O quintal da casa de Nivaldo Kath, no alto da Rua Henrique Reif, no bairro Nova Esperança, não é só um refúgio para o aposentado. Entre o cuidado com os bichos e as plantas, ele revive as memórias de um fato que faz parte da história de Blumenau. Foi pelo mato atrás da casa dele, há pelo menos 60 anos, que o pai saiu para caçar uma onça que ameaçava os moradores da região.
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Esse episódio acabou rebatizando o então Morro do Abacaxi como Toca da Onça. Nivaldo é filho de Alfredo Kath, um dos quatro caçadores que resolveram enfrentar o animal para proteger as famílias do perigo. O patriarca morreu em 2009, aos 87 anos, e contava sobre aquele dia em que acompanhado dos vizinhos Eugênio Klein, Ernesto Schoenau, David Bolch e um cachorro entrou na mata à procura do felino.
Grandes pegadas no chão e ossadas de bichos mortos foram os sinais que levaram os moradores da região (na época pouco habitada) a ficarem atentos à presença da onça.
— Eles perceberam que podia machucar alguém, aí decidiram sair para tentar abatê-la e deu certo — recorda Nivaldo.
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Ele afirma ainda que a captura levou certo tempo. Os caçadores teriam saído no domingo e só retornaram do mato na segunda-feira à tarde, por volta das 16h.
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Origem do animal foi motivo de discussão
A origem da onça até hoje é motivo de discussão. O Arquivo Histórico José Ferreira da Silva aponta duas hipóteses bastante debatidas na época, em 1953. Havia quem acreditasse que o felino era foragido de um circo. Outros defendiam que em consequência de uma onda de frio, ela desceu do planalto em busca de clima mais quente e ficou pela região.
O animal, de aproximadamente 90 quilos e dois metros e meio de comprimento, foi abatido com tiros de espingarda e levado ao Grêmio Esportivo Olímpico, na Alameda Rio Branco.
Nivaldo conta que lá o couro do bicho foi tirado. Daquele dia em diante, os moradores afirmam não ter visto mais sinais de nenhuma onça. Isso porque, durante um tempo, houve a preocupação de que existisse ao menos mais um. Foi o que sugeriu o jornal A Nação na época, ao publicar: “É bom ter cuidado, uma vez que as onças costumam andar aos pares.”
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A professora e historiadora Sandra Regina Rosa da Costa fez um trabalho com os alunos da comunidade da Toca da Onça para resgatar a história que deu nome à região. Ela afirma que os estudantes entrevistaram a mãe de Nivaldo, dona Helga, em 2006. A idosa teria dito que a comunidade sentia muito medo depois de saber que havia uma onça rondando as terras, principalmente porque as crianças iam para a escola por uma picada no meio do mato.
Depois que a onça foi abatida, muitos caçadores afirmavam que eram os responsáveis pelo feito. As fotos, porém, mostram apenas os quatro vizinhos e o cão junto com o animal já sem vida e fora do mata.
— Houve uma carreata na Rua XV de Novembro com a onça em cima de um automóvel. Depois, levaram para o Olímpico e lá sortearam a pele — recorda Sandra.
Caçar é crime
Desde 1998, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente é crime contra o meio ambiente. A pena prevista é detenção de seis meses a um ano e multa.
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