O prefeito de Blumenau, Egidio Ferrari (PL), concedeu entrevista nesta terça-feira (11) à apresentadora Patrícia Silveira, da NSC TV, sobre os dois primeiros meses de mandato. Entre os assuntos em pauta estão os contratos da merenda, da roçada, transporte coletivo, abordagem a moradores de rua, entre outros. Um dos temas trazidos à tona, por exemplo, foi a questão de climatização dos ônibus. Segundo Ferrari, “acabou essa história de ônibus sem ar-condicionado”, ao se referir à renovação da frota. Confira a conversa e como o chefe do Executivo avalia os pouco mais de dois meses à frente da maior cidade do Vale do Itajaí.

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Confira a entrevista

Qual a avaliação do senhor desses dois primeiros meses de mandato? 

Bom, primeiro quero dizer que é um grande, uma grande honra, né? Essa oportunidade de poder cuidar da nossa cidade, fazer a gestão do município de Blumenau. O município com tanta importância, com destaque nacional, não apenas nosso Estado. Eu e todos os servidores estamos muito motivados, desafios acontecem todos os dias. É como dizem de vez em quando, né? Matar um leão por dia. Temos grandes desafios, mas isso está me dando motivação para que a gente coloque o nosso DNA, as nossas ideias, tudo aquilo que a gente discutiu em campanha, que decidiu com a população. Então é um grande desafio, mas ao mesmo tempo é bastante gratificante poder cuidar da nossa cidade de Blumenau. 

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As prioridades que o senhor citou na campanha seriam saúde e educação. Nesses dois primeiros meses isso se manteve, ou o senhor identificou alguma mudança necessária aí nas prioridades? 

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Saúde e educação é o básico que a população precisa ter e precisamos cada vez mais investir nisso. Na educação nós tivemos a entrega, no início do ano, dos uniformes escolares, dos kits de material, e isso para as famílias já dá um alento, uma diferença muito grande no orçamento familiar. Tivemos aumento de alunos na rede municipal, de outras cidades e até da rede estadual, vindo justamente por conta do material escolar e do uniforme. Na saúde nós temos trabalhado na qualidade do atendimento. Eu falava isso durante a campanha porque as pesquisas mostravam que as pessoas buscavam mais do que atendimento e, sim, qualidade no atendimento. As pessoas precisam se sentir acolhidas. Sobre a dengue, nós tínhamos uma previsão bastante preocupante de casos para 2025, só no ano passado perdemos 39 vidas, e todas as nossas ações de emergência feitas pelos servidores colheram os frutos, evitando mortes e cuidando da saúde das pessoas.

Prefeito, o senhor teve nesse início de ano aí no governo um problema em contratos importantes, né? Por exemplo, da merenda escolar e da roçagem. Como é que está essa situação vocês conseguiram resolver? 

Na merenda, até para as pessoas entenderem, quando a gente assume a gestão o contrato não tinha mais quantitativo. Ou seja: começaria o ano sem merenda, sem comida para as crianças. Então fizemos consultas, conversas com o Tribunal de Contas, e eu não poderia continuar esse contrato, aditivá-lo, porque seria um aditivo maior do que o previsto em lei. Então tivemos que rescindir o contrato com a empresa que estava prestando esse serviço e fazer um novo contrato, que precisou ser emergencial por conta do prazo. No início tivemos, sim, alguns pontos, porque todas as pessoas tiveram de ser contratadas, logística montada. Todas as decisões judiciais garantiram que a nossa decisão foi correta. Na primeira semana tivemos questões pontuais, sim, isso inclusive foi esclarecido para o Ministério Público, mas hoje os serviços estão sendo prestados da melhor maneira possível, com qualidade, e com a licitação em andamento para aí sim escolher a empresa. 

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E sobre as roçadas?

