No ano do Centenário o Figueirense vai ter que começar tudo de novo. O rebaixamento à Série C torna ainda mais complicada a reconstrução do clube, mas também é reflexo de uma destruição que vem sendo “construída” há uma década. De um clube que acostumou sua torcida a acreditar em soluções milagrosas, em investidores que nunca existiram, e que vai ter que trabalhar muito para voltar a crescer.
Continua depois da publicidade
A bola de neve foi crescendo ano a ano
O primeiro passo em falso foi dado ainda na gestão de Nestor Lodetti e teve reflexos diretos no que viria nos anos seguintes. O contrato que dava ao parceiro 20% das receitas brutas anuais – independentemente de prejuízos – começou a cavar o buraco das dívidas e deu também a largada para uma dependência deste parceiro, que era a Alliance, de Wilfredo Brillinger.
> Rebaixado, Figueirense completa 62 rodadas no Z-4 da Série B em quatro anos
Brillinger se tornou presidente em 2012, já com uma dívida em torno de R$ 40 milhões. Uma das promessas era “pagar” essa dívida. Com práticas de gestão que levavam jogadores a recorrer à Justiça do Trabalho para cobrar contratos e pendências, Brillinger dobrou os números. Saiu em 2017, depois do rebaixamento para a Série B, no final de 2016, com a dívida próxima aos R$ 80 milhões. Na época o clube e seu Conselho Deliberativo já procuravam uma solução para o caos administrativo e financeiro do Figueirense.
Veio a fase Elephant, que prometia levar o Figueirense a um outro patamar administrativo, financeiro e esportivo. Novamente a prática não bateu com o discurso. Muito pelo contrário. Em 2019 o Conselho Deliberativo teve que buscar uma saída jurídica para tirar Claudio Honigman e companhia do Figueirense. Foi o tempo em que houve o histórico W.O. e uma venda de um “pacote” de atletas da base ao Athlético-PR, no valor de R$ 2 milhões, que nunca entraram nos cofres do clube, segundo relato do presidente do Conselho Deliberativo, Francisco de Assis Filho.
Continua depois da publicidade
Além da dívida própria do Figueirense Futebol Clube, o período da Elephant produziu números de déficit iguais para a empresa que “administrava” o futebol do Figueirense. Hoje são R$ 80 Milhões do clube e mais R$ 83 milhões da Ltda.
Mas é importante registrar que a responsabilidade de tudo isso sempre foi do próprio Figueirense, que aprovou no Conselho Deliberativo todos as parcerias e deu aval para os contratos. Não há como “terceirizar” responsabilidades. O Figueirense construiu a sua história abrindo as portas para todos que estiveram no comando.
Os erros desta temporada são esportivos
Os erros de 2020/21 são esportivos, existiram e foram determinantes para a falta de resultado da equipe na competição nacional e o rebaixamento. Se manter era a meta desde o início e detalhes importantes contribuíram bastante para o desfecho ruim.
As trocas do departamento de futebol, com as saídas de profissionais que vinham dando algum resultado mesmo com toda a dificuldade imposta pelo orçamento mínimo. Felipe Gil vinha conduzindo bem e foi deixado em segundo plano com a chegada de Luciano Sorriso, que era uma aposta muito maior e mais arriscada. Gil preferiu sair, considerando que já não tinha mais função no clube.
Continua depois da publicidade
Sorriso se mostrou ser, com o passar do tempo, o profissional errado, no lugar errado e na hora errada. Não tinha experiência suficiente para comandar o futebol alvinegro e isso ficou muito claro durante a campanha da Série B. José Carlos Lages ajudava a comandar à distância, mas nunca foi homem do futebol. Lages é sim uma pessoa ligada aos negócios que o futebol produz.
A contratação de Elano foi um grande equívoco. Mais uma aposta altíssima. Elano ficou tempo demais, com um trabalho de resultado muito ruim (em 17 partidas, 29,4%) e praticamente cravou o destino do Figueirense.
O Departamento de Futebol também contratou muitos jovens, apostas que buscavam espaço, com salários pagos por outros clubes. É muito risco e pouca identidade – ou poucas raízes com o clube. É muito diferente de ter a maioria dos jogadores com contrato longo, com raízes passadas ou compromissos futuros. Era um risco necessário pela falta de dinheiro, mas que acabou pesando na conta final.
Desafio a partir de agora é ainda maior
Continua depois da publicidade
Fazer o Figueirense voltar a crescer com uma receita ainda menor do que a atual. É o tamanho do desafio que está colocado agora à gestão do clube. As receitas da Série C são mínimas. Não há por exemplo a cota de televisão de R$ 7 milhões que a Série B tem.
> Figueirense renova com o técnico Jorginho para a temporada 2021
O Figueirense vai precisar do seu torcedor para ressurgir, mas precisa dar a ele uma atenção especial. Convocar o torcedor para ser parceiro é simples. Mas fazer realmente deste torcedor um parceiro é mais complicado. O Figueirense – a gestão atual do clube – precisa dar um carinho a este torcedor. Fazendo ele se sentir parte desta reconstrução, usando transparência, abrindo as contas regularmente. Reconstruir a relação, com transparência e respeito.
O trabalho vai ser duríssimo e de longo prazo. Não há solução milagrosa e é preciso quebrar esta cultura de que vai “aportar” no Figueirense um investidor rico e com “a caneta cheia”. O Figueirense continua forte porque tem base sólida, que são os alvinegros. Precisa ser reconstruído – e vai ser – no dia a dia pelos próprios alvinegros.
> Receba notícias de Florianópolis e região no seu WhatsApp