Uma das gigantes da moda brasileira, a empresa Lunelli, de Jaraguá do Sul, que tem 13 fábricas no Brasil e uma no Paraguai, e emprega 4,8 mil pessoas diretamente, acaba de conquistar a certificação pelo Sistema B. Para a presidente da companhia, Viviane Cecilia Lunelli, essa conquista é um selo de reconhecimento não apenas pelo que a Lunelli faz hoje, mas por toda a jornada construída até aqui.

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Essa certificação comprova o compromisso do grupo com os mais altos padrões de gestão social, ambiental, transparência e responsabilidade corporativa. O selo B considera 150 critérios, que vão desde propósito até a importância de ter lucro para a continuidade da empresa. Essa conquista será um dos destaques da empresa na COP 30, em Belém, no Pará.

Veja mais imagens sobre o grupo Lunelli:

Com mais de quatro décadas de atividades, a Lunelli conta com sete marcas no mercado e, além disso, é fornecedora de tecidos para outras gigantes da moda brasileira, como Renner, Havan e Riachuelo.

Em entrevista exclusiva para o NSC Total, a presidente Viviane Cecilia Lunelli fala, além da conquista da certificação B, da trajetória do grupo, dos momentos mais difíceis e dos atuais. Também conta como chegou à presidência e aconselha mulheres a se desafiarem mais na liderança de empresas. Confira:

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A Lunelli acaba de obter a Certificação Sistema B. O que significa essa conquista para a empresa?
– Essa certificação é um selo de reconhecimento, não apenas pelo que fazemos hoje, mas por toda a jornada construída ao longo dos anos. Ser uma com certificação B nos coloca em outro patamar, nacional e internacionalmente.

Dentro da categoria de empresas têxteis grandes e complexas, aquelas com mais de mil colaboradores, existem apenas 18 certificadas no mundo. A Lunelli é a 19ª. No Brasil, só há outro grupo com essa qualificação: o Grupo AZZAS, que reúne marcas como Arezzo, Reserva, Grupo Soma e Hering. Isso nos posiciona como o segundo grupo brasileiro de grande porte, a integrar o Sistema B. É uma conquista que nos aproxima de empresas como Natura, Nespresso e Danone, que já trilham essa jornada de sustentabilidade.

A certificação B avalia dimensões como comunidade, clientes, colaboradores, governança e fornecedores. E esperamos que o nosso exemplo inspire outras empresas a seguir esse caminho. O Sistema B, inclusive, exige que a empresa seja lucrativa, o lucro é um dos pilares da sustentabilidade, junto com o ambiental, o social e o de governança.

Uma empresa saudável é capaz de sustentar essa engrenagem. Essa é uma crença que vem desde os fundadores da Lunelli, Antídio e Beatriz, e foi reforçada por Denis durante sua presidência. É um caminho sem volta, pode ser mais lento ou mais rápido, mas é inevitável.

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Vamos falar de toda a trajetória da Lunelli. Como foi o início das atividades da empresa?

– A Lunelli tem 44 anos e comemoramos nosso aniversário agora, no mês de outubro. No dia 1º celebramos a data de fundação, quando o Antídio e a ex-esposa Beatriz iniciaram o negócio. Eles começaram costurando retalhos das maiores malharias da região, produzindo roupas infantis e vendendo toalhas e fraldas.

Tudo começou de forma muito pequena, primeiro na garagem de casa, e foi ganhando corpo aos poucos. Em 1987, o Antídio comprou o primeiro tear, dando início à estrutura mais verticalizada da empresa, porque, até então, comprava resíduos de tecido para produzir roupas infantis.

De quem ele comprou esse tear?
– Essa história é curiosa: o Antídio recebeu a confiança de um fornecedor que havia vendido um grande lote de máquinas para a Marisol. Numa noite de muita chuva, ele parou para se abrigar em um galpão e lá estava o Antídio, de bermuda e camiseta, trabalhando ao lado de uma máquina antiga que só quebrava agulhas. Esse senhor, Luciano Natalini, hoje falecido, se tornaria um dos nossos grandes parceiros e fornecedores de teares.