Nós não tivemos também a continuidade desses contratos. Temos alguns problemas: no final do ano as empresas que nos prestavam esse serviço disseram que tiveram de dar férias para os funcionários e que falta mão de obra. Existem hoje muitas vagas de emprego em aberto e tinha essa dificuldade em contratar as pessoas. Eu quero mecanizar esse trabalho, justamente para que a gente traga tecnologia para os sistemas de roçada. Claro que demora um pouco, licitações demoram quatro, cinco meses até que se acertem, mas colocando isso em ordem a população vai sentir a diferença nas ruas.

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(Foto: NSC TV, Reprodução)

Aqui no Estado o senhor foi um dos primeiros prefeitos a fazer a abordagem às pessoas em situação de rua. Para onde que essas pessoas foram levadas, como é que foi esse acolhimento após a abordagem e qual é o balanço que o senhor faz dessa operação?

Nossa cidade é uma cidade de pleno emprego. Decidi abordar essas pessoas nas ruas para trazê-las à dignidade. Temos pessoas morando na rua consumindo bebida alcoólica, viciadas em drogas, sem contar aquelas que para conseguir pagar pelo vício ainda cometem crimes. Então resolvemos ir às ruas com uma força-tarefa com polícias, secretarias, para dizer a essas pessoas que Blumenau tem condições de tirá-las das ruas. Nós temos o nosso Centro Pop, temos os ambientes que eles podem ir para tomar banho, tomar café, clínicas conveniadas para fazer tratamento contra álcool e drogas, e com isso eu consigo provar à sociedade que não há motivo para que essas pessoas permaneçam nas ruas. Antes de iniciar essas abordagens a gente fez um levantamento e, para se ter uma ideia, a grande maioria dessa população é formada por homens com idade entre 22 e 34 anos. Essas pessoas precisam ser resgatadas das ruas para voltar ao convívio familiar e para voltar a ter dignidade. Quero resgatar essas pessoas. Com isso a gente consegue cuidar da pessoa e do coletivo. Chega dessa história de “ah, ela tem o direito de permanecer na rua”. Mas esse direito termina quando começa o dos outros. Quando as famílias começam a passar pelos locais, por exemplo, em que essas pessoas fazem as necessidades… Nós não temos a obrigação de conviver com isso. Isso tudo me fez montar essa força-tarefa e é um trabalho contínuo. Não tem data para terminar. Há dificuldade, alguns não querem tratamento, mas já temos bons resultados, como de um homem de 29 anos que ficava embaixo da ponte na praça do Biergarten. Ele estava há nove anos morando na rua e a nossa abordagem conseguiu convencê-lo a ir para o Centro Pop. Ele foi lá, tomou banho, se alimentou, está fazendo tratamento, já fez contato com a família que é de Indaial. A irmã vem visitá-lo e logo, logo quem sabe ele volte ao convívio familiar. Isso já dá esperança e motivação para que a gente continue esse trabalho. Mas com alguns temos de ser mais enérgicos. No primeiro dia de abordagem um deles não quis tratamento, era um cara com 30 passagens policiais, e uma hora depois foi preso pela Polícia Militar por furto. E foi parar onde? No Presídio Regional de Blumenau. 

O senhor pretende, então, implantar a internação compulsória em Blumenau? 

Sim, com apoio inclusive do Ministério Público, com apoio do Judiciário. Nós fizemos já uma internação compulsória há cerca de 10 dias, de uma mulher que eu conheci pessoalmente no bairro da Itoupavazinha. Ela vivia o dia inteiro sob efeito de drogas, já cometeu pequenos furtos para poder bancar esse vício, e ficava pedindo dinheiro, abordando pessoas. Famílias tinham medo. Seguimos todo o trâmite, os médicos deram o laudo de que somente com o tratamento é que ela poderia ser salva, e aí fizemos a internação involuntária. 

Mudando de assunto, agora falando de mobilidade urbana, que é um dos eixos do SC Ainda Melhor. O que que o senhor já fez nesse início de ano em relação ao transporte coletivo, para melhorar o fluxo aqui na cidade? 

