A história do turismo em Florianópolis é marcada por fatos curiosos, despreparo para receber estrangeiros e falta de planejamento. De fato, foram os próprios turistas que descobriram, de forma orgânica, as belas praias da capital. O desenvolvimento do turismo ocorreu não porque a cidade era “vendida” como produto turístico, mas porque eles vieram mesmo sem convite ou promoção formal do destino.

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Esse movimento começa a se intensificar a partir do fim da década de 1960. Os relatos são do professor Antonio Pereira Oliveira, precursor do turismo profissional na capital e fundador da primeira agência de viagens de Florianópolis, a Ilha Tur, que iniciou suas operações em 1967.

Veja fotos antigas de Canasvieiras:

— Havia apenas uma estrada para se chegar à praia. Era a da Lagoa da Conceição. Tínhamos quatro hotéis com uma classificação que hoje não chegaria nem a três estrelas — lembra.

“Câmbio dólar”

Antonio Pereira Oliveira recorda que a presença massiva de argentinos foi uma surpresa e que a cidade não estava preparada para recebê-los nos anos 1980, na época do chamado “dame dos”, quando a valorização do peso argentino tornava tudo muito barato para os hermanos, que chegavam a pedir duas porções de cada prato.

— Uma vez, um funcionário de uma loja de eletrodomésticos da nossa família (LPO) me ligou dizendo que um cliente argentino queria pagar com um “dinheiro verde” e ele não sabia o que fazer — recorda.

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A figura do doleiro no calçadão da rua Felipe Schmidt surgiu como uma oportunidade gerada após a quebra de um ar-condicionado na seção de câmbio do Banco do Brasil (BB).

— Os argentinos faziam fila para trocar dinheiro na agência do BB. Esperavam horas e horas. Um dia o ar-condicionado quebrou e o pessoal ficou na rua. A partir daí surgiu a figura do doleiro de rua, de calção, o que acabou derrubando a cotação — explica.

Navio

Florianópolis recebeu seus primeiros turistas de navio em 1996. Era o Sea Goodness, que trouxe 110 passageiros e 70 tripulantes. Os turistas eram norte-americanos, vendedores que ganharam uma viagem ao Brasil como prêmio. O roteiro começava no Rio de Janeiro e tinha como destino final Buenos Aires, na Argentina, com paradas em Búzios e Florianópolis. O desembarque era feito por transbordo em barcos até a praia.

— Tudo era muito difícil. Precisávamos de dezenas de ônibus com ar-condicionado. Eles pediram dez limousines com motoristas que falassem inglês, o jornal The New York Times do dia e uma quadra de tênis. Era impossível. A quadra de tênis que encontramos era a do Clube 12, com o cimento rachado. Para o turista sair do barco, era preciso pular, molhando os pés inclusive. Esse roteiro durou três anos. Depois, eles desistiram — relata.

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Florianópolis segue até hoje sem condições adequadas para receber navios, devido à falta de estrutura em terra.

Precursor do turismo em Florianópolis conta como tudo começou:

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