Situações extremas costumam castigar quem não está preparado para imprevistos, mas podem e devem servir de exemplo para que as consequências sejam amenizadas quando elas se repetirem. Em Santa Catarina já demos provas de que soubemos aprender com a dor. Com histórico de enchentes, cidades e Estado criaram protocolos de segurança e prevenção que se tornaram referência para o Brasil. Não dá para interromper a chuva ou fazer o rio parar de subir, mas com informação e tecnologia é possível antecipar cenários e diminuir os prejuízos provocados pelo excesso de água.

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A pandemia de Covid-19, claro, está em um patamar de gravidade completamente diferente e é incomparável a tudo que se conhece: tem impacto global, não dá chance a muitos dos que adoecem e ninguém sabe quando ela vai passar. Por outro lado, quatro meses de vida alterada pelo coronavírus em Santa Catarina já é tempo relativamente suficiente para absorver parte dessa rotina do chamado “novo normal”. Muita gente, no entanto, continua fechando os olhos e ignorando o que está posto na frente do próprio nariz.

As medidas contra o coronavírus comunicadas pelo governo do Estado na sexta-feira (17), que já estavam sendo adotadas em algumas cidades, e as novas que serão anunciadas por Blumenau nesta segunda (20) são um recado mais do que claro de que o cenário continua piorando. E se elas não forem suficientes para estancar o crescimento de casos e mortes e desafogar o sistema hospitalar, novo fechamento geral de atividades para reduzir a circulação de pessoas parece ser um caminho sem volta, gostem ou não disso.

Por ora um lockdown figura apenas como possibilidade com tons de ameaça nos discursos de gestores públicos. Essa titubeação, porém, abre margem para o descrédito. Muitos empresários, lojistas e profissionais liberais com quem conversei nos últimos dias sequer trabalham com essa hipótese. Pois deveriam. Tarefa das mais básicas de quem empreende é projetar cenários e se preparar para o pior, mesmo que esse pior custe mais perdas de empregos e prejuízos para a economia.

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A experiência de fechamento geral vivida quatro meses atrás, com manutenção apenas de serviços essenciais, ajudará a mitigar os impactos de um eventual retorno da quarentena mais rígida. Bares e restaurantes que precisaram implantar delivery às pressas agora estão com o sistema de entregas funcionando a pleno vapor. Pequenos empreendedores que se viram sem clientes descobriram nas redes sociais e no comércio eletrônico um caminho para continuar abastecendo a freguesia. O home office pouco afetou – em muitos casos, aliás, até aumentou a produtividade – tarefas administrativas e burocráticas que podem muito bem serem feitas de casa, numa tendência que veio para ficar.

É claro que para muita gente, principalmente aos que ainda não conseguiram retomar as atividades, não será tão simples. E é para esse contingente que as políticas públicas mais precisam funcionar. O auxílio emergencial tem que ser pago a quem mais necessita e o crédito não pode demorar tanto para chegar na ponta. Em Blumenau, por exemplo, o programa Juro Zero, para socorrer microempreendedores e empresas de pequeno porte, foi anunciado há um mês, mas ainda não saiu do papel porque depende de regulamentação. Nem todos têm condições de esperar mais.

Ajudaria um bocado também se houvesse um discurso uníssono entre autoridades públicas, que convergisse para um grande esforço coletivo de resiliência a tempos tão difíceis. Enquanto políticos trocam farpas entre si, a caça às bruxas aumenta e a polarização contamina o debate sobre tratamentos, restrições ao convívio seguirão batendo à porta até que uma vacina esteja à disposição de todos. Considerar que um novo lockdown é uma possibilidade não é defendê-lo, mas sim olhar para a realidade.

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