De 1986 a 2014, Eduardo Pinho Moreira ganhou mais eleições que perdeu. As duas derrotas foram para prefeito na sua cidade, Criciúma, onde também venceu uma vez. Em nível estadual, nunca perdeu. Concorreu a vice-governador três vezes, elegendo-se nas três. Foi governador de Santa Catarina em dois períodos também. Acumulou, ainda, dois êxitos em disputas por cadeira na Câmara Federal.
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Moreira pretende voltar às urnas em 2022. Planeja, para surpresa de muitos, uma candidatura a deputado estadual pelo MDB. Sua meta, ainda restrita a poucos e não exposta publicamente, é ousada: quer, estreando no parlamento estadual, abrir caminho para presidir a Assembleia Legislativa (Alesc). Cacife político não lhe falta, que o digam os mandatos já exercidos.
Mesmo vacinado, a luta contra a Covid
Mas Eduardo Moreira encara, agora, um inimigo incômodo. O ex-governador precisou ser internado no Hospital Baía Sul, em Florianópolis, por conta da Covid-19. Contaminado havia cerca de uma semana – ele anunciou no dia 31 de maio que no fim de semana retrasado havia sido diagnosticado – Moreira começou os cuidados de praxe. Apresentou os sintomas e passou ao isolamento, ponderando que, em 15 de abril, havia sido imunizado com a segunda dose da vacina contra a Covid.
A notícia da internação veio no amanhecer de sábado (5). Por conta de uma desidratação, e com a recomendação médica, optou-se pelo período no hospital. A informação da noite deste domingo (6) dava conta de uma boa evolução, e que o ex-governador demonstrava ânimo e está por ganhar alta em breve.
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Volta à política
Natural que os dias às voltas com a Covid tiraram de Eduardo Moreira um pouco de tempo para a execução do seu projeto político. Mas ele já vinha articulando com antecedência. No sul, conversou com lideranças da região de Criciúma, a sua base, manifestando a intenção de buscar a cadeira na Alesc.
Eduardo Moreira, neste cenário, deve ser o candidato único do MDB na região carbonífera a deputado estadual. O partido centrará forças nele. Tanto que o ex-prefeito de Içara, Murialdo Gastaldon, que projetava concorrer, recuou. Mesmo com os apoios, Moreira está ciente que será uma disputa difícil. O MDB tem, hoje, nove deputados estaduais.
Na região de Araranguá, o MDB deverá contar com a candidatura do ex-prefeito de Turvo, Tiago Zilli, para a Alesc. A cidade é uma base importante do partido, que conta atualmente, no extremo sul, com as prefeituras de Araranguá, Jacinto Machado, São João do Sul e Sombrio. Mas, por suas relações dos tempos de Governo do Estado, Eduardo conta com essas bases, e buscará votos nessa região também.
Ainda no sul, o MDB tem o deputado Volnei Weber na região da Amurel, e ele deverá buscar a reeleição. Outros dois deputados do partido com mandatos em curso na Alesc pretendem novos rumos, também por conta da opção de Eduardo Moreira. São os casos de Ada de Luca e Luiz Fernando Vampiro. Ambos são da órbita de relações de Eduardo, contam com bases fortes em Criciúma e no sul e vêm manifestando a mesma intenção: buscar eleição pelo MDB à Câmara Federal.
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De governador a deputado estadual?
Em outras ocasiões, Eduardo Moreira foi cogitado para candidaturas ao Senado e buscou até, por prévias, espaço para concorrer a governador. Ele nunca foi cabeça de chapa pelo MDB, nas três majoritárias que disputou sempre compôs como vice.
Por qual razão, então, estaria Eduardo Moreira, um ex-governador de dois mandatos, optando pela Alesc? Ele ainda não se manifestou. Aliás, tem sido muito cauteloso ao tratar de eleições, não se pronunciando enfaticamente sobre seu rumo.
Mas Eduardo sabe, com o conhecimento da política de Santa Catarina que tem, o funil que será a eleição ao Senado, com uma cadeira em disputa e um cenário bastante nebuloso. Na Alesc, estaria próximo do Governo do Estado podendo, com base na sua experiência e credenciais, aspirar com desenvoltura uma presidência da Casa, o que o conferirá um importante espaço em nível de Santa Catarina a partir de 2023.
As primeiras disputas: deputado e prefeito
Em 1986, Eduardo Moreira, atuante na medicina como cardiologista dos mais procurados em Criciúma, elegeu-se deputado federal na estreia nas urnas. Foi o sexto mais votado entre os 16 eleitos pelos catarinenses, com 52.608 votos pelo então PMDB que, naquela eleição, fez uma bancada federal de nove deputados.
