As preocupações do blumenauense sobre a pandemia de Covid-19, reveladas pela pesquisa Focus da Furb com exclusividade para o Santa, ajudam a explicar a condução da crise pelo governo municipal. Elas avalizam a linha adotada pela prefeitura, mas não necessariamente os resultados futuros dela, que serão relevantes no contexto da eleição de novembro.

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A maioria dos 800 blumenauenses ouvidos aponta a saúde de familiares como principal fator de atenção, mais até do que a própria saúde mental e física. Nesse contexto, compreende-se a ênfase do poder público numa espécie de “isolamento vertical” dos idosos, mensagem presente em discursos e também na briga judicial para evitar que pessoas com mais de 60 anos usem ônibus.

Há obstáculos para fazer essa política funcionar, seja pela presença de idosos nas ruas, seja pela convivência deles com pessoas mais jovens expostas ao vírus. Mas o apelo à prevenção nos grupos de risco responde a uma ansiedade real.

Ao mesmo tempo, com medidas pouco restritivas de circulação, a prefeitura tenta proteger empregos e a renda das famílias, segunda maior preocupação individual do blumenauense, segundo a pesquisa.

Falência de empresas

Numa perspectiva da situação coletiva de Blumenau, as pessoas ouvidas pela Furb temem a quebradeira de empresas e o (mau) comportamento de outros cidadãos em relação ao distanciamento social. Os puxões de orelha do prefeito Mário Hildebrandt e do secretário de Saúde, Winnetou Krambeck, nas lives diárias sobre o combate à pandemia, têm razão de existir.

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Como já escrevi aqui neste espaço, culpar a população, um coletivo intangível, serve para responsabilizar ninguém pelo resultado das políticas contra o coronavírus. Mas aparentemente funciona.

O blumenauense parece entender que a decisão política de afrouxar o isolamento social é o preço a se pagar pela manutenção dos empregos. Já as aglomerações seriam fruto de decisões individuais equivocadas.

“A situação geral da cidade no combate ao coronavírus” e os sistemas público e privado de saúde estão bem abaixo na lista de preocupações. Deduz-se que, para os entrevistados, há leitos hospitalares e profissionais suficientes para atender à demanda. Bastaria um pouco de consciência à “população” para reduzir o poder ofensivo do novo coronavírus.

Trata-se de autoengano. Por mais investimentos que se faça, morrem 20% dos que precisam ser internados em UTI. O impacto disso alcançará o senso comum à medida em que casos graves e óbitos ganhem nomes de conhecidos, vizinhos, colegas de trabalho ou parentes.

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E, apesar do alívio imediato com a reabertura, a economia sofrerá enquanto houver o temor de que a situação possa fugir ao controle.

O caminho escolhido por Blumenau (e pelo Brasil, diga-se) tem conexão imediata com os temores populares, mas embute riscos que, se não forem mitigados, afetarão diretamente o que os cidadãos pensam sobre a capacidade dos agentes públicos de proteger seus mais caros interesses.