O setor de supermercados vivencia um momento de expansão em Santa Catarina. O Estado tem o quinto maior faturamento do ramo, possui seis das 50 maiores redes do país e emprega 200 mil pessoas de forma direta. Mas uma dificuldade ainda serve de obstáculo a um possível ritmo maior de crescimento: a falta de mão de obra.
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As dificuldades para contratações têm como um dos motivos os horários, que incluem os fins de semana, período de maior movimento nos supermercados. Em Santa Catarina, o quadro de pleno emprego e a concorrência da indústria, com vagas que costumam dispensar o trabalho aos domingos e ter jornadas menores aos sábados, é outro fator que influencia. Até mesmo a disputa com novas atividades como trabalhos em redes sociais provoca efeitos na hora de atrair candidatos.
A dificuldade em contratações faz estabelecimentos adotarem estratégias para tentar preencher as vagas e manter o atendimento com equipes completas, mesmo aos fins de semana. No início do mês, uma das maiores redes do Estado promoveu um mutirão em todas as lojas para contratar funcionários para vagas com trabalho exclusivamente aos sábados e domingos.
A oportunidade atraiu candidatos como o pintor Danilo Marques de Souza, 36 anos. Ele estava fazendo compras em uma loja da rede em Blumenau quando a esposa ouviu um anúncio sobre o mutirão no sistema de som do próprio supermercado. Na saída, ainda com o carrinho de compras, fez questão de deixar o nome e o contato. Com uma filha de apenas três meses, ele viu nas vagas de fim de semana uma oportunidade de fazer uma renda extra para essa nova fase da vida.
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— Já ajuda bastante. Hoje não trabalho nos fins de semana, tenho disponibilidade, e é algo que pode ajudar — conta.
Espaço para recolocação
Há dois anos fora do mercado de trabalho, Ivonete Ferreira Batista, 37 anos, viu nas vagas de fim de semana uma oportunidade de se recolocar profissionalmente. Ela já atuou em funções como atendente de padaria e caixa em uma rede do Paraná, e no início deste mês também compareceu ao mutirão de vagas de fim de semana para se inscrever.
— Se tivesse agora nos fins de semana, e depois abrisse uma vaga fixa, para mim seria bom, para recomeçar. É a área que eu me identifiquei mais — conta.
As vagas de fim de semana eram exclusivamente de operador de caixa, maior gargalo do atendimento aos sábados e domingos. Na loja de Blumenau, eram 10 vagas abertas para esse modelo na seleção do início do mês.
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— A gente criou essas vagas de “part-time” para ajudar no fluxo de caixa, para ter mais braços para ajudar no sábado e domingo, que é quando tem a demanda maior. Fazer fluir a saída da loja, porque tem gente que quando chega e vê filas, se desestimula para fazer as compras — explica a analista de RH da loja, Elis Cleide Grossklags.
Supermercados adotam novas estratégias para captar mão de obra
Vagas intermitentes e outras estratégias
Mas as vagas de fim de semana são apenas uma das estratégias adotadas pelas redes em busca de novos profissionais. Outra solução adotada é o chamado trabalho intermitente — em que o funcionário define apenas dias e horários específicos da semana em que pode comparecer. A medida é adotada principalmente na temporada de verão em lojas do litoral catarinense, que recebem demanda acima do habitual.
A vinda de imigrantes de regiões como estados do Norte e países como a Venezuela também é um fator que ajudou a suprir parte da demanda dos estabelecimentos por mão de obra.
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A principal aposta recente é divulgar os diferenciais das vagas em supermercados. Os pontos favoráveis destacados pelos empresários vão além dos habituais, como bônus para fim de semana e assiduidade, plano de saúde e folgas durante a semana e em até dois domingos por mês.
— Tem o rápido crescimento, tem o fato de o colaborador não estar dentro de uma indústria fechada, ele está falando com pessoas, criando uma rede de relacionamento. A gente precisa mostrar esse lado bom de trabalhar em supermercado — conta o presidente da Associação Catarinense dos Supermercados (Acats), Alexandre Simioni.
