A composição Coxilha Pobre, assinada por dois lageanos, Luiz Pedro Zamban (letra) e Ricardo Oliveira (melodia), foi a grande vencedora da 23ª edição da Sapecada da Serra Catarinense, realizada na noite desta sexta-feira (13), no Calçadão da Praça João Costa, em Lages. A apresentação fez parte da programação da 35ª Festa Nacional do Pinhão.
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O tema central da canção toca fundo na identidade serrana. Com versos que denunciam a transformação da Coxilha Rica, símbolo da cultura e do modo de vida dos tropeiros, a composição mergulha no sentimento de perda diante do avanço de novas culturas econômicas, como a silvicultura. “Nossa coxilha vem sendo intensamente transformada por outra cultura que não é a nossa”, justificou o autor Luiz Pedro Zamban sobre a motivação para escrever o poema.
Com ritmo de Rasguido-Doble, único da noite, e interpretação marcante de Ricardo Oliveira, Daniel Silva e Ricardo Bergha, Coxilha Pobre arrebatou ainda os troféus de Melhor Letra, Melhor Melodia e Melhor Instrumentista (Gabriel Maculan).
Além da premiação, a música garantiu uma das quatro vagas para a final da 31ª Sapecada da Canção Nativa, que ocorre neste domingo (15), também no Calçadão.
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Os outros premiados da noite
2º lugar: Mulheres: Letra de Lucas Cassiano Soares de Oliveira e Wilson Gabriel Camargo; música de Lucas Cassiano Soares de Oliveira. No ritmo Chamamé, foi interpretada por Zetti Gaudéria, Carol Scain, Cris Chardozino e Amanda Bianchini, atual rainha da Festa do Pinhão. Também venceu como Melhor Conjunto Vocal.
3º lugar: Melodiosa: Letra de Ramiro Amorim e música de Ricardo Bergha, no ritmo Milonga.
Música Mais Popular: Cancha do Patacão, de Marlon Arruda Chalita, Dudi Marafigo e Alberto Ventura Neto, com recitado de Marlon Chalita.
Melhor Tema Campeiro: Cancha do Patacão
Melhor Intérprete: Daniel Silva, com Da Serra ao Litoral
Melhor Arranjo: Alambrado
Melhor tema sobre a Região Serrana: Sou Dessa Terra
Letra na íntegra – Coxilha Pobre
Tenho uma tarca de pedra
Conto memórias de mim
Entre placenta e capim
Fui berço pra tanta cria
Senti toda geada fria
E o golpe de cada pealo
Tantos potros: vi cavalos
Dos seus trotes: melodia
Ranchinho mata-juntado
Saleiro em testa de morro
A identidade de um povo
Num tronco gasto de brete
Carvalho: marco de sede
Na sua sombra lembra o gado
Tantos carreiros traçados
Que a plantadeira reescreve
Já fui parceira de tantos
Fomos sustento e prudência
Me batizaram “Querência”
Por suficiência e progresso
Mas a ganância dos netos
Já não se importa com a história
E dessa Coxilha simplória
Restou um pago deserto
Mesmo riscado de mudas
Ainda recebo visita
Nas noites cruzam mulita
Às vez coruja de campo
Na sorte algum veado branco
Lebre, perdiz, graxaim
Sem entender um só fim
Pra terra que era de tantos
Ao que não crê que riqueza
É alçar a perna no estribo
Esses não sensibilizo
“Que importa a velha coxilha?”
Alegre cresce a família
Mas lembrará desses fatos
Ao só lhe sobrar retratos,
Do campo aos filhos e filhas.
Talvez o último choro
Eu tenha junto ao sereno
Resquício de um sol pequeno
Que outrora foi dia inteiro
E sombreado a pinheiro
Despeço enfim do que tive
Tudo que num campo vive
Hoje padece por dinheiro
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