Ele viu aquele jovem e perguntou: “Chame o seu patrão, quero conversar com ele.” O Antídio respondeu: “O patrão sou eu”. O senhor Luciano então disse: “Antídio, você nunca conseguirá tirar um produto de boa qualidade desse tear, não vai ter resultado assim. Vou lhe vender uma máquina nova”.

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O Antídio explicou que não tinha condições de comprar, pois estava começando, era filho de agricultor. E o senhor Luciano respondeu: “Eu lhe darei crédito”. Assim surgiu o primeiro equipamento novo, o nosso tear 001, que ainda está em operação. Hoje temos 140 máquinas daquele modelo.

Esse foi o impulso para o crescimento da empresa?
– Ali começou o processo de entrarmos na malharia, e depois vieram as demais etapas da produção. Atualmente, somos uma indústria extremamente verticalizada. Não produzimos o fio, mas o internalizamos e realizamos todo o restante: malharia, tinturaria, beneficiamentos, estamparia digital e confecção.

Completamos 44 anos, temos cerca de 4.800 colaboradores e 14 fábricas. Estamos predominantemente em Santa Catarina, distribuídos por regiões maiores e menores do estado. Também temos uma unidade no interior de São Paulo, em Avaré; uma no Nordeste, em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza; e uma no Paraguai. Estamos no Paraguai há 10 anos e no Nordeste há quase 20. A indústria têxtil precisa de muitas pessoas, e precisamos estar onde elas estão.

A Lunelli tem diversas marcas. A senhora pode falar sobre elas?
– Ao longo dessa trajetória, nasceram diversas marcas dentro da Lunelli. O que começou como a junção de dois sobrenomes: Lunelli e Ender, de Antídio e Beatriz, tornou-se a nossa marca de moda feminina adulta, a Lunender, fundada em 1981 e até hoje muito importante para nós. Essa é a nossa marca mais antiga, voltada ao público feminino, e tem grande valor para a empresa.

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Também temos marcas como a Lez a Lez, que atua no segmento feminino com valor agregado. No público masculino, temos a Hangar 33, voltada a um consumidor com maior poder aquisitivo.

No infantil, temos a marca Alakazoo, com linhas feminina e masculina. E a Fico, que tem um estilo surf e streetwear. A Fico foi inicialmente licenciada por nós, e, após dez anos de licenciamento, o dono da marca decidiu vendê-la à Lunelli. Também temos a marca Vila Flor.

Além das marcas próprias, produzimos malhas e tecidos para o mercado. Somos fornecedores de grandes empresas como Renner, Cantão, Farm e Riachuelo. Atendemos cerca de 2.200 clientes de malhas e tecidos, além de 22 mil multimarcas de confecção. Nosso principal negócio é o cliente multimarca e as confecções.

Vocês também atuam no varejo com a marca Lez a Lez. Como está a presença dela no mercado?
– A Lez a Lez conta hoje com 55 lojas, entre próprias e franquias. Este ano foram abertas 13 unidades. É a única marca que levamos ao varejo como monomarca. Em Jaraguá do Sul, temos uma flagship voltada a testar conceitos e experiências de marca.

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No mesmo espaço, reunimos as marcas Lez a Lez e Hangar 33, com um Café Cultura no meio, para reforçar esse lifestyle de família que valorizamos. Hoje somos uma grande indústria nacional. Embora o setor têxtil brasileiro seja bastante pulverizado, com poucas empresas concentrando grande volume de produção, fabricamos aproximadamente 26 milhões de peças de confecção por ano.

Com 26 milhões de peças, vocês vestem quanto por cento do Brasil?
– Se formos olhar a população do Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes (212 milhões) fica perto de 10%. Mas, na verdade, o que acontece é que todos compram muita roupa. Embora seja um bem com durabilidade alta, sempre temos muitas peças no guarda-roupa. E, no caso do infantil, as crianças crescem, então há sempre uma renovação.

Na fabricação de malhas e tecidos, produzimos cerca de 15 milhões de quilos por ano. Desse total, aproximadamente 50% utilizamos em nossas próprias marcas de confecção e os outros 50% destinamos ao mercado.

No setor de estamparia digital, o maior parque fabril do Brasil é o da Lunelli. Começamos a investir em estamparia digital em 2013, porque é um processo muito mais sustentável e oferece maior resolução. Foi uma bandeira que levantamos desde o início.

