Um conflito envolvendo lideranças evangélicas de Blumenau e a eleição do Conselho Municipal de Política Cultural provocou o pedido de demissão do secretário de Cultura e Relações Institucionais, Rodrigo Ramos, nesta sexta-feira (28). O jornalista entregou o cargo ao prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) após virar alvo de ataques em redes sociais. Sylvio Zimmermann (PSDB), atual secretário de Desenvolvimento Econômico, acumulará a pasta interinamente.
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A crise começou há uma semana, quando o atual conselho decidiu suspender a escolha dos novos membros, marcada para sábado (22), quando ocorreria a Conferência Municipal de Cultura. A decisão foi tomada depois que o número de pessoas inscritas (mais de 500) para votar superou em muito a expectativa e surgiram denúncias de que a eleição poderia ser fraudada. Como a votação ocorreria pela internet, havia a possibilidade de uma pessoa exercer o direito de voto usando dados de outras.
Na disputa pelos assentos de conselheiros (um trabalho que é voluntário), havia representantes de três grupos principais: 1) teatro, artes visuais e literatura; 2) grupos folclóricos e clubes; 3) igrejas evangélicas.
De pronto, a suspensão da conferência não gerou maiores discordâncias. Mas um post da advogada e escritora Rosane Magaly Martins no Facebook acirrou os ânimos. No texto, publicado sexta-feira (21) à noite, ela chamou de “invasão alienígena” a mobilização de igrejas evangélicas para ocupar assentos no conselho e denunciou a suposta inscrição de pessoas que não moram em Blumenau, o que foge às regras do pleito.
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A discussão subiu de tom ao longo do fim de semana e ganhou relevância política na terça-feira (25), quando a vereadora Silmara Miguel (PSD) foi à tribuna da Câmara de Vereadores denunciar o que considera um preconceito de ordem religiosa. A parlamentar acusou o conselho de suspender a votação para impedir que evangélicos fossem eleitos. Mesma linha do deputado Ismael dos Santos (PSD), que repetiu o discurso na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
O presidente do conselho, Elton Gomes, nega outra motivação para o cancelamento da votação que não seja a insegurança jurídica. Segundo ele, o resultado da eleição poderia ser questionado judicialmente porque o sistema adotado não garantia lisura ao processo.
Na quarta-feira, em entrevista à coluna, o agora ex-secretário Rodrigo Ramos havia avaliado que a participação popular nas políticas culturais era benéfica, mas lamentara o acirramento e o baixo nível dos debates. Na quinta-feira à noite, Ramos procurou o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) e anunciou o pedido de exoneração. Entre os motivos apontados, mensagens ofensivas e ataques pessoais que vinha recebendo.
Hildebrandt recusou o pedido e sugeriu que os dois voltassem a conversar no dia seguinte, de cabeça fria. Nesta sexta, Rodrigo confirmou que a decisão era irreversível. O jornalista não atendeu a contatos da coluna na noite desta sexta. Sylvio Zimmermann, que passa a responder pela Cultura, já havia comandado a pasta no governo de Napoleão Bernardes (PSDB). Ele próprio havia indicado Ramos para substitui-lo.
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Segundo Elton Gomes, na segunda-feira o Conselho de Política Cultural voltará a reunir-se para discutir um novo processo de votação, desta vez presencial.
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