Um outro Jair Bolsonaro vai emergir da pandemia do novo coronavírus, muito mais parecido com o deputado federal do baixo clero do que com o candidato que venceu as eleições à Presidência da República. Para afastar o fantasma do impeachment, Bolsonaro se entregou de vez aos braços do seu ex-partido, o PP.  O líder do Progressistas na Câmara, o deputado Arthur Lira (AL) – investigado na Lava-Jato -, é um dos principais articuladores do Palácio do Planalto, enquanto o líder do governo na Câmara também está sendo substituído.

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A aproximação do presidente com conhecidas lideranças partidárias é diretamente proporcional ao andamento das investigações envolvendo a ligação do ex-assessor Fabrício Queiroz com a família Bolsonaro. Uma blindagem política no Congresso está sendo construída às pressas.

> O peso do Bolsa Bolsonaro

O presidente também está deixando pelo caminho a pauta liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. O desembarque dos secretários Salim Mattar e Paulo Uebel é sintomático. Eles eram responsáveis pelo programa de privatização e pela reforma administrativa. Os dois projetos não andaram. Falta apoio do Planalto para  pautas impopulares.

É uma questão matemática: boa parte do eleitorado do presidente da República está no funcionalismo público. No fundo, toda essa agenda liberal foi adotada por Bolsonaro durante a campanha. Antes, como deputado, ele não defendia privatizações ou mudanças de regras para servidores. Ele foi convencido pelo Posto Ipiranga e, assim, conquistou o apoio do mercado.

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Mergulhado em uma crise econômica agravada pela pandemia, mas ainda sem adversários com peso político para 2022, Bolsonaro reorganiza a sua estratégia. Ele também sabe que conta com um eleitorado fiel, que o chamará de mito e o seguirá de qualquer maneira, por isso arrisca essa virada.

> A força da articulação na política

A bordo do pagamento do auxílio emergencial e de braços com o centrão, Bolsonaro trabalha para terminar o mandato e tentar conquistar a reeleição. De preferência, em primeiro turno.

Muito obrigada!

Essa é a minha última coluna no Diário Catarinense. Depois de 23 anos trabalhando no Grupo RBS e, na sequência, para a NSC, vou encarar um novo desafio profissional. Agradeço a companhia de todos os leitores. Obrigada pelos elogios e pelas críticas. A graça da democracia é o debate, o contraditório! Agradeço também a ajuda de todos os colegas. No nosso ofício, ninguém brilha sozinho.

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