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Antes, praticamente tudo era feito por estamparia rotativa. Ainda a mantemos por questões de custo, mas a digital traz muito mais definição e sustentabilidade.

Quer dizer, na estamparia digital o tecido é pintado e o que sobra praticamente não polui?
– Exatamente. Imagine uma impressora de escritório: entra o papel e sai o material impresso. Temos o cartucho de tinta, mas não existe aquela sujeira de encanamento, de preparação de tinta, tudo já vem pronto. O aproveitamento é praticamente integral, com um cabeçote de impressão aplicando a tinta diretamente no tecido. Para ter uma noção, um processo digital consome apenas 25% dos recursos de um processo convencional, ou seja, uma redução de 75%.

Esses 25% se referem à água ou à tinta?
– À água. Utilizamos 25% da quantidade de água que seria usada num processo tradicional. É um processo limpo e eficiente.

Então, ele usa apenas um quarto da água que seria usada normalmente.
– Exato. E, de forma geral, há muito o que pode ser feito na indústria para melhorar o impacto ambiental. Por exemplo, em nossas coleções de índigo, o jeans, utilizamos processos de lavanderia que consomem apenas um copo de água, em vez de cem litros.

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Falamos sobre isso, mas sempre lembrando que é uma parte do processo, porque não queremos fazer greenwashing. É importante ter responsabilidade ao comunicar essas práticas. Nem todas as lavanderias operam com essa tecnologia. Há poucas no Brasil. A Cristal, em Rio do Sul, é uma das que trabalham com esse processo do início ao fim.

Não temos lavanderia interna, então utilizamos lavanderias terceirizadas, e a Cristal é uma das nossas principais parceiras. Algo interessante é que temos tanto as marcas de confecção quanto a produção de malhas e tecidos. Costumamos dizer que todo mundo veste Lunelli, seja com nossas marcas, seja com alguma marca que utiliza nossas bases de tecido. Todo guarda-roupa tem algo da Lunelli. Sempre que alguém nos mostra uma peça e diz “olha essa base”, muitas vezes é nossa.

Hoje vestimos muito mais pessoas do que apenas as que usam diretamente nossas confecções. Recentemente estive na Riachuelo, durante uma visita a um cliente em Natal. Foi curioso, porque, como somos fornecedores, a cada peça que olhávamos dizíamos: “Olha lá, aquela base é Lunelli!” Praticamente tudo era.

Há muitos artigos que desenvolvemos para nos diferenciar no mercado, então nossas bases estão espalhadas por todo o país. Com o volume que produzimos, há Lunelli em muitos lugares.

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Grandes marcas como Riachuelo, Renner e Havan dependem da indústria que você lidera. É muita responsabilidade, não?
– É, sim, muita responsabilidade. Temos um compromisso grande com a perenidade do negócio. Entendemos que o propósito de uma empresa vai além de gerar empregos ou fornecer produtos; há também um papel social importante.

Desde o início, o Antídio, e depois o Dênis, sempre tiveram o cuidado de se cercar de pessoas competentes. E seguimos com esse mesmo propósito: somos o que somos porque temos muita gente boa conosco, representantes comerciais, colaboradores, clientes.

Trabalhamos com uma energia positiva, e isso atrai mais pessoas com essa mesma vibração. Mas, claro, não é um setor fácil. Quando olhamos para o potencial da China no e-commerce e o volume de produtos que entram no mercado nacional, vemos que isso pressiona todos: Riachuelo, Renner, Havan e também a Lunelli. No meio disso, precisamos encontrar nossos caminhos.

E como vocês estão vendo essa questão da China agora, com o tarifaço?
– O tarifaço não nos afeta diretamente. Ele impacta a economia como um todo, mas exportamos pouco, cerca de 4% da produção total. Nosso foco não é o mercado americano, e sim o Mercosul. De certa forma, esse tipo de medida atrapalha mais o comércio global.

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As plataformas de e-commerce internacionais são um caminho sem volta. Precisamos encontrar o nosso caminho, sabendo que o online é uma vertente cada vez mais relevante. Mas também não acreditamos que o varejo físico vá desaparecer. Ele continuará existindo, mas de forma mais qualificada.

