o cinematógrafo Mr. Kaurt exibiu A Guerra do Transvaal. Nas décadas seguintes, as exibições de cinema se intensificaram:
— Ele funcionava tanto como teatro quanto como cinema. E cada empresário que assumia podia mudar o nome: Cine Variedades, Cine Paramount, Royal Cine Teatro, Cine Odeon… Era uma época de muita transição — explica
Foi só em 1955, durante o governo de Irineu Bornhausen, que o TAC passou pela reforma mais significativa de sua história, ficando da forma como conhecemos hoje. Coordenada pelo arquiteto e engenheiro Tom Wildi Filho, a intervenção mudou completamente a cara do teatro por dentro — mantendo apenas a fachada original.
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— Literalmente só sobrou a casca. Foi quando ele ganhou a forma de teatro à italiana, com plateia inclinada e balcões em ferradura — diz o Ivo Godois.
A partir daí, o TAC entrou de vez em sua era glamourosa. Tornou-se ponto de encontro da alta sociedade e passou a receber grandes companhias nacionais e internacionais. O palco recebia companhias de prestígio, que paravam em Florianópolis no percurso entre Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Foi nessa época que Valdir Dutra, futuro mestre do teatro infantil catarinense, começou sua trajetória no local. Trabalhou como lanterninha, porteiro, bilheteiro, iluminador e gerente.
— Eu aprendia muito com as pessoas que vinham para cá, porque eles ensaiavam aqui antes de se apresentarem. Aqui passou Procópio Ferreira, Glória Menezes, Tarcísio Meira — recorda Dutra.
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A acústica do TAC sempre foi um diferencial, pontua Dutra. Com formato de ferradura, o teatro não demanda o uso de microfone.
— A acústica dele é fantástica. Ele é pequeno e o som corre por dentro, você não precisa nem usar microfone, vai no gogó. É um dos únicos do Brasil com essa estrutura.
Fantasmas e reformas
Com o tempo, também nasceram as histórias de assombrações. Há relatos de vultos, barulhos e até da presença de uma artista que teria morrido e permanecido no local. O corredor subterrâneo que liga o palco à entrada é apontado como o espaço mais “assustador”.
— Pessoas mais sensitivas não conseguem atravessar o corredor. Algumas dizem que viram alguém na plateia e, quando olharam de novo, não havia mais ninguém — relata Djames Klauberg, coordenador de palco do TAC.
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Ele, no entanto, atribui os ruídos à estrutura:
— É uma construção grande, com telhado todo de madeira. De dia esquenta, à noite esfria, a madeira trabalha e estala.
Patrimônio estadual de Santa Catarina
As reformas também fazem parte da história do teatro. Depois da transformação de 1955, vieram novas intervenções em 1976, 1986 e 1989. Em 1988, o TAC foi tombado como patrimônio estadual.
A mais recente reforma foi concluída em março de 2025, após 14 meses de obras que custaram R$ 5 milhões ao governo estadual. A reforma modernizou a parte elétrica, substituiu poltronas, cortinas, carpetes e restaurou o lustre e os vitrais originais.
— Os tapetes que ela tinha originalmente estão de volta. O lustre foi restaurado, os vitrais recuperados. Tivemos o cuidado de entregar o TAC como sempre foi, como foi no seu original. A importância do TAC para o público e para os artistas é imensurável — diz a presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Maria Teresinha Debatin.
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Um teatro para aplaudir de pé
Atualmente, o TAC é palco exclusivamente de espetáculos artísticos e culturais. Segundo Vanderleia Will, que dá vida à icônica Dona Bilica, o teatro guarda memórias de seus mais de 30 anos de carreira.
— Quando eu decidi fazer teatro, me lembro muito bem que apresentar no TAC era uma coisa glamourosa. Era um grande teatro — recorda a atriz, que iniciou a carreira em 1988.
Aos poucos, Vanderleia foi “subindo degrau por degrau” até conseguir lotar o TAC com espetáculos como Dona Bilica, Malas Prontas e Desajustada. Em 7 de outubro irá apresentar seu novo espetáculo, A Mulher Invisível, sobre envelhecimento feminino.
— O TAC sempre foi um espaço público, do povo. Ele é democrático — celebra a atriz.
Valdir Dutra concorda:
— E um teatro para aplaudir de pé.
Veja fotos do teatro reformado
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Veja a programação de 150 anos do TAC
DIA 7/9 (domingo) TAC EM FESTA – O TAC é nosso
18h: Recepção na Escadaria: OSSCA
18h30: Apresentação do pianista Pablo Rossi
19hs: Cerimonial – Parabéns ao TAC
19h: Apresentação da Orquestra Novo Alvorecer
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