Uma voz num telefone é o suficiente para Aaron Sorkin conseguir manipular as emoções do espectador no interessante Being the Ricardos, que conta a história de Lucille Ball (Nicole Kidman) e seu marido Desi Arnaz (Javier Bardem), os quais, no auge de um dos sitcoms mais famosos dos EUA – I Love Lucy -, recebem acusações de envolvimento no partido comunista.
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Conhecido por ser um roteirista capaz de dar profundidade política aos mais diversos dramas e romances, Sorkin reconstitui esse período com uma grande necessidade de informações ao longo das duas horas de filme. Quem são Lucy, Desi e aquelas pessoas envolvidas na produção de I Love Lucy? O diretor simula um falso documentário para contar, tentando conferir uma dinâmica que nunca vem totalmente.
De certa forma, a direção de Aaron Sorkin é muito mais influenciada por Spielberg do que o antigo parceiro do roteirista, David Fincher. O emocional spielbergiano não combina tão bem com o humor ácido e as falas rápidas, o que dificulta o filme como um todo. Ainda assim, Sorkin consegue ser eficiente em manipular o público e a atuação de Nicole Kidman é provavelmente a melhor da carreira, o que deve render o Oscar de melhor atriz a ela.
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A principal concorrência de Kidman é Kristen Stewart, cuja atuação em Spencer é magnífica. O filme de Pablo Larrain é uma obra decadente, incômoda, onde sua protagonista parece dançar uma espécie de marcha fúnebre anunciada. O mundo em que Diana vive é controlador e cronometrado. Ela é o desequilíbrio. O filme conta os últimos dias do casamento da princesa Diana com o príncipe Charles.
Sempre que penso no cineasta chileno Pablo Larrain, eu penso nas músicas de seus filmes. Ou no som. É a primeira memória de Neruda, por exemplo, que tenho. Aqui, a música surge melancólica, contínua e sobrecarregada. Em notas cadenciadas. Às vezes, como um tango antigo; noutras, com influências jazzistas.
Os travellings que o diretor utiliza evocam seu filme passado, Jackie, com Diana entrando poética nos grandes corredores do castelo. Ela busca instabilidade, a adrenalina, enquanto os outros projetam passo a passo, esperando o direcionamento a ser dado. Stewart é irretocável, e Larrain aproveita os closes nos olhares deprimidos da protagonista, sem saída e encurralada.
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Belfast, o principal concorrente a uma estatueta de melhor filme, é o novo filme do talentoso Kenneth Branagh (Thor, Hamlet, Cinderela), que registra um período antigo de sua infância, quando testemunhou uma eclosão popular violenta numa pequena cidade da Irlanda do Norte, local em que mora Buddy (Jude Hill), a nossa referência. Estamos no ponto de vista restritivo do pequeno garoto, o qual transita por um mundo que passa a se mostrar estimulante, musical, inofensivo, aventureiro e melancólico, ao mesmo tempo que a violência anda à espreita.
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Como uma coleção de fotografias empoeiradas, Branagh relembra as imagens de sua infância com controle e clareza absolutos. O cineasta usa uma lente grande angular para dar uma sensação maior do quadro e evidenciar cada posição de cada pessoa na foto. Quando necessário, ele utiliza a profundidade de foco para conferir maior dramaticidade para algumas situações, como quando os pais de Buddy brigam pela janela, enquanto ele entra na casa. Ou quando as brincadeiras das crianças acontecem entre discussões importantes.
Existem repetições envolventes no filme, como a percepção da casa de infância para as crianças e o eco da frase: “Qual estrada você vai pegar?”. A casa de seus pais parece enorme para um garoto que não se dá conta da pobreza e da imoralidade que o cerca. Há uma cena na igreja em que o Pastor grita pela morte dos infiéis, enquanto atrás de Buddy está uma placa que mostra: “GREATER LOVE” (“o amor maior”). Em vários momentos, o protagonista se refugia no cinema e nas coisas simples. O cinema, afinal, pode nos salvar da vida real. É com essa visão que Branagh provavelmente ganhará os votantes do Oscar no início de 2022.
Confira os trailers dos filmes:
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