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Com a exposição do mandato e a liderança que ele lhe conferiu no PMDB do sul, foi lançado candidato a prefeito de Criciúma em 1988. A situação era difícil. Embora o mandato exitoso do então prefeito José Augusto Hülse (PMDB), a demora na indicação do candidato governista fez ampliar as chances do ex-prefeito Altair Guidi (então no PDS). Ele mantinha alta popularidade e ganhou: 27.086 votos (34,3%) contra os 26.362 (33,4%) de Moreira. Ou seja, o deputado perdeu a prefeitura por apenas 724 votos.
Eduardo Moreira participou da Assembleia Nacional Constituinte, e buscou a reeleição em 1990, conquistando o segundo mandato na Câmara dos Deputados com 32.884 votos. Votou pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (PRN) em 1992.
No mesmo ano de 92, concorreu pela segunda vez a prefeito de Criciúma, e desta vez a vitória lhe sorriu. Conquistou 32.721 votos (42%), superando Moacir Fernandes (PDS, apoiado pelo prefeito Altair Guidi), que somou 27.341 votos (35,1%).
Do seu mandato na prefeitura, entre 93 e 96, destacou-se a implantação do sistema de transporte coletivo integrado, considerado à época o mais moderno de Santa Catarina e em vigor até hoje na cidade, com três terminais urbanos e a instalação de um troncal pela Avenida Centenário.
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Uma derrota municipal antes das vitórias estaduais
Após deixar a prefeitura, Eduardo Moreira foi convidado para chefiar a Casa Civil (de janeiro a agosto de 1997) e depois presidir a Celesc (agosto a dezembro) no governo Paulo Afonso Vieira (PMDB). Voltou a clinicar e, em paralelo, militou politicamente. Buscou indicação para concorrer a governador em 98, sem sucesso. Paulo Afonso foi o candidato e sofreu fragorosa derrota para Esperidião Amin (PP). Moreira voltou a disputar a prefeitura de Criciúma em 2000, e conheceu a segunda derrota.
Desta vez, o auge da onda petista fez o ex-deputado Décio Góes tornar-se prefeito em uma virada, já que Eduardo Moreira era o favorito nas pesquisas. No fim das contas, Décio ganhou com 46.898 votos contra 38.465 do emedebista.
Mesmo com o revés em casa, Eduardo Moreira foi lançado candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Luiz Henrique da Silveira (PMDB) em 2002. Foi uma acirrada disputa com o então governador Amin, que ganhou o primeiro turno com 1,2 milhão de votos. Luiz Henrique e Eduardo, com vantagem de pouco mais de 80 mil votos, superaram José Fritsch (PT) na briga pela vaga no segundo turno, somando 918 mil votos.
Por pouco mais de 20 mil votos de vantagem, Eduardo Moreira foi para o governo com Luiz Henrique somando 50,34% dos votos, contra 49,66% de Amin. No mandato, Moreira teve importante papel ao lado do governador na consolidação do modelo de descentralização, com a criação das então Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs).
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Com a renúncia de LHS em 2006 para buscar a reeleição, Eduardo Moreira tornou-se governador de 9 de abril até a virada do ano, dando posse a Luiz Henrique, então reeleito com o vice Leonel Pavan (PSDB). Sem mandato, mas não fora do governo, Eduardo presidiu a Celesc de 2007 a 2009.
A volta com Raimundo Colombo
E voltou às urnas em 2010, como vice de Raimundo Colombo (então no DEM). Venceram no primeiro turno, com mais de 1,8 milhão de votos, 52,7% da preferência dos catarinenses. Ângela Amin (PP) ficou na segunda posição. Mas antes da composição vitoriosa, Eduardo Moreira chegou a encarar prévias contra o então prefeito de Florianópolis (e hoje senador) Dário Berger, e venceu. Saiu do processo como candidato do partido a governador, mas acabou vice de Colombo.
A dupla repetiu a dose em 2014. A essa altura, Colombo já era do PSD e a chapa conquistou 1,7 milhão de votos no primeiro turno e, com 51,36%, abortaram o segundo turno. Paulo Bauer (PSDB) foi o segundo.
Em 2018, Eduardo Moreira chegou a ensaiar uma candidatura ao governo pelo MDB, mas optou pelo apoio a Mauro Mariani, que acabou derrotado por Carlos Moisés (PSL) e superado, ainda, por Gelson Merisio (PSD). Moreira voltou a ser governador em nova renúncia do titular. Raimundo Colombo afastou-se para buscar uma cadeira no Senado, o que não conseguiu, e Moreira encerrou seu ciclo no Governo do Estado de 5 de abril a 31 de dezembro de 2018.
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Em janeiro deste ano, Moreira esteve no foco da Operação Alcatraz, sendo alvo de um mandado de busca e apreensão. Documentos e o celular do ex-governador foram levados. Depois, ele manifestou a sua inocência, comentou que a investigação “era um caminho natural” mas que estava tranquilo pois sua vida sempre foi “pautada por honestidade, transparência, diálogo e trabalho”.
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