A expectativa de especialistas para o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente da Presidência da República é, ao menos para um primeiro momento, de uma transição difícil, devido à acirrada polarização com o governo Jair Bolsonaro (PL), e de redução das tensões entre os três Poderes, que foram constantes ao longo dos últimos quatro anos. O presidente recém-eleito assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2023.

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Lula foi escolhido por 60.345.999 eleitores, o equivalente a 50,90% dos votos válidos do segundo turno das eleições de 2022, enquanto Bolsonaro teve 49,10% (58.206.354) — a margem foi a mais apertada já tida em disputas presidenciais no período da redemocratização, desde 1989. Ao NSC Total, o professor Daniel Pinheiro, que leciona sobre administração pública e trabalha com cultura política, diz que a polarização dos números marcará também uma transição difícil.

— Lula vai, provavelmente, enfrentar um pouco de dificuldade na transição, porque tivemos aí quatro anos de um governo bastante diferente. Existe a questão de como será essa transição, se será permitido que os técnicos trabalhem, que seja feito um planejamento — diz Pinheiro, que é docente da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), sobre os dois meses restantes de governo Bolsonaro.

O pesquisador afirma ainda que o atual presidente deve seguir no radar político, apesar da derrota, e acrescenta que o campo conservador se manterá enraizado com figuras para além de Bolsonaro, caso dos nomes recém-eleitos para o Legislativo.

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— Ele tem algumas características que o favorecem, chama atenção, faz discursos mais fortes, não tem medo de enfrentamento, o que deixa ele em evidência. Dito isso, vai ser um nome forte de oposição — afirma o cientista político.

Já o economista Eduardo Guerini, professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), diz entender que, mesmo com a eleição de diversos aliados de Bolsonaro ao Congresso, o governo Lula deverá reduzir as tensões do Executivo com os demais Poderes, em especial com o Judiciário, alvo de contantes ataques na gestão Bolsonaro, inclusive com ofensas pessoaIs do atual presidente a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em seu discurso após a vitória, Lula afirmou que também retomaria o diálogo no país com governadores e prefeitos, independentemente do partido a que pertençam. Também sinalizou aproximação com os Estados Unidos e a União Européia.

— Há uma tentativa de retomada do diálogo democrático, da defesa do Estado de direito e do protagonismo do Estado em políticas públicas que gerem empoderamento e ampliação da cidadania. Também será um momento de redução da tensão entre os Poderes — diz Guerini, que afirma também aguardar um governo menos ideológico.

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— Há um enredo que colocou a candidatura de Lula em uma frente ampla, ou seja, não será um governo com as cores do petismo. Vai ser um governo de frente ampla, de consolidação democrática e de luta contra os retrocessos autoritários estabelecidos pelo governo Bolsonaro. Mais do que isso, haverá um afastamento da agenda de costumes, embora tenhamos um Congresso conservador eleito.

O pesquisador avalia ainda que Bolsonaro deverá manter contestações ao processo eleitoral até a posse de Lula e seguir no cenário político sem necessariamente se colocar à frente da oposição, adotando a mesma postura de Donald Trump nos Estados Unidos.

Também professor da Univali, o sociólogo Sergio Saturnino Januario vai ao encontro do que diz Guerini sobre a ampliação do diálogo, justamente para superar a polarização.

— Pela primeira mão de chamar Geraldo Alckmin já havia se trilhado os caminhos de abertura, para se evitar o “petismo”. Com a chegada de Simone Tebet e sua identidade de estadista, por exemplo, Lula incorpora ao novo governo um senso de conciliação.

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O cientista social acrescenta que Lula precisará lidar com um cenário econômico preocupante, o que também se impõe no restante da América Latina, na Europa e sobre outras grandes economias do mundo, sem um plano de desenvolvimento concreto.

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