Às vésperas da largada em Belém, no Pará, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) reacende o – não mais novo – debate da pauta ESG no universo corporativo, reforçando a importância de medidas de proteção ao meio ambiente, governança e sustentabilidade aliadas aos negócios. Em meio às discussões para conciliar resultados financeiros com a responsabilidade social, uma das maiores empresas têxteis de Santa Catarina, que estará no evento, tomou a liberdade de ressignificar essa sigla.

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Ao ESG, a Lunelli, de Guaramirim, acrescentou internamente uma segunda letra “E”, que remete à economia – ficaria algo como uma pauta EESG. A fabricante de peças de roupa é uma empresa privada e não esconde que tem como primeiro objetivo a busca pelo lucro. Mas também entende que pode chegar lá sem queimar etapas e atropelar processos, buscando harmonia entre a geração de riqueza e a proteção social e ambiental.

— Só conseguimos ajudar a comunidade a partir do resultado que a empresa está dando — defende a presidente da companhia, Viviane Lunelli.

Como é uma fábrica da Lunelli

A Lunelli tem lugar de fala no assunto. Recentemente, foi certificada pelo Sistema B, um selo que considera 150 itens em cinco áreas (governança, trabalhadores, comunidade, meio ambiente e clientes) e atesta o compromisso da companhia com altos padrões de gestão social, ambiental, transparência e responsabilidade corporativa. Não é pouca coisa: no mundo, existem apenas 18 empresas de moda e vestuário com mais de mil funcionários certificadas B. No Brasil, a Lunelli é só o segundo grupo do ramo a chegar lá – o outro é a Azzas 2154, empresa criada a partir da fusão entre Arezzo e Soma e que controla a Hering.

Com faturamento de R$ 1,6 bilhão, a empresa emprega quase 5 mil pessoas em fábricas espalhadas por Santa Catarina, São Paulo, Ceará e Paraguai. Só em 2025, segundo Viviane, está investindo R$ 100 milhões em tecnologias e renovação do parque fabril. Deste aporte, R$ 40 milhões são direcionados a uma nova matriz energética. A coluna conversou com a empresária. Confira um resumo da entrevista.

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A Lunelli se dedicou para conquistar o certificado do Sistema B. Por que isso é tão importante dentro da estratégia da empresa?

Nós entendemos que ela (a sustentabilidade) faz parte da estratégia desde sempre. Desde a nossa fundação, sempre tivemos a preocupação de fazer com que as nossas atividades, de alguma maneira, fossem responsáveis. Obviamente, quando se traz uma certificação da B Corporate, estamos falando de um nível mundial. Eu entendo que isso está muito ligado à nossa estratégia de fazer moda com significado, de promover impacto positivo no mundo. Quando você vai lastreando as suas escolhas no dia a dia dentro de um planejamento, seja ele estratégico ou orçamentário, com esse olhar, tem a oportunidade de minimizar impactos. E dentro dessa minimização de impactos, também vai melhorando enquanto gestão. De uma maneira geral, o consumidor também está começando a se atentar para essa necessidade. Ainda é de uma forma incipiente, mas ele vai percebendo mais valor, principalmente as gerações mais jovens. Para a perenidade dos negócios, do planeta e do social, é importante que a gente tenha isso como uma estratégia.

Que exemplos práticos são adotados hoje dentro da empresa que atestam essa certificação?

Por exemplo, a Lunelli audita o balanço há mais de 20 anos, sempre com auditoria externa. Temos um conselho consultivo há 15 anos, com conselheiros independentes dentro da estrutura. Temos um código de conduta. Quando vamos para questões de meio ambiente, adotamos muitas práticas e políticas para minimização de impactos, como tratamento de resíduos e efluentes. De todos os insumos que a gente utiliza, pensamos como é possível substituir por uma matéria-prima mais sustentável. Posso trabalhar com mecanismos que vão fazer com que eu gere menos resíduo? Dentro desse programa de gestão ambiental, temos métricas muito claras, como uso de matérias-primas mais sustentáveis, como o algodão, que é certificado. Quando se olha para a cadeia têxtil, tem muito a questão de exploração de mão de obra não adequada. Fizemos escolhas, fomos trabalhando para que os colaboradores tenham uma série de benefícios, como uma previdência complementar. A cada eixo, vamos trabalhando com práticas, desde a participação em uma COP ou assinar um pacto global com a ONU (Organização das Nações Unidas) se comprometendo com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). A própria distribuição de lucro aos colaboradores lastreia essa geração de riqueza distribuída.

Dentro da pauta ESG, a Lunelli acrescentou mais um “E”, que é o econômico. E a empresa não esconde que precisa, antes de tudo, dar lucro para promover essa sustentabilidade. Por que decidiram ressignificar esse conceito?

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Porque senão parece uma bandeira sem muita consistência. A gente sempre entende que, se a gente for trabalhar só no aspecto social, de meio ambiente e governança, a gente deixa uma parte importante de lado. Precisamos que a sociedade entenda e que as lideranças dentro da empresa também entendam esse conceito. Só conseguimos ajudar a comunidade a partir do resultado que a empresa está dando. Uma doação para amparar qualquer entidade é feita com a geração de lucro. Entregar um benefício para um colaborador é feito com a geração de lucro. Como eu pago um benefício de assistência médica ou invisto em um plano de previdência complementar se eu não tenho geração de lucro? O pilar do lucro não é o único, mas precisa estar em sintonia. Então foi para gerar esse entendimento, de que o lucro precisa andar junto.

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