Neste sábado (19) escrevi que Bolsonaro teve a atitude que se espera de um estadista ao desviar temporariamente a rota de sua viagem a passeio, a São Francisco do Sul, para sobrevoar as áreas atingidas pela enxurrada da última quinta-feira, no Alto Vale. Pois o arroubo de lucidez do presidente da República durou pouco. Bastou a repercussão de uma ‘entrevista’ ao filho, Eduardo, para que Bolsonaro nos lembrasse do presidente que é.

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> “Pressa para a vacina não se justifica”, diz Bolsonaro

“A pandemia realmente está chegando ao fim. Os números têm mostrado isso aí. Estamos com uma pequena ascensão agora, o que se chama de pequeno repique; pode acontecer. Mas pressa para a vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas”, afirmou o presidente.

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É fácil elencar motivos para a “pressa” dos brasileiros. Desde o dia 8 de dezembro, quando o Reino Unido aplicou a primeira dose da vacina, 8.172 pessoas morreram no Brasil. É o equivalente a toda a população da cidade catarinense de Santa Rosa do Sul. Ou mais do que a soma dos moradores de todas as cinco menores cidades do Estado – Santiago do Sul, Lajeado Grande, Paial e Presidente Castello Branco. Nesse mesmo período, mais de meio milhão de casos de Covid-19 foram notificados no Brasil – número que pode ser muito maior, já que temos uma testagem insuficiente.

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Nessas duas semanas em que as pessoas começaram a ser imunizadas ao redor do mundo, há mais negócios quebrando no Brasil, mais pessoas perdendo o emprego. De lá para cá, pouco avançamos. O governo federal não conseguiu colocar em pé o Plano Nacional de Imunização e já deixou claro que não terá vacinas para todos.

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Para amenizar a flagrante incompetência de seu governo, Bolsonaro faz campanha contra a vacinação. Antes era contra a vacina do Butantan. Agora, contra a da Pfizer, que, segundo o presidente, vai transformar brasileiros em “jacarés”. A ideia parece ser mesmo reduzir o interesse pela vacina. Se menos gente quiser tomar, menos inepto parecerá o presidente.

Em meio à tragédia que a pandemia tem provocado no país, Bolsonaro veio a Santa Catarina para pescar. Enquanto os brasileiros esperam a vacina, o presidente deve esticar o descanso até quarta-feira, antevéspera de Natal.

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Destaquei ontem o acerto de Bolsonaro por ter demonstrado solidariedade aos catarinenses ao sobrevoar o Alto Vale. E percebo que o barulho do helicóptero em que estava o presidente pode ter colaborado com o sucesso do aceno. É que, assim como os peixes que pretende pescar neste fim de semana na Baía da Babitonga, Bolsonaro ‘morre pela boca’. Quando fala, entrega a falta de espírito público que só disfarça no silêncio.

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