Nosso papel como indústria é ajudar nossos clientes a se desenvolverem, aperfeiçoando logística, coleções e estratégias, para que os produtos tenham boa saída, agradem ao consumidor e mantenham valor agregado. Também buscamos mostrar ao consumidor que nossos produtos têm um olhar sustentável, com impacto positivo na cadeia produtiva.

Mas é um caminho sem volta, não há como frear a China. Precisamos fortalecer nossa indústria e continuar sendo relevantes. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil desta semana, Santa Catarina deve se tornar, no próximo ano, o maior estado produtor de têxteis do país, ultrapassando São Paulo, que sempre liderou.

A senhora disse que o grupo investe bastante na indústria. Qual é o investimento para este ano?

-A Lunelli sempre reinveste, no mínimo, o valor da depreciação anual. Entendemos isso como uma base essencial para manter o parque fabril atualizado. Mas, neste ano, estamos indo além desse patamar. Estamos ampliando nossas atividades no Brasil e no Paraguai, com destaque para um investimento robusto em matriz energética.

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Só na unidade de beneficiamento, são cerca de R$ 40 milhões destinados à infraestrutura de caldeiras, estação de tratamento de efluentes e toda a consolidação da matriz energética. Nosso foco é fazer mais com menos, com mais eficiência na queima do cavaco, na otimização de recursos e na adoção de tecnologias que aumentem o aproveitamento energético.

Para a Lunelli, a indústria é um pilar estratégico. A pandemia mostrou isso claramente. Quando o fornecimento de insumos ficou comprometido por causa das restrições logísticas, percebemos o quanto a indústria forte faz diferença. Por isso, seguimos atualizando nossas tecnologias, buscando processos que consumam menos recursos, menos energia, menos água, menos gás natural, e gerem mais eficiência.

E o fato de vocês estarem mais preparados ajudou a enfrentar melhor a pandemia?
– Sim, enfrentamos bem esse desafio. A Lunelli sempre teve um olhar cuidadoso sobre toda a cadeia produtiva, porque a indústria é o grande financiador dos nossos clientes e fornecedores.

No setor de confecção, por exemplo, é comum a costura ser terceirizada em pequenas oficinas, com 30, 50, até 200 colaboradores, que dependem de empresas maiores para se manter. Durante a pandemia, quando tudo parou, a Lunelli manteve o apoio aos clientes e fornecedores.

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Fizemos questão de sustentá-los, porque sabíamos que eles não podiam quebrar. Quando a economia retomou, esses clientes priorizaram a Lunelli. Isso mostra que há uma relação de parceria que vai além do simples fornecimento de produtos. Uma indústria saudável fortalece todo o ecossistema.

A Lunelli vai crescer este ano?
– Pouquíssimo. Vamos nos manter estáveis, no mesmo patamar de 2024, com faturamento próximo a R$ 1,6 bilhão. A economia está bastante travada. O bolso do consumidor, especialmente das classes C e D, que representam a maior parte do nosso público, está muito pressionado. Temos algumas marcas que alcançam o público B, mas o foco principal é na classe C, e é justamente aí que o impacto econômico é maior.

Hoje, existem muitos concorrentes disputando o orçamento das famílias. As pessoas têm destinado parte da renda a outras demandas, como celulares, apostas online, que viraram um fenômeno e acabam competindo diretamente com o consumo de vestuário, além do aumento geral de preços.

Há uma inflação interna perceptível. Qualquer ida ao supermercado mostra o quanto os produtos encareceram. Além disso, o custo logístico no Brasil é alto: transporte caro, combustível subindo, infraestrutura precária, tudo isso recai sobre o consumidor.

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Com juros elevados e alto endividamento da população, o poder de compra cai. Então, nosso foco tem sido manter a solidez da empresa, preparar a indústria e seguir investindo, mesmo num cenário de estagnação. Este é um ano de manutenção, de preparação para 2026. O próximo ano deve continuar desafiador.

As projeções indicam um crescimento muito pequeno no setor, cerca de 0,7% no varejo e 1,1% no têxtil. Além disso, 2026 será um ano de Copa, eleições e 11 feriados em dias úteis. Isso tudo afeta a produtividade. Então, nosso olhar é cauteloso.

A Lunelli é uma gigante na região de Jaraguá do Sul e Guaramirim. Quantas unidades vocês têm e quantas pessoas empregam nesses municípios?

