Sidney Machado, o popular Chopp, é um dos mais experientes e vitoriosos diretores de Harmonia do Carnaval brasileiro. Foi ele quem o Diário Catarinense foi ouvir para falar de um dia triste para o mundo do samba. E veio dele uma das mais profundas declarações de respeito a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, 78 anos, que morreu na manhã desta sexta-feira (18), no Rio de Janeiro, por complicações da Covid-19:

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– O único diretor de Harmonia do país que eu sempre acreditei de olhos fechados foi em Laíla. Lalá, como os amigos o chamavam, sabia do andamento, do canto e da bateria como ninguém.

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Chopp é reconhecido como um profissional também exigente e supercampeão, com passagens em agremiações como Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense, Império Serrano, Mangueira, Portela. Em Florianópolis, já esteve à frente da União da Ilha da Magia.

Foram 15 anos de amizade e títulos de campeões em escolas diferentes. Mas a dupla Chopp e Lalá conquistou grande sucesso nos tempos da Beija-Flor. Em quatro anos (2013 a 2016) foram três títulos.

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– Eu falei com Lalá na segunda-feira, e ele estava bem. Hoje, estava vendo TV ao meio-dia, e deu a notícia. Minha pressão foi a 20, pois perdi um grande amigo feito no mundo do samba, e isso para nós tem um valor imenso – emociona-se Chopp.

Laíla era conhecido como Rei da Harmonia. Com o parceiro Joãosinho Trinta fez o desfile antológico do Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia (Beija-Flor, 1989). Laíla era também marrento, mas existe uma certeza: gostassem ou não do jeito dele, era louco quem duvidasse da sua capacidade de colocar a funcionar engrenagem de uma escola na avenida. É deles uma das maiores inovações. Em 2002, levou o casal de mestre-sala e porta-bandeira para a parte inicial da escola.

– Parecia uma loucura, mas ele me convenceu. Acabou aquela história de casal desfilar à frente da bateria – reconhece Chopp.

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“Parou um ensaio com 7 mil pessoas porque não havia sintonia”

A reportagem também quis saber como a morte de Laíla, para alguns chamado de ‘Romário do Carnaval” pelo jeito genioso, foi sentida em Florianópolis.

–  Certa vez, vi na quadra da Beija-Flor ele parar um ensaio com 7 mil pessoas porque não havia sintonia entre o canto dos componentes e o Grupo Musical – recorda o jornalista Vandrei Bion, que acompanha o Carnaval do Rio de Janeiro e todos os anos desfila na Marquês do Sapucaí.

Bion lembra que Laíla foi um profissional gabaritado, o qual começou a revolucionar os desfiles nos anos 60, no tempo das Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, ao lado de Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Rosa Magalhães e Joãosinho Trinta.

Laíla
Vandrei Bion (de amarelo) tem boas memórias para contar sobre Laíla (E) (Foto: Arquivo Pessoal)

“Inspiração e referência às escolas de samba”

– Está é uma sexta-feira de muita tristeza para o mundo do samba, pois vivemos uma perda irreparável – diz Joel da Costa Júnior, ex-presidente da União da Ilha da Magia e da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis. Para Joel, Laíla foi uma figura ímpar na construção e na identidade do desfile das escolas de samba:

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– No meu caso, foi o responsável direto por me servir de inspiração e referência no período que estive na função de diretor de carnaval da UIM, entre os anos de 2008 e 2014. Perdemos um gênio e isso significa o fim de uma era que não se repetirá, ficando o legado.

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“A comunidade o compreendia pelo olhar”

Laíla foi considerado um gestor do Carnaval.

– Ele pensava, planejava e desfilava de acordo com o imaginado – diz Laerte Arlindo de Matos, o Leleco, presidente da Unidos da Coloninha a partir de 2009.

Naquele período, as relações da ‘Gigante do Continente’ com a azul e branca de Nilópolis se estreitaram ainda mais com a possibilidade da Beija-Flor ter um enredo sobre a Ilha da Magia. Laíla esteve junto com a diretoria e comissão de carnaval da Beija-Flor para tratar do assunto na prefeitura, mas quem acabou ficando com o tema foi a Grande Rio. Leleco também esteve várias vezes na quadra da Beija Flor e assistiu ensaios técnicos na Sapucaí:

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– Laíla era um profissional objetivo. A comunidade o compreendia pelo olhar.

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Um revolucionário dos desfiles

Cesar Nunes, o Cesinha, é compositor e tem histórico como diretor de harmonia em diferentes escolas de samba de Florianópolis. Para ele, Laíla foi um revolucionário dos desfiles carnavalescos:

– Laíla era um disciplinador, um perfeccionista do segmento, o qual foca no canto da escola entrosando com a bateria e o carro do som, e na evolução, que é a dança – diz ele.

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