A indústria têxtil e de confecção de Santa Catarina acendeu o sinal de alerta. E por um motivo que já despertou preocupação outras vezes. Uma investigação aberta no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a pedido de uma multinacional dos Estados Unidos, pode provocar aumento de preços de fios importados de poliéster, um dos principais insumos usados na cadeia de produção. Representantes do setor temem efeitos colaterais devastadores se isso acontecer, impactando em uma das atividades que mais geram riqueza e empregos no Estado.

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Trata-se de uma ação contra um suposto “dumping”, prática comercial de venda de produtos a preços abaixo de custo para minar a concorrência – o que é considerado desleal. O processo foi aberto pela empresa americana Unifi, que tem unidade no Brasil, e mira fios de poliéster texturizados trazidos da China. Entidades ligadas ao setor têxtil, entre elas a Associação Brasileira dos Fornecedores de Matérias-Primas Têxteis (Abratex), estimam que a investigação ameaça impor tarifas de até 65% sobre o insumo. Isso, na prática, representaria um acréscimo de R$ 5 no preço do quilo e de 60% no custo de produção.

O Sintex, sindicato que representa as indústrias têxteis de Blumenau e região, está de olho no assunto. O diretor-executivo da entidade, Renato Valim, é direto: a taxação adicional comprometeria a competitividade das empresas locais. Aumentos de custos, observa ele, podem estimular as empresas a comprarem produtos acabados de fora, o que poderia desmobilizar o parque fabril instalado no país, com redução de empregos. Ou então serão repassados na ponta em um cenário da economia já pressionado pela inflação e pela alta da taxa de juros, que freiam o consumo.

— Vai aumentar o preço da matéria-prima, as empresas vão se adequar. Quem vai pagar a conta é o consumidor — alerta.

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Valim lembra que a produção nacional de fios, usados na produção de peças de roupa, lençóis e toalhas, por exemplo, só dá conta de atender entre 20% e 25% da demanda da indústria doméstica. Por isso, importar o insumo acaba não sendo uma opção, e sim uma necessidade. As eventuais consequências na cadeia produtiva e no mercado consumidor fazem entidades do setor questionarem o interesse público do processo.

Investigações antidumping similares que afetariam a indústria têxtil foram suspensas em outros casos. Já há defesa e articulação política nos bastidores junto ao governo federal em curso para tentar fazer com que o processo de agora siga pelo mesmo caminho.

Dados

O setor têxtil emprega, só em Santa Catarina, cerca de 163 mil pessoas. São em torno de 9,5 mil empresas. Somente de fios e filamentos sintéticos, o Estado importa US$ 486,2 milhões de países como China e Índia, mais do que o dobro das exportações totais, que somam US$ 235,8 milhões. Os dados são de um levantamento feito pelo observatório da Federação das Indústrias (Fiesc).

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