Apesar do crescimento exponencial da pandemia e de as normas de prevenção estarem sendo repetidas há nove meses, nesta fase de virada de ano e de verão, um número expressivo de pessoas acha que o uso de máscara em locais públicos ou em encontros privados e o distanciamento já são dispensáveis. Quando as vacinas estão quase chegando, esses ‘desmascarados’ pensam que dá para apostar na teórica imunidade de rebanho, num tipo de seleção natural darwiniana, para espanto de quem não desiste de cuidar de si e dos outros. O número crescente de mortes mostra que é preciso atenção para o uso correto das máscaras e evitar aglomerações.
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Existe consenso claro na comunidade científica: uma máscara segura, que protege bem o rosto, evita a entrada e saída de aerossóis, previne a disseminação do novo coronavírus. É assim que os profissionais de saúde se protegem ao atender doentes em ambientes com maior carga viral. É assim também que pesquisadores e milhares de pessoas estão se protegendo enquanto seguem trabalhando ou em outras atividades. A máscara já era usada durante a gripe espanhola, que infectou 500 milhões de pessoas no mundo e matou 50 milhões entre 1918 e 1920.
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O novo coronavírus já tirou a vida de mais de 1,8 milhão de pessoas pelo mundo, de 193.875 no Brasil e de 5.206 em Santa Catarina. Diante desses números alarmantes, é difícil compreender as razões pelas quais uma parte da população acha que pode sair para baladas e praias sem máscaras. Será que essas pessoas são do grupo que não se importa em perder a própria vida ou a saúde? Será que acreditam que não correm risco de morte e acham que os milhares de vulneráveis devem ficar mesmo à mercê da sorte?
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Quando a gente olha a história da humanidade conclui que somos um grão de areia no universo. Os hominídeos surgiram entre 2 milhões e 4 milhões de anos passados, o homo sapiens, do qual se originaram os humanos, está no Planeta há 300 mil anos. Há 60 anos, a média de vida do brasileiro era de 52 anos, hoje está perto de 80 anos. De acordo com o naturalista inglês Charles Darwin, o que fez os humanos e outras espécies chegarem até aqui foi uma evolução natural, ou seja, sobreviveram os mais fortes.
Contudo, os humanos evoluíram de forma exponencial por serem inteligentes. Por isso, diante da Covid-19, com informações para preveni-la, não faz sentido agir sem usar o conhecimento acumulado, deixando a “seleção natural” fazer as escolhas de quem vai viver ou morrer, como há milhares de anos.
Por que alguém tem coragem de ir numa balada sem máscara, voltar para casa e colocar em risco a vida de um familiar ou amigo? Embora o vírus seja invisível, esta é uma forma de matar outras pessoas. Por que esses desmascarados têm essa insensatez?
Como a contaminação se dá principalmente por vias respiratórias, pelos aerossóis, o ideal seria que os restaurantes atendessem somente pelo lado de fora, como em Nova York. Assim, as pessoas ficariam menos expostas.
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Além disso, é preciso redobrar cuidados nos encontros familiares, não aproximando pessoas do grupo de risco. Uma rede de farmácias que faz exames rápidos de Covid em Florianópolis me informou que antes do Natal, do total de testes rápidos feitos menos de 20% davam positivo. Passado o Natal, cerca de 40% estão dando positivos, prova de que a disseminação do vírus nos eventos familiares é altíssima.
> Quem vai pagar pelas baladas da insanidade em Santa Catarina?
Quando se olha os países, a Nova Zelândia segue como maior inspiração. Com quase 5 milhões de habitantes, teve apenas 25 mortes por Covid-19 até o dia 15 de dezembro. Se a prevenção em SC fosse como a da Nova Zelândia, com 7,2 milhões de habitantes o estado teria tido apenas 36 mortes pelo coronavírus até há poucos dias. É claro que o país da Oceania é mais rico e numa ilha, mesmo assim ele mostra que falta muito bom-senso por aqui.
Se tem uma coisa da qual o mundo vai se arrepender quando essa doença ficar para trás será do comodismo de muitos que não se esforçaram para evitar milhares de mortes. Todas as vidas importam e fazem falta. É preciso mais inteligência e menos o ‘deixar por conta da seleção natural’ constatada no darwinismo.