Em 6 de setembro de 1996 o prefeito Eduardo Moreira e o vice Anderlei Antonelli inauguravam os três terminais urbanos de Criciúma. Foi uma verdadeira revolução no transporte coletivo da maior cidade do Sul de Santa Catarina, que viu consumado um dos maiores investimentos da sua história há pouco mais de 25 anos.
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Interligar Sul e Norte de Criciúma a partir do terminal do Pinheirinho, passando pelo Centro e chegando na Próspera foi uma inovação que deixou Criciúma na vanguarda do transporte coletivo por muito tempo. Do projeto original, faltou o prometido avanço: criar os outros dois terminais, que serviriam às regiões do Rio Maina (distrito de 60 mil habitantes) e da Primeira Linha (que abrange a região agrícola do município).
Claro que ter a Avenida Centenário foi fundamental para o moderno sistema de transporte coletivo, pelo qual você paga uma passagem para embarcar no chamado “branquinho”, o ônibus que serve ao bairro mais distante, e esse ônibus o leva até um dos terminais, onde é possível fazer a baldeação com outros destinos por outros “branquinhos” mas também pelo “amarelinho”, que é o ônibus troncal, que liga os terminais da Centenário. E tudo isso com uma única passagem. Inaugurada em 1977, a antiga Avenida Axial conferiu o espaço que os ônibus precisavam para contar com dois corredores exclusivos ligando Próspera, Centro e Pinheirinho.
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Chegando em 100 mil carros
Mais daí veio o trânsito. Consequência básica do crescimento das cidades. Criciúma chegou, no fim de fevereiro, a 99.447 carros emplacados. Está muito perto de bater os 100 mil automóveis. Esse é o número que o Detran SC acusa. E nem está se levando em conta aí os carros de outras origens que transitam na cidade.
E é preciso contabilizar, ainda, as 23,9 mil motos, as 9,3 mil caminhonetes, os 3,6 mil caminhões, os 430 ônibus e muito mais, alcançando um total de 165,5 mil veículos emplacados em Criciúma.
Frota de Criciúma – Fevereiro de 2022
Automóveis – 99.447
Motocicletas – 23.919
Camioneta – 9.514
Caminhonete – 9.382
Motoneta – 5.204
Reboque – 4.521
Utilitário – 4.466
Caminhão – 3.665
Semi-reboque – 2.352
Caminhão trator – 1.982
Ônibus – 430
Microonibus – 351
Ciclomotor – 131
Motor-casa – 101
Triciclo – 45
Trator de rodas – 31
Side-car – 7
Trator esteiras – 2
Trator misto – 2
Total – 165.552
Fonte – Detran SC
Os dilemas: trânsito e transporte
Hoje com seus 219.393 habitantes, conforme a estimativa de 2021 do IBGE, Criciúma tenta encontrar a harmonia na mobilidade urbana. Com algumas de suas ruas apertadas e saturadas no Centro e poucas avenidas (está ganhando uma importante, com o Binário da Santos Dumont em construção no Bairro São Luiz), a cidade ainda vive problemas envolvendo transporte coletivo.
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O recente reajuste de 14% na passagem (aumentou R$ 0,55, chegando a R$ 4,45) teve o seu grau de necessidade (estava congelada desde 2017) mas veio em má hora. A pandemia de Covid-19 fez o número de usuários do sistema desabar. Eram em torno de 55 mil passageiros por dia até março de 2020. Chegou, na retomada, a transportar mil pessoas por dia e hoje, a muito custo, chega aos 32 mil. Para a conta equilibrar, e o prejuízo não ser tão grande para as empresas componentes do sistema, excluiu-se recentemente o cobrador. Começou uma celeuma.
O Ministério Público (MPSC) indagou, um que outro vereador protestou e o prefeito Clésio Salvaro foi claro. – Com o cobrador nos ônibus, a passagem precisará subir para R$ 6,20 -. Ficou claro que a matemática só sairia do déficit se houvesse algum subsídio municipal às empresas contratadas para operar o transporte. – Querem aumentar o IPTU para pagar essa conta? – chegou a sugerir Salvaro aos vereadores em uma reunião. Claro que ninguém quis.