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Para melhorar a mobilidade nós precisamos investir no transporte coletivo. A média de veículos por habitante é altíssima aqui em Blumenau e a gente não consegue sair por aí abrindo ruas ou construindo viadutos. Em um momento ou outro, vai travar. Para que as pessoas usem mais o transporte coletivo, ele precisa ser agradável. O primeiro ponto é que todos os ônibus que estão sendo adquiridos para substituir outros precisam, por minha determinação, ter ar-condicionado. Acabou a história de ônibus sem ar-condicionado. Já fizemos mais de 130 intervenções, seja novas linhas ou ajuste de linhas, conforme a população pede. Tem todo o investimento com segurança nos ônibus, câmeras. Daqui a pouco vamos lançar aplicativos até para a população monitorar os ônibus, ver se está próximo ou não, e onde ela também pode saber se aquele ônibus tem mais lugares, menos gente dentro. Queremos dar comodidade. Estou cobrando muito isso: precisamos de tecnologia. Sabemos que a empresa (Blumob) precisa ter equilíbrio financeiro, mas as pessoas precisam utilizar o transporte para que esse equilíbrio aconteça. O interesse sempre é da população. Não é da prefeitura. É daqueles que usam o transporte coletivo no dia a dia. Estamos estudando, por exemplo, formas de fazer concessões dos terminais de ônibus para que as empresas privadas possam explorar esses locais e aí diminuir o recurso que a prefeitura faz à empresa. De qualquer forma a gente paga a conta: seja aumentando a tarifa, seja a prefeitura tendo que fazer o subsídio. O transporte coletivo precisa de investimento porque é o que vai melhorar a mobilidade urbana.

Em relação aos alagamentos. Como diminuir o impacto das chuvas, como por exemplo no verão, que terminam com ruas alagadas?

É um grande desafio. Nós temos projetos feitos e recursos captados já para grandes obras em todas as regiões que são afetadas pelas chuvas. Essas obras demoram um pouco, dependem de licenças, da liberação desses projetos por outros órgãos, enfim. Vou citar uma obra já prevista na Itoupava Norte, que foi uma região que sofreu neste início do ano, nós vamos fazer uma grande galeria na Rua 2 de Setembro, Santa Efigência, 25 de Julho, 1º de Janeiro… Várias ruas. Estamos investindo nessas grandes obras. Isso vai impactar o trânsito, óbvio. Investimos nos diques também. Governo do Estado já repassou só neste ano R$ 15 milhões para reparação e melhoria dos diques. O que acontece? Muitas vezes o equipamento fica parado por muito tempo e quando precisa ele não vai funcionar. Estamos batendo muito nessa questão da manutenção, de testes periódicos, para garantir que quando preciso ele funcione. Agora… A chuva que aconteceu naqueles episódios foi o mesmo volume daquela vez na década de 1990 quando mais de 20 pessoas morreram naquela tragédia do Garcia. Foi uma chuva muito concentrada e aí não há galeria que dê conta. Depois, claro, vem a recuperação e nós fazemos rapidamente, Cito como exemplo a Rua Fiedes Deeke, na Itoupava Seca. A galeria sumiu e abriu uma cratera na rua. Para resolver precisaria de uma licitação para obra… Eu fiz um decreto de emergência, já aprovado pela Defesa Civil do Estado, para dispensar a licitação, e já iniciar as obras para refazer aquela galeria e arrumar.

E saneamento básico?

Grandes obras estão previstas para o Samae. Estamos tratando o Samae com muita responsabilidade, com investimentos nas estações de tratamento, construção de uma nova que está em andamento e fica pronta este ano, e com outras intervenções para melhorar captação e distribuição da água. Ontem (dia 10) o Samae apresentou inclusive uma proposta de compliance, com código de ética dos servidores, e a população vai poder acompanhar de perto tudo que está sendo feito no Samae, com total transparência de onde esses recursos estão indo. Nossa ideia este ano é com a construção da Eta 5 e o início das obras da ETA 2, que nós vamos mais do que duplicar a produção. Com isso a gente espera resolver o problema de captação e abastecimento de água em Blumenau nos próximos 30 anos. É ousado, mas é assim que eu encaro a gestão pública. Fui eleito não por quatro anos, mas para uma geração inteira.

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