Em 2011, a Polícia Civil de Santa Catarina localizou e prendeu, em uma chácara de Camboriú, o homem que é considerado o “maior serial killer do Brasil”. Pedrinho Matador, que dizia ter matado mais de 100 pessoas dentro e fora do sistema prisional, havia passado os três anos anteriores vivendo como um pacato caseiro de sítio.
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Eu era a repórter de plantão em Itajaí naquela quinta-feira nublada. Era dia 15 de setembro. A caminho da delegacia regional de Balneário Camboriú, onde Pedrinho Matador seria apresentado, já tinha lido algumas reportagens nacionais antigas a respeito dele e tinha alguma noção do quanto ele era considerado perigoso – e por que sua prisão era um “trunfo” para a polícia de SC.
Havia fotos nas reportagens antigas, mas nenhuma delas me preparou para a surpresa de ver aquele homem algemado.
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Pequeno, franzino, as marcas do tempo no rosto vincado. Blusão de lã e chinelos de dedo. Nenhuma das referências que vinham à minha cabeça ao pensar num serial killer estavam ali. Ele parecia ter mais idade do que realmente tinha. Passaria fácil por um simpático agricultor.
Talvez tenha sido essa ruptura, entre a imagem do serial killer que habitava meu imaginário e o serial killer “real”, o que tenha feito essa cobertura permanecer tão fresca em minha memória. Lembro bem de Pedrinho Matador tentando ser galanteador com a delegada Luana Backes, que o havia prendido – e da pretensa simpatia derreter conforme sua lista de crimes era relatada pela polícia.
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Pedro Rodrigues Filho havia sido condenado por 18 assassinatos, mas dizia ter cometido mais de 100. Dos 57 anos de idade que tinha na época, mais da metade ele havia passado na cadeia. Condenado a 120 anos de prisão, foi solto após cumprir um quarto da pena. Mas estava sendo procurado para pagar pelos crimes que cometeu na prisão.
Nascido em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, Pedrinho Matador entrou para o mundo do crime com 14 anos. Na época o pai, que trabalhava como vigia numa escola municipal, havia sido demitido por suspeita de furto. Para vingá-lo, o adolescente matou a tiros o vice-prefeito da cidade, que havia ordenado a demissão, e outro vigia, que imaginava ser o verdadeiro ladrão.
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Tempos depois, em Mogi das Cruzes (SP), envolveu-se com o tráfico de drogas. Entre os crimes atribuídos a ele está uma chacina em uma festa de casamento, em que sete pessoas foram mortas e 16 feridas. Pedrinho diz ainda ter matado o próprio pai:
– Ele tinha tirado a vida da minha mãe enquanto ela estava dormindo.
Preso aos 18 anos, Pedrinho ficou conhecido como o maior assassino do sistema prisional brasileiro: diz ter matado mais de 50 detentos. À Justiça, disse que assassinou um preso porque não gostava dele, e outro porque roncava demais. Psiquiatras responsáveis por um laudo pericial sobre Pedrinho, feito em 1982, diagnosticaram nele caráter paranoide e antissocial.
O serial killer afirmou que não estava arrependido. Mas a tatuagem no braço, que dizia “mato por prazer”, havia sido coberta por um desenho.
Casa rosa, cachorro no pátio
Pedrinho Matador havia sido localizado pela polícia em SC após uma denúncia anônima. Estava morando na localidade de Macacos, no interior de Camboriú. Queríamos saber como era a convivência dele com os vizinhos, e se alguém desconfiava de sua vida pregressa.
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Não tínhamos o endereço, mas a comunidade é pequena. Não demorou para encontrarmos o local onde o maior serial killer do Brasil havia passado os três anos que viveu em liberdade.
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Era uma casa simples, pintada de cor-de-rosa, cercada de verde. Um cão labrador brincava no terreno. Nas redondezas, a maioria dos vizinhos conhecia a história do homem que dizia ter matado mais de 100 pessoas e ficado 34 anos de prisão – mas muitos não acreditavam que fosse verdade.
Antes de ser levado pela polícia, Pedrinho pediu para falar com um dos vizinhos. Queria que alimentasse o cachorro.
Pedrinho Matador permaneceu na cadeia até 2018, quando foi colocado em liberdade. Ele diz ter virado evangélico e afirma estar arrependido dos crimes que cometeu. O maior serial killer do Brasil é hoje um “youtuber”. Em liberdade.
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