Todas as crianças precisam aprender os conteúdos ministrados nas séries em que estudam, mesmo as que têm maiores dificuldades. Isso porque, assim, vão conseguir desenvolver seus potenciais na vida, podendo alcançar o sucesso esperado. “Aprender é para todos” foi o tema do 3º Simpósio sobre Transtornos de Aprendizagem, realizado em Joinville pelo Instituto You.up. 

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O evento, que aconteceu no último final de semana (16-08) reuniu 400 profissionais entre educadores e especialistas, com palestrantes do Brasil e Portugal.  

Veja mais fotos do 3º Simpósio sobre Transtornos de Aprendizagem:

O Instituto You.up, presidido pela empresária Vanessa Bertani, também cofundadora da organização, trabalha para viabilizar ensino de qualidade para crianças com dificuldades para aprender. O foco são crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, discalculia e outras.

Esses transtornos têm incidência variável na população em geral. Por exemplo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) atinge entre 5% e 8% da população mundial. A dislexia afeta aproximadamente 15%, apurou o The Reading Well, do Reiono Unido. E segundo o Cleveland Clinic, dos EUA, a discalculia é enfrentada por até 7% da população enquanto a disgrafia pode impactar entre 5% e 20% das pessoas.

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No Brasil, pesquisas recentes apontam que o número de casos de transtornos de aprendizagem é até 3,5 vezes maior do que o total registrado no Censo Escolar, destacaram especialistas no simpósio.  

Estilo de vida é uma causa

O simpósio abriu com palestras dos professores Fabrício Bruno Cardoso e Filipe Meneguelli Bonone, que abordaram dificuldades de aprendizado em função de fatores do cotidiano, como estilo de vida. Entre as informações que indicam isso estão as do Ministério da Saúde, segundo as quais 70% das crianças brasileiras são sedentárias e 38% estão acima do peso.

Por isso eles concluem que muitas escolas encaminham estudantes para atendimento sobre transtorno de aprendizado sem avaliar se estão tendo rotina com as necessidades básicas atendidas como tempo de sono, alimentação adequada e atividade física.  

 – A gente tentou despertar aqui a ideia de que a mudança é possível e que basta muito mais de uma integração entre todos esses atores do que de ações que são isoladas – destacou Fabrício Cardoso.

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Os dois especialistas chamaram a atenção sobre o fato de que competências sociais, práticas pedagógicas e qualidade de vida podem ser tão determinantes para o aprendizado quanto questões orgânicas, isto é, algum transtorno citado nesta matéria.  

Tecnologias digitais ajudam, diz especialista

Também palestrante do simpósio, o neurologista Renato Arruda, de São Paulo, um dos maiores especialistas do Brasil no tratamento de TDAH e Transtorno do Espectro Autista (TEA), destacou que as ferramentas digitais podem ajudar no aprendizado de crianças com transtornos.

– Eu acredito fortemente que as tecnologias emergentes estão aí para nos ajudar a diferenciar o ensino, personalizar a educação de modo a entender cada cérebro, cada estudante com uma maneira diferente de aprendizado – afirmou o especialista.

De acordo com ele, as tecnologias ajudam a identificar padrões, oferecer recursos adaptados e criar um caminho mais eficaz para o aprendizado, seja em sala de aula, em casa ou em terapias. Ele reforçou a necessidade de ensinar as crianças a discernirem fatos de fake news (notícias falsas), usando a tecnologia para ampliar seu potencial, e não para substituí-lo.

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Disléxico conseguiu ler aos 11 anos

Outro palestrante do simpósio foi o educador e influenciador Felipe Ponce, o Pipo. Ele passou aos participantes do evento experiências e a visão de quem enfrentou uma dessas dificuldade de aprendizado na infância, a dislexia.

– As adaptações não são rótulos, são oportunidades. Estímulos certos transformam a educação – afirmou Pipo.

Segundo ele, os disléxicos necessitam de um tripé: rotinas de estudo, treinos em casa e adaptações escolares. Além disso, necessitam de mais tempo para fazer provas e não podem ser penalizados por erros ortográficos.  

– Eu saí de pior aluno da escola e hoje eu tenho mestrado em educação. Não falo isso para me achar, mas para mostrar que aquele aluno que foi desacreditado na escola, ele sim pode alcançar coisas grandes – enfatizou Pipo.

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Trabalho realizado em Portugal

O simpósio contou também com palestra on-line do pedagogo Rafael Pereira, de Lisboa, Portugal. Ele lidera no país uma equipe multidisciplinar que atua com estratégia semelhante a do Instituto You.up. Psicólogos, fonoaudiólogos e professores trabalham juntos no acompanhamento de crianças com dislexia, TDAH e outros transtornos.

– O diagnóstico da dislexia deve ser feito por exclusão, após descartar outras condições. Atendo diariamente estudantes com diferentes transtornos e vejo que quando escola, família e profissionais de saúde atuam de forma integrada, os avanços são concretos – disse Rafael Pereira.

Aprendizados para educadores

A realização de eventos como esse de Joinville numa iniciativa do Instituto You.up é relevante para compartilhar conhecimentos de especialistas e educadores. Também permite muitas trocas de informações entre os participantes. Um exemplo é o da pedagoga Leda Zimmerman, de Jaraguá do Sul, que participou pela primeira vez do simpósio. No final do evento, ela disse que poderá aplicar muitos dos aprendizados na prática.

– É muito importante as pesquisas científicas serem trazidas de forma tão didática para a gente – comentou, destacando a organização e o embasamento dos palestrantes.

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De acordo com a organização, o simpósio reforçou que os transtornos de aprendizagem não devem ser vistos como limitações, mas como desafios que exigem adaptação e empatia. Quando família e escola estão preparadas, o sucesso escolar é possível, e eventos como o realizado em Joinville contribuem para transformar informação científica em prática concreta.

Ação solidária pela causa

No simpósio, o Instituto You.up também promoveu a campanha solidária “Picolé do Bem”, em parceria com a empresa de Joinville Paviloche. A ação arrecadou R$ 7 mil, valor que será revertido em 600 atendimentos psicopedagógicos.

Com esse recurso, será possível o ingresso de 15 novas crianças no projeto e contribuirá para a manutenção dos atendimentos já oferecidos mensalmente a 230 estudantes da rede pública em diversas especialidades, informou o instituto.

Opinião da colunista: Relevância para a vida e para a economia

Dados internacionais comprovam que o esforço para oferecer aprendizado de qualidade a quem tem transtornos resulta em impactos positivos relevantes para todos.

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Uma pesquisa na Inglaterra mostrou que as chances de uma criança disléxica ser fundadora de uma empresa milionária ou líder de um grande negócio é quatro vezes maior do que uma criança comum. Isso porque, entre a população geral, 10% são disléxicos, mas entre os milionários, 40% têm esse transtorno.

Contudo, se as crianças disléxicas não aprenderem na escola até por volta de 12 anos, elas têm muito mais chances de cair na marginalidade quando adultas. Pesquisa no Texas, EUA, apurou que 48% dos presos eram disléxicos. A falta de aprendizado, bullyng e, muitas vezes, a falta de apoio em casa empurra essas crianças para a marginalidade.

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