– Aproximadamente 70% da estrutura da Lunelli está em Santa Catarina. As principais unidades estão em Jaraguá do Sul, Guaramirim e Corupá. Em Luiz Alves, operamos na antiga planta da Dudalina, produzindo a marca masculina Hangar 33. Mantivemos ali o know-how da equipe local, especializada em camisaria. Também temos unidade em Barra Velha.

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No Nordeste, empregamos cerca de mil a 1,2 mil colaboradores, dependendo da sazonalidade, o que faz dessa planta uma das mais relevantes fora de Santa Catarina.

No interior de São Paulo, na unidade de Avaré, adotamos políticas e práticas diferentes do padrão local, o que fez com que nos tornássemos referência para o sindicato e para entidades da região, tanto pela gestão quanto pelas boas práticas trabalhistas.

E como é a fábrica do Paraguai?

– A operação no Paraguai é semelhante à de Corupá, com foco em beneficiamento têxtil e uma pequena parcela de costura. A unidade tem cerca de 400 colaboradores e está localizada em Minga Guazú, região do Alto Paraná, a aproximadamente 20 quilômetros da fronteira com o Brasil. É uma operação que vem crescendo e é muito importante para a comunidade local.

E como se dá a atuação de vocês na questão do apoio social à comunidades?
– O cuidado com a comunidade é importante em cada local onde atuamos. No Paraguai, no Nordeste, em todos os lugares, buscamos contribuir com o entorno, não apenas aproveitar a mão de obra. Esse compromisso é reconhecido pelas comunidades e pelas instituições locais. Quando uma indústria chega, o desenvolvimento vem junto.

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Em São Paulo, por exemplo, trabalhamos com jovens aprendizes de costura e, no projeto de conclusão, eles desenvolvem roupas para um desfile de uma entidade que acolhe pessoas com deficiência. É um momento muito bonito, porque os alunos veem as peças sendo desfiladas por cadeirantes, pessoas cegas ou com outras limitações. Isso mostra que nosso trabalho vai além de fazer roupas, há um propósito social por trás. São ações simples, mas que transformam mentalidades e fortalecem o olhar humano dentro da empresa.

A gente qualifica os jovens aprendizes dentro da própria unidade. Em São Paulo, por exemplo, temos também um projeto de qualificação para pessoas da comunidade, que podem vir a trabalhar na Lunelli ou em qualquer outra indústria de confecção. É uma forma de desenvolver a mão de obra local.

Um dos desafios atuais é conseguir trabalhadores. Como vocês estão conseguindo montar suas equipes?

– Em Santa Catarina, 69% do nosso quadro de pessoal é integrado por mulheres. Mas, nas unidades de costura, por exemplo, o percentual de mulheres chega a 90%. Já nas áreas de beneficiamento, há mais homens. Então varia conforme a função e o tipo de operação.

Como a senhora chegou à presidência da empresa, que é uma gigante no setor em que atua?

– Eu tenho 35 anos de Lunelli. E acho que é importante entender a origem da empresa para compreender esse percurso. Nós perdemos o nosso pai muito cedo, eu tinha 14 anos, o Dênis 9, e a nossa irmã, 3. Ela é a única que não trabalha no negócio, é médica dermatologista, tem clínica em Jaraguá do Sul. Ela até começou a trabalhar um pouco conosco, mas logo decidiu seguir a medicina. O Antídio, nosso irmão mais velho, tinha 25 anos quando o pai faleceu.

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Na época, ele tinha fundado a Lunender, que foi a origem do grupo. A empresa existia havia uns oito anos quando perdemos o pai. O Antídio já tinha dois filhos pequenos e, de repente, a família inteira acabou se apoiando nele. Ele cuidava dos negócios e das crianças. Nossos pais sempre trabalharam na agricultura, eram colonos.

Quando precisei fazer o segundo grau, em Corupá não havia transporte ou escola próxima, então fui morar com o Antídio e a Beatriz. Comecei a aprender com eles as tarefas administrativas e, aos 14 anos, já trabalhava na empresa.

O Dênis começou com 13. Então, a nossa vida profissional foi toda dentro da Lunelli. O Antídio foi presidente por 28 anos, o Dênis ficou 14 anos e eu estou há três anos na presidência.

