Doações feitas por meio da fatura da Celesc ajudam 530 instituições em Santa Catarina. Os valores arrecadados vão para entidades como hospitais, clínicas e quartéis de bombeiros. A revelação da fraude no sistema, na última sexta-feira (5), gera preocupação entre as instituições beneficiadas regularmente e de forma legal pelo sistema, porque elas dependem das doações para manter serviços essenciais.

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Em Joinville, cidade do Norte catarinense, a Fundação Pró-Rim é uma das instituições que são beneficiadas com as contribuições. De todo o faturamento atual da Pró-Rim, cerca de 30% vem das doações feitas por meio da fatura de energia da Celesc. Para o presidente da fundação, Maycon Truppel, as contribuições são fundamentais para a manutenção da entidade e continuidade do tratamento de mais de mil pacientes.

Veja fotos da Pró-Rim

Como funciona doação via Celesc

O modelo de contribuição da estatal existe desde 1995 em Santa Catarina e é a principal fonte de arrecadação para diferentes entidades. Cada uma delas pode terceirizar uma empresa de central de atendimento para coletar donativos por meio de ligações. Esse é o caso das instituições que descobriram que eram fraudadas, por exemplo, conforme informações levantadas pela investigação da Polícia Civil.

Já a Pró-Rim conta com uma central telefônica própria há mais de 20 anos. De acordo com o presidente da fundação, são mais de 100 operadores que atuam para captar recursos.

— Existe uma particularidade até mesmo de Santa Catarina, 70% dos serviços prestados na área de saúde são com instituições filantrópicas como a Pró-Rim. Então, esse recurso é essencial, não só para a Pró-Rim, mas para todas as instituições e hospitais do nosso Estado. Assim como é o Corpo de Bombeiros Voluntários aqui de Joinville — afirma Maycon.

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As doações garantem o atendimento de mais de mil pacientes em seis cidades do Estado: Balneário Camboriú, Jaraguá do Sul, Joinville, Mafra, Palhoça e São Bento do Sul. Todo o tratamento oferecido é gratuito, já que a fundação não tem fins lucrativos e é vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

No caso do Hospital Bethesda, uma das instituições fraudadas pelo esquema criminoso, o serviço era realizado por uma empresa terceirizada. Segundo a Polícia Civil, a fraude ocorria dentro e fora de Santa Catarina. Além da entidade de Joinville, pelo menos outras duas foram vítimas do grupo em Blumenau e Brusque.

O prejuízo do golpe, estimado em R$ 4 milhões, preocupa entidades e também moradores do Estado. Aproximadamente sete mil consumidores foram lesados em apenas dois anos e meio de esquema criminoso, de acordo com a Polícia Civil.

Após a descoberta do golpe e mudanças na forma de receber doações, o diretor executivo do Hospital Bethesda, Lucio Slovinski, pede à comunidade que continue contribuindo com as entidades da região.

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— A gente utiliza desse dinheiro para custear serviços como o pronto-socorro, por exemplo. Ali tem três médicos atendendo, 40 funcionários da enfermagem, vigia, recepção, computador, internet, luz — relata.

Como doar para a Fundação Pró-Rim

O site oficial da Pró-Rim lista uma série de formas que a comunidade de Santa Catarina pode realizar uma doação. As contribuições podem ser feitas por Pix, boleto bancário, doação de alimentos e roupas, e até mesmo pelo aplicativo PicPay. Além disso, a fundação lista os números que são utilizados pela central telefônica para angariar doações.

Como funcionava esquema criminoso

A empresa terceirizada investigada por desviar doações feitas na fatura da Celesc era contratada por pelo menos 15 entidades, que foram vítimas do esquema. No dia 5 de setembro, a operação Falso Samaritano prendeu o empresário Slaviero Mario Bunn, responsável pela Slaviero Benefits.

A empresa joinvilense, alvo da operação, se define como especialista em captação de recursos para Instituições Filantrópicas e contratou o serviço oferecido pela Celesc para receber as doações por meio das faturas de energia elétrica.

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Em 2016, a Slaviero estabeleceu o primeiro contrato com Hospital Bethesda de Joinville, prejudicado pelo esquema de estelionato. Segundo a Polícia Civil, a empresa funcionava como uma terceirizada, que ligava para potenciais doadores que aceitam fazer doações à instituições por meio de cobranças em fatura.

O mesmo modelo de convênio é adotado com diversas entidades, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, APAEs, Rede Feminina de Combate ao Câncer, hospitais filantrópicos, Legião da Boa Vontade, entre outras.

Segundo o Hospital Bethesda, uma das vítimas do esquema, o fluxo do repasse dos recursos acontece diretamente da Celesc para a instituição a receber o pagamento das doações arrecadadas. Para que aconteça esse repasse, cada empresa é identificada por códigos, para organização interna pela companhia de energia.

No entanto, a terceirizada contratada pelo Bethesda repassava códigos diferentes daqueles correspondentes às instituições que deveriam receber as doações. Ou seja, a empresa intermediadora fazia o contato com os doadores, recebia os dados em nome do Bethesda, mas ao enviar a lista para a arrecadação na fatura da energia elétrica, o código correspondia a outra instituição, que recebia valores de maneira indevida.

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Veja imagens da operação

Assim, uma outra instituição de Joinville, recebia de forma fraudulenta as doações que deveriam ser destinadas às instituições filantrópicas. Além disso, a empresa também burlou o sistema da Celesc para inserir cobranças não autorizadas pelos consumidores.

Por meio de nota, a Celesc afirmou que não participa da gestão nem da destinação dos recursos arrecadados. Além disso, destacou que atua apenas como meio de arrecadação em doações via fatura de energia, repassando integralmente os valores autorizados pelos consumidores às entidades conveniadas, como bombeiros voluntários, APAEs e outras instituições que prestam serviços essenciais à sociedade.

A reportagem do NSC Total buscou contato com a defesa dos presos pela operação, mas não obteve retorno. O espaço permanece aberto.

*Com informações de Walter Quevedo, NSC TV.

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