A um ano de completar um século de fundação, a Teka, ícone da indústria brasileira de cama, mesa e banho, vive talvez o momento mais delicado – e decisivo – de sua quase centenária história. A conversão da recuperação judicial da empresa em falência com continuidade das atividades, determinada nesta quinta-feira (27) pela Justiça, é uma espécie de cartada final para tentar salvar a companhia do estrangulamento financeiro.
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A decisão, de primeiro grau, pode ser questionada em instâncias superiores – e deve ser alvo de acionistas que, nos autos do processo, já não concordavam com a solução. Mas, mantido o cenário, restariam, de início, dois possíveis caminhos para a companhia: encontrar novos donos dispostos a assumir e investir no negócio ou lacrar as fábricas, liquidar todo o patrimônio e pagar o que for possível de dívidas.
É com a primeira hipótese que o administrador e o gestor judiciais da Teka trabalham ao reivindicarem a mudança no status processual. Com a decretação da falência continuada, serão levantados os valores dos bens da companha, que devem ir a leilão no futuro. O edital deve ser costurado de forma que um possível investidor se comprometa a manter as operações e preservar empregos, dois dos principais objetivos da recuperação judicial.
O trunfo nessa futura prospecção é a atual viabilidade comercial da Teka, defendem o atual gestor, Rui Otte, e o administrador judicial, Pedro Cascaes Neto. Ambos garantem que, hoje, as vendas estão melhorando e a empresa honra com todos os seus compromissos, trabalhistas e tributários, em dia. No mercado, a marca tem potencial e é reconhecida. Recentemente, foi eleita mais uma vez fornecedora de destaque no Brasil por empresas do setor hoteleiro.
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O “problema” é o passado: hoje a Teka acumula uma dívida de R$ 4 bilhões, revelou Cascaes Neto em entrevista coletiva convocada às pressas no final da tarde de quinta-feira (27), poucas horas depois da decretação de falência. É um rombo considerado impagável, que resulta em ações de penhora que ameaçam bloquear totalmente as contas da empresa. Por outro lado, a lei que rege processos de falências permite que futuros compradores em leilão assumam o negócio sem ônus. Ou seja, livre de débitos.
Bens que eventualmente forem arrematados, entre eles até mesmo as duas fábricas da Teka ainda em funcionamento – em Blumenau e Artur Nogueira (SP) –, terão os valores revertidos preferencialmente para o pagamento de dívidas trabalhistas, que somam cerca de R$ 300 milhões. Embora o patrimônio da empresa ainda não tenha sido todo avaliado, Cascaes Neto diz acreditar que é possível ao menos honrar compromissos em aberto com atuais e ex-funcionários.
Por ora, a mensagem deixada pelo administrador judicial é de que “no mundo real, nada muda”. A Teka vai continuar produzindo, negociando com fornecedores, empregando 2 mil pessoas e pagando salários. Mas, a essa altura do campeonato, a sobrevivência da empresa parece passar por algum fato novo que venha do lado de fora da porta da fábrica.
Fotos mostram como é a produção da Teka
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