Antídio deixou a presidência por volta de 2008, 2009, para seguir outros investimentos e ingressar na política. Já o Denis assumiu o posto e, em 2024, tornou-se vice-prefeito de Guaramirim, permanecendo como presidente do conselho da empresa.

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Então, os dois acabaram colocando um pé na política. Eu segui aqui, junto com a equipe, que é muito experiente. Temos diretores que estão há décadas na Lunelli, é uma trajetória de aprendizado coletivo.

Tem gente que começou lá com o Antídio e ainda está aqui?
– Sim, a grande maioria. Um dos diretores será homenageado na próxima semana pelos 30 anos de empresa. Temos também o Robson (Zambonetti, diretor comercial), com 24 anos de casa. Ou seja, boa parte da diretoria passou pelas gestões do Antídio, do Dênis e agora está comigo. O único diretor que veio de fora foi o César (Roxo), do varejo, para complementar a estratégia de expansão da Lez a Lez.

Muitos colaboradores têm muito tempo de empresa também. Na próxima semana, teremos homenagens de 20, 25 e 30 anos de casa. Dois terços do nosso quadro têm longa trajetória na Lunelli. Só este ano, quase 500 pessoas serão homenageadas por tempo de empresa.

Que conselho a senhora daria a outras mulheres que sonham em chegar à liderança de uma empresa?
– Eu acredito que as mulheres já estão muito bem-preparadas para posições executivas. O que acontece é que, muitas vezes, elas são exigentes demais consigo mesmas. Os homens, em geral, se lançam mais facilmente aos desafios, mesmo sem se sentirem totalmente prontos. Já as mulheres costumam esperar a certeza da preparação.

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Acho que falta, às vezes, um pouco mais de coragem, de se colocar e ocupar esses espaços, porque elas estão, sim, preparadas. E essa complementaridade entre homens e mulheres é fundamental, em qualquer nível de liderança.

A mulher tem um olhar mais sensível e sistêmico, é cuidadosa com as pessoas e com o ambiente ao redor. O homem, por sua vez, traz força, objetividade, o equilíbrio das duas visões é o ideal. Por isso, digo sempre: as mulheres devem se permitir mais, aceitar desafios mesmo quando acham que não estão prontas, porque, na prática, quase sempre estão.

Também é importante se posicionar, não se intimidar. Eu não gosto da palavra “empoderamento”, porque parece que é uma disputa. Prefiro falar em voz ativa, em presença. E eu gosto muito de trabalhar com as mulheres aqui dentro, de estimulá-las e ver o quanto podem crescer. Nós preparamos nossas lideranças. Cerca de 80% são formadas internamente.

Como concilia vida pessoal com o trabalho? A senhora tem família?

– Tenho, sim. Sou casada, e é possível conciliar tudo. Sou casada com um advogado, ele não trabalha na empresa, e temos uma vida de família normal, com todos os desafios. Tenho uma filha de 19 anos, que está fazendo Moda na Univali. Então, estamos tentando plantar a sementinha nela.

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Uma sucessora para a Lunelli?
– (Risos) Vamos ver. O mais importante é que ela entenda o negócio, independentemente de trabalhar aqui no futuro. Acho essencial que ela conheça a empresa, o setor, os valores da Lunelli. E eu sinto que ela tem vocação, sim. Quando viajo mais, é claro que marido e filha ficam um pouco de lado.

Mas agora, com a Ana já crescida, conseguimos levá-la em algumas viagens. Ela tem participado de alguns eventos e agendas, e isso é muito bom. Por exemplo, estaremos na COP 30, será o nosso terceiro ano de participação.

O que vocês farão na COP?
– Fomos convidados há dois anos. Nossa primeira participação foi em Dubai, depois em Baku. Temos sido convidados para apresentar os cases da Lunelli relacionados a pessoas e à estratégia de sustentabilidade da empresa. Essas pautas são fundamentais para nós. E o fato de sermos chamados repetidamente mostra que estamos no caminho certo, fazendo coisas positivas e inspiradoras. Compartilhar esses cases é algo muito enriquecedor. Teremos quatro painéis previstos.

Nós vamos apresentar ações não só sobre preservação ambiental, mas também sobre a nossa estratégia de certificação B. O objetivo é inspirar outros negócios com boas práticas. Esse tem sido o nosso propósito nas COPs.

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Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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