A entrevistada do Jornal Nacional, em reportagem exibida na noite de terça-feira (28) — no dia da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, com 64 mortos —, resumiu em uma frase o sentimento que predomina entre os cariocas cansados de ser reféns do crime organizado:
“Eu confesso que não tenho mais esperança.”

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A desesperança é fruto de um filme repetido centenas de vezes: a polícia sobe o morro, realiza uma operação para prender marginais, o pânico se instala, há troca de tiros. Bandidos e policiais morrem. Inocentes são vítimas de balas perdidas.

Veja fotos do Rio de Janeiro:

E nada se resolve. Desta vez, foi ainda pior. Foram mobilizados 2,5 mil policiais para cumprir 69 mandados de prisão. O que se viu foi o crime organizado resistindo, contra-atacando, lançando bombas de drones e demonstrando sua força de mobilização — num processo degradante de ampliação territorial. Muito disso é consequência dos cinco anos de vigência da ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635), ação protocolada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).

A medida impôs limitações e dificultou operações nas comunidades controladas por facções, com o objetivo de reduzir a letalidade policial.

Especialistas apontam que, com a menor presença das polícias, ocorreu o previsível: o crime expandiu seu território.

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Mas claro que não é só isso. É um combo: governos corruptos, avanço das milícias, serviços públicos precários, ausência de oportunidades, impunidade, um sistema penal falido e progressões de pena que afrontam o bom-senso. É preciso rever tudo. Priorizar escolas e serviços de qualidade nas comunidades, treinar bem, fornecer equipamentos adequados, melhorar a formação do policial e valorizar sua profissão — com corregedorias realmente empoderadas.

A desgraça brasileira é que o jogo de empurra já começou. A transferência de responsabilidades é regra. Vivemos uma desintegração entre estados, municípios e governo federal. Falta integração de dados e de ações. Agora, a PEC da Segurança Pública surge como salvação. Não é. Pode trazer alguns avanços na integração de informações, mas vem cercada de pontos polêmicos e controversos.

Entretanto, como medida isolada, não vai resolver.

O carioca chegou a ter um pouco de esperança em 2008, com o início das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Mas uma iniciativa que começou bem acabou naufragando — talvez por falta de fôlego, de continuidade e por falhas de execução.

Não é à toa que segurança pública é a maior preocupação dos brasileiros.

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