Moradia e relações de trabalho
Apesar das estratégias adotadas pelas empresas, o dirigente destaca medidas que poderiam ser adotadas pelo governo capazes de incentivar os candidatos. Entre eles está o lançamento de mais unidades de moradia popular, já que hoje em dia o aluguel consome parte importante da renda dos funcionários do setor de supermercados, e também a flexibilização das relações de trabalho, para permitir mais facilidade nas negociações de horários e jornadas em quem deseja optar por trabalho intermitente, por exemplo.
O gerente-executivo de Recursos Humanos do Grupo Koch, Alisson Pereira dos Santos, afirma que os salários são acima do previsto nas convenções e também mais do que a indústria. Na avaliação dele, as pesquisas com funcionários que deixam o emprego não apontam o salário como motivo da saída.
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— O principal motivo de saída não é o salário, é o fim de semana, é a concorrência da indústria — afirma, destacando que muitas vezes os funcionários não veem visibilidade para “mostrar serviço” e acabam não se adaptando, voltando a trabalhar no varejo.
O presidente da Acats afirma que algumas redes têm feito ações com pessoas de mais de 60 anos e vagas com horário alternativo para preencher os quadros.
— O setor elevou muito os salários, nos últimos tempos é impressionante o quanto está pagando a mais, mas mesmo assim a gente nota que em alguns momentos, principalmente o jovem, acaba não tendo tanto o apego ao rendimento, mas sim à comodidade — avalia o dirigente.
Automação para reduzir necessidade de equipes
O problema da falta de mão de obra já é uma realidade antiga para supermercados, mas algumas redes têm apostado em novas ideias para driblar a dificuldade de contratações. Uma delas é o aumento da automação e a redução de pontos de atendimento em departamentos como açougue e padaria, o que diminui a necessidade de funcionários.
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— O autoatendimento, na frente de caixa as redes estão colocando mais self checkout, para o cliente mesmo se atender, e isso facilita porque em uma eventual falta de colaborador você tem essa opção ao consumidor. A automação, o autoserviço dentro da loja, tirando o atendimento dentro do açougue, da padaria. A gente vê as empresas já começando a olhar o que pode ser feito dentro da operação para diminuir essa dependência de mão de obra — conta o presidente da Acats, Alexandre Simioni.
A oferta de produtos embalados no setor de hortifruti é outra tendência citada por ele, para que não seja necessário ter funcionários para empilhar tomate por tomate, por exemplo, o que derruba a produtividade.
— O setor está começando a falar sobre isso com a cadeia produtiva, que é o nosso fornecedor, para que comece a se trabalhar com embalagens, em que eu não tenha que fazer esse abastecimento produto por produto — afirma.
Chance de promoção para os funcionários
O crescimento do setor pode ser um trunfo para quem desejar embarcar nas oportunidades oferecidas em supermercados de SC. Com mais de 50 lojas abertas pelos maiores grupos do Estado somente em 2024, a abertura de novas unidades costuma facilitar o caminho para quem deseja ser promovido.
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Quem já encontrou oportunidades em supermercados conta por que as vagas podem ser atrativas. Nathalia Borges Motta, 29 anos, estava se formando em Recursos Humanos e viu na vaga assumida em um dos maiores grupos supermercadistas do Estado uma oportunidade de começar a trabalhar na área. Há seis meses aceitou uma vaga de operadora de caixa, de olho em uma possível promoção para o departamento de pessoal. No mutirão de contratações no início deste mês, ela já ajudou a equipe do RH no atendimento aos candidatos e concorre a um processo seletivo para migrar para o setor.
— Como eu sou recém-formada e não tenho experiência na área, eu pensei que aqui seria mais fácil. Como é uma empresa muita grande, a chance de promoção é maior — conta Nathalia.
O gerente-executivo de RH do grupo Koch afirma que essas histórias são comuns e que a carreira permite um caminho rápido de ascensão profissional.
— Cada nova unidade requer 20 líderes e 200 novos profissionais, então o negócio costuma oferecer oportunidade de crescimento e expansão muito rápida — pontua.
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