Ciente que R$ 6,20 seria um valor elevado demais para as passagens, o prefeito bancou com as empresas componentes da Associação Criciumense de Transporte Urbano (ACTU) a retirada dos cobradores. É fato consumado, eles não voltam. A indagação do MPSC veio pelo seguinte: sem cobrador, só consegue usar os ônibus quem tem o chamado CriciumaCard Cidadão, o cartão para andar nos ônibus. Quem não tem esse cartão, não consegue embarcar. Já teve muito constrangimento para passageiro que não sabia, entrou no ônibus e precisou desembarcar por tentar pagar em dinheiro.
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E tem os acidentes também
São alguns episódios que ilustram esse momento que impõe a Criciúma a necessidade de rediscutir mobilidade urbana. E um acidente às 23h do último sábado (5) mostrou que a convivência entre ônibus e carros tem seus nervosismos expostos. Um ônibus acessava o terminal do Pinheirinho. Há uma rótula no encontro da Avenida Universitária e da Rua Pascoal Meller com a Giácomo Biléssimo, pela qual os ônibus vêm da Centenário em direção ao terminal que é do Pinheirinho mas fica no Bairro Universitário, ao lado da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).
Pois bem. É normal ali que os ônibus acessem o terminal (e saiam dele também) em velocidade constante, com os carros parando. Há sinalização. O ônibus, em sua última viagem do sábado, avançou em direção ao terminal. O condutor de um veículo GM Onix parou. Atrás dele vinha um Renault Sandero. Este não parou. Continuou acelerado e empurrou o Sandero pra cima do ônibus. O resultado: os três com danos materiais. Não houve feridos. Um acidente corriqueiro de trânsito, mas também mais um instante de reflexão sobre mobilidade em Criciúma.
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A busca por soluções
Com tantos carros na rua, Criciúma tem cada vez menos pessoas usando o transporte coletivo. A situação se agravou na pandemia, com muitos criciumenses de baixa renda fazendo o possível para adquirir um veículo qualquer, uma moto barata ou até uma bicicleta, para chegar no trabalho. E a necessidade de baixar os custos no sistema forçou o enxugamento de horários, a extinção de linhas e daí, outro problema: tem empresas que não conseguem funcionários pois os mesmos não têm como se deslocar.
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– Tivemos que abrir mão de um contrato com uma empresa que queria 45 funcionários, mas o transporte coletivo não chega lá – lamentou um empreendedor da área de recrutamento de mão de obra em Criciúma. A empresa em questão, do ramo cerâmico, localiza-se na BR-101, na área agrícola do município. O ônibus até chegava lá, mas foi uma das vítimas da redução de horários.
Situações como essa tem feito surgir o transporte alternativo, muitas vezes clandestino. – É só olhar no pátio de muita empresa aí o que está acontecendo. É van chegando e o ônibus que passa ali na frente, vazio – comentou o presidente do Sindicato dos Motoristas de Criciúma, Clésio Fernandes.
Mas esforços não têm faltado. Prefeitura e empresas estão discutindo maneiras de a tecnologia reaproximar o cidadão dos ônibus. Prometeram, em no máximo dois meses, entregar um pacote de ideias para o MPSC. O Município vem investindo em infraestrutura viária. Além do Binário da Santos Dumont, que criará uma nova, ampla e moderna ligação norte-sul em Criciúma, há aberturas de novas vias que criarão importantes ramais (rodovias João Cirimbelli e Antônio Scotti) e a revitalização de outras, como as rodovias Luiz Rosso, Jorge Lacerda e Alexandre Beloli. O ganho da Via Rápida, novíssimo acesso à BR-101 via Içara, inaugurada no fim de 2017, foi um destacado incremento para desaguar trânsito.
E há as bicicletas. Criciúma não tem aquela tradição de cidades operárias (Joinville é um belo exemplo) nas quais os trabalhadores ciclistas foram grandes pelotões de idas e vindas para seus empregos. criando corredores das bikes. A malha viária de Criciúma não é muito simpática a quem pedala. Está se tentando remediar isso, com a criação de ciclovias e ciclofaixas. Um antigo projeto voltou à tona para dotar a principal avenida da cidade de pistas para bicicletas. Mas é uma ciclovia que poderá custar mais de R$ 5 milhões. Está na fila dos projetos de futuro.
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Enquanto isso, os dilemas da mobilidade urbana continuam na maior cidade do Sul de Santa Catarina. Com frota que cresce, as ruas encolhem, os estacionamentos valorizam-se e os congestionamentos, objetos utópicos voltando décadas na linha do tempo, tornam-se rotinas